
Os ftalatos e os bisfenóis são comumente usados como aditivos plásticos, empregados em embalagens de alimentos e luvas descartáveis utilizadas em seu preparo. Fotografia: Paul Weston/Alamy
10 dez 2025
[Nota do Website: Nada mais dramático do que chegarmos somente agora, depois de 35 anos, que Theo Colborn, a quem homenageamos com nosso website, além de Ana Soto e tantos e tantos outros cientistas de todo o hemisfério norte, terem denunciado essas mesmas moléculas sobre os efeitos que só hoje se afirma como perigosíssimos. Nosso website vem há mais de 20 anos trazendo informações sobre esses disruptores endócrinos quanto aos seus efeitos malévolos. Infelizmente só neste momento com os resultados explícitos sobre nossas crianças, que o mundo científico reconhece o que há décadas. Triste!].
Cientistas emitem alerta urgente sobre substâncias químicas que comprovadamente causam câncer e infertilidade, além de prejudicarem o meio ambiente.
Cientistas emitiram um alerta urgente de que alguns dos produtos químicos sintéticos que sustentam o sistema alimentar atual estão impulsionando o aumento das taxas de câncer, distúrbios do neurodesenvolvimento e infertilidade, ao mesmo tempo que degradam os alicerces da agricultura global.
O impacto na saúde causado por ftalatos, bisfenóis, agrotóxicos e PFAS, os chamados “químicos eternos/forever chemicals“, chega a US$ 2,2 trilhões por ano – aproximadamente o mesmo que os lucros das 100 maiores empresas de capital aberto do mundo, segundo relatório divulgado na quarta-feira.
A maior parte dos danos aos ecossistemas permanece sem preço definido, afirmam, mas mesmo uma contabilização restrita dos impactos ecológicos, levando em conta as perdas agrícolas e o cumprimento das normas de segurança da água para PFAS e agrotóxicos, implica um custo adicional de US$ 640 bilhões. Há também consequências potenciais para a demografia humana, com o relatório concluindo que, se a exposição a disruptores endócrinos como bisfenóis e ftalatos persistir nos níveis atuais, poderá haver entre 200 milhões e 700 milhões de nascimentos a menos entre 2025 e 2100.
O relatório é fruto do trabalho de dezenas de cientistas de organizações como o Instituto de Saúde Preventiva, o Centro de Saúde Ambiental, a Chemsec e diversas universidades dos EUA e do Reino Unido, incluindo a Universidade de Sussex e a Universidade Duke. A equipe principal do projeto foi liderada pela Systemiq, uma empresa que investe em empreendimentos voltados para o cumprimento dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU e do Acordo de Paris sobre Mudanças Climáticas.
Os autores afirmaram que se concentraram nos quatro tipos de substâncias químicas examinadas porque “elas estão entre as mais prevalentes e mais bem estudadas em todo o mundo, com fortes evidências de danos à saúde humana e ecológica”.
Um dos membros da equipe, Philip Landrigan, pediatra e professor de saúde pública global no Boston College, classificou o relatório como um “alerta”. Ele afirmou: “O mundo precisa acordar e fazer algo a respeito da poluição química. Eu diria que o problema da poluição química é tão sério quanto o problema das mudanças climáticas.”
A exposição humana e dos ecossistemas a produtos químicos sintéticos aumentou drasticamente desde o fim da Segunda Guerra Mundial, com a produção química aumentando mais de 200 vezes desde a década de 1950 e mais de 350.000 produtos químicos sintéticos atualmente no mercado global.
Há três anos, pesquisadores do Centro de Resiliência de Estocolmo (SRC) concluíram que a poluição química havia cruzado um “limite planetário”, o ponto em que as alterações provocadas pelo homem na Terra a empurram para fora do ambiente estável dos últimos 10.000 anos, período em que a civilização humana moderna se desenvolveu.
Ao contrário dos produtos farmacêuticos, existem poucas medidas de segurança para testar a eficácia dos produtos químicos industriais antes de serem utilizados, e o monitoramento dos seus efeitos após o uso é mínimo. Alguns demonstraram ser extremamente tóxicos para humanos, animais e ecossistemas, obrigando os governos a arcar com os custos.
Este relatório avalia o impacto de quatro famílias de substâncias químicas sintéticas endêmicas na produção global de alimentos. Os ftalatos e os bisfenóis são comumente usados como aditivos plásticos, empregados em embalagens de alimentos e em luvas descartáveis utilizadas no preparo de alimentos.
Os agrotóxicos são a base da agricultura industrial (nt.: conhecida no mundo como ‘agribusiness’ ou agronegócio entre nós), com grandes fazendas de monocultura pulverizando milhares de litros de produtos químicos nas plantações para eliminarem ervas daninhas (nt.: normalmente ervas nativas. Para se conhecer como conviver com elas e aumentar a produção, ver os link 1 e 2) e insetos, e muitas culturas sendo tratadas após a colheita para manter o frescor.
Os PFAS (nt.: para se saber o que são esses venenos, ver o link) são utilizados em materiais que entram em contato com alimentos, como papel impermeável a gordura, embalagens de pipoca e caixas de sorvete, mas também se acumularam no meio ambiente a tal ponto que chegam aos alimentos por meio da contaminação do ar, do solo e da água.
Pode-se ter as legendas em português
Todas foram associadas a danos como disfunção endócrina (sistema hormonal), câncer, defeitos congênitos, deficiência intelectual e obesidade.
Landrigan afirmou que, durante sua longa carreira em saúde pública pediátrica, observou uma mudança nas condições que afetam as crianças. “A quantidade de doenças e mortes causadas por doenças infecciosas como sarampo, escarlatina e coqueluche diminuiu bastante”, disse ele. “Em contrapartida, houve um aumento incrível nas taxas de doenças não transmissíveis. E, claro, não há um único fator… mas as evidências são muito claras de que a exposição crescente a centenas, talvez até milhares, de substâncias químicas fabricadas é uma causa muito importante de doenças em crianças.”
Landrigan afirmou estar mais preocupado com “os produtos químicos que danificam o cérebro em desenvolvimento das crianças e, portanto, as tornam menos inteligentes, menos criativas e menos capazes de contribuir para a sociedade ao longo de toda a sua vida”.
“E a segunda classe de substâncias químicas que realmente me preocupa são as substâncias disruptoras endócrinas”, acrescentou. “O bisfenol seria o exemplo clássico, que entra no corpo das pessoas em todas as idades, danifica o fígado, altera o metabolismo do colesterol e resulta em aumento do colesterol sérico, aumento da obesidade, aumento do diabetes e, internamente, aumenta as taxas de doenças cardíacas e AVC.”
Questionado se o relatório poderia ter analisado outros grupos de substâncias químicas estudados, Landridge disse: “Eu diria que elas são apenas a ponta do iceberg. Estão entre o número muito pequeno de substâncias químicas, talvez 20 ou 30, para as quais realmente temos informações toxicológicas sólidas.”
“O que me assusta demais são os milhares de produtos químicos aos quais estamos expostos diariamente, sem sabermos nada sobre eles. E enquanto um deles não causar algo óbvio, como crianças nascendo com membros faltando, vamos continuar nos expondo sem pensar.”
Tradução livre, parcial, de Luiz Jacques Saldanha, dezembro de 2025