Globalização: O gênero “simpatizante nazista da porta ao lado” ganha mais uma edição.

(Imagem: Adobe Stock)

https://www.truthdig.com/articles/the-nazi-sympathizer-next-door-genre-gets-another-installment/

Julie Hollar 

08 dez 2025

[Nota do Website: Estamos num tempo onde as definições de posturas ideológicas e doutrinárias devem ser bem claras e explícitas para se saber com que estamos lidando. Essa matéria traz essa necessidade de clareza e objetividade para que as verdades se explicitem].

O problema do The New York Times não é que ele não tenha investigado a fundo a psique da extrema-direita — é que ele se recusa a parar de normalizá-la.

Na mais recente edição de perfis midiáticos simpáticos ao “Simpatizante nazista da porta ao lado“, o New York Times oferece um artigo com mais de 3.000 palavras sobre William Hendrix, um dos 12 líderes estaduais do Partido Republicano cujas mensagens de bate-papo em grupo, repletas de preconceito e violência, foram vazadas e divulgadas em outubro pelo Politico, resultando em uma indignação nacional.

Sob o título “Como um republicano do Kansas se tornou parte de um grupo de bate-papo racista e antissemita”,  Sabrina Tavernise  e Georgia Gee, do The New York Times, traçam o perfil de Hendrix, de 24 anos, que perdeu o emprego na Assembleia do estado do Kansas em decorrência de um escândalo. Os leitores são apresentados inicialmente a uma foto de Hendrix com semblante pensativo, vestindo um terno azul-marinho com um broche da bandeira americana na lapela, acompanhada da legenda: “William Hendrix, que não havia se pronunciado publicamente sobre o grupo de bate-papo até então, disse estar chocado com a intensidade da repercussão e as consequências em sua vida.”

Uma foto posterior mostra Hendrix olhando pela janela do carro para a Assembleia, “onde ele trabalhou certa vez”.

Descrito em vários momentos como “ambicioso”, “jovem” e “vítima de bullying por causa do seu peso” na escola, Hendrix tem ampla oportunidade para se explicar, com apenas uma leve resistência por parte do Times. Enquanto isso, o resto do seu partido é amplamente exonerado de qualquer responsabilidade pela sua própria radicalização. Como apontei na FAIR ao abordar uma versão anterior deste fenômeno no Times, o problema que os jornalistas devem enfrentar não é o de não terem investigado a fundo a psique da extrema-direita; é o de se recusarem a parar de a normalizar.

‘Parecia um exagero’

O artigo pretendia ser uma tentativa de compreender como Hendrix se politizou como um ativista de extrema-direita. Traçava a vida de Hendrix desde sua infância “precária” com um pai democrata, até sua decisão de que, quando seus colegas criticavam o presidente Donald Trump por racismo, “tudo parecia um exagero”.

Hendrix teve ampla oportunidade de se explicar, recebendo apenas leves críticas do Times.

Ele entrou para o jornal da escola e cobriu uma aparição de Trump em Topeka; quando Trump apontou para a imprensa e os chamou de “notícias falsas”, Hendrix ficou impressionado, dizendo: “Isso é algo que eu só o vi fazer na TV, e agora ele está fazendo isso para mim.”

Ao conhecer Alex Dwyer — então líder dos Jovens Republicanos do Kansas, fã do nacionalista branco e negacionista do Holocausto Nick Fuentes e futuro membro do infame grupo de bate-papo — Hendrix disse: “Nos demos muito bem”. O Times explicou: “O Sr. Dwyer era mais velho e mais experiente, mas o Sr. Hendrix disse que viu uma motivação semelhante: defender a classe trabalhadora”.

Veja bem, a ligação entre eles é baseada em boas intenções, não em rancor.

‘Um termo carinhoso’

Na reportagem da Politico, Hendrix foi apontado pelo uso frequente do termo racista “N-word” (nt.: “n word” é um termo eufemístico para a palavra em inglês “nigger”, que é considerada a ofensa racial mais potente, histórica e inaceitável da língua inglesa) no grupo de bate-papo e por seus insultos raciais: “O cara tá num restaurante de frango pedindo a comida dele”, escreveu ele no chat. “Ele quer melancia e Kool-Aid com isso?”

O jornal The Times relatou esses detalhes e ofereceu o ponto de vista de Hendrix:

Olhando para trás, o Sr. Hendrix percebe como suas mensagens poderiam ser ofensivas. Mas ele disse que não era essa a sua intenção. O grupo, segundo ele, estava trocando farpas, como estalos de toalha em um vestiário.

“Estávamos a gozar um com o outro”, disse ele. “Quem consegue ser mais ridículo que o outro?”

Segundo ele, essa era a quebra de tabus da sua geração. Ele afirmou que jamais usaria essa linguagem com alguém que não conhecesse ou de quem não gostasse, mas que dizê-la a um amigo próximo lhe parecia transgressor e divertido. Ele ressaltou que a pessoa a quem estava insultando com a linguagem racista era branca e um amigo.

O Sr. Hendrix disse que o termo racista “N-word” era usado o tempo todo em sua escola de ensino fundamental e médio, predominantemente negra e hispânica, e entre jogadores de videogame. Ele argumentou que o “er” pronunciado com força no final era um termo racista, e que sua grafia — com um “uh” ou “a” suave no final — era um termo carinhoso.

Você poderia imaginar citar um racista impenitente defendendo o uso de insultos raciais dessa forma para responsabilizá-lo, refutando imediatamente seu argumento absurdo e interesseiro. Mas não foi isso que o Times fez. Em vez disso, optou por citar dois organizadores “de esquerda” que trabalham com comunidades online, afirmando que “a linguagem é muito mais comum do que as pessoas pensam” e que “pode ​​ajudar membros ansiosos por agradar o grupo a se integrarem”.

‘Mais jovem, mais rebelde’

O artigo finalmente “equilibrou” todos esses parágrafos observando que “as palavras têm significado, e o Sr. Hendrix estava se inclinando para algo que também era bastante perigoso”, apontando para uma referência neonazista feita por Dwyer no chat. Mas essa breve reação terminou com Hendrix dizendo: “Esse não é o Alex que eu conheço”.

Anteriormente no artigo, Tavernise e Gee chamaram o “quadro completo” da história — não apenas aquele contado pelo próprio Hendrix, ao qual dedicaram grande parte do seu tempo — de “mais preocupante”, um quadro no qual “uma geração mais jovem e rebelde de ativistas que cresceu online… está trazendo a linguagem e as ideias que encontram lá para o ativismo republicano”.

O artigo descrevia Dwyer e seus amigos extremistas como “irreverentes”.

“Se a linguagem for repetida com frequência suficiente, isso gera insensibilidade às ideias por trás dela e pode até contribuir para a radicalização”, afirmou o Times. Trata-se de uma crítica bastante vaga e branda, considerando que “a linguagem” da qual falam, mas que não nomeiam explicitamente, é discurso de ódio — um termo que não consta no artigo de 3.000 palavras.

O artigo descrevia Dwyer e seus amigos extremistas como “irreverentes” e citava um colega republicano dizendo sobre a linguagem nacionalista branca usada por alguns de seus pares: “É difícil porque algumas dessas pessoas falam sério, e outras não”. Só para lembrar, ele está falando de pessoas que dizem coisas como “Eu amo Hitler”, se referem a pessoas negras como macacos e “brincam” sobre mandar pessoas para a câmara de gás (tudo isso aconteceu no grupo de bate-papo).

Embora tenha dado a Hendrix uma recepção amplamente favorável, o Times também o retratou como um dissidente de seu partido. O artigo afirmou que “muitos” republicanos proeminentes do Kansas ficaram “atônitos” com o vazamento do bate-papo em grupo. Vários líderes republicanos em nível estadual foram citados falando sobre como trabalharam para erradicar nacionalistas brancos. (Como o Times não mencionou, Hendrix trabalhava para o Procurador-Geral do Kansas, Kris Kobach, um nativista declarado há décadas.)

‘Toda a minha vida desmoronou’

Mas, quanto ao preconceito descarado e ostensivo que vem do topo da hierarquia, o Times mal se dá ao trabalho de analisá-lo. A única menção ao papel de Trump  no aumento do preconceito em seu partido aparece cerca de 20 parágrafos depois:

Não ajuda o fato de o presidente Trump ter ultrapassado limites. Em 2022, ele jantou com Nick Fuentes, o declarado racista e antissemita. E o Sr. Trump recentemente defendeu o apresentador de televisão Tucker Carlson por sua entrevista simpática com o Sr. Fuentes.

Uma frase também mencionou a defesa que o vice-presidente JD Vance fez dos participantes do grupo de bate-papo:

O vice-presidente JD Vance , que tem se dedicado a dialogar com jovens, publicou que se recusava a “entrar na onda de indignação” em relação ao que eram essencialmente “piadas ofensivas e ousadas” feitas por “crianças”.

O texto terminou retomando o ponto de vista de Hendrix:

Até hoje, o Sr. Hendrix ainda está tentando assimilar o que aconteceu.

Ele perdeu um emprego que adorava. Republicanos proeminentes do estado o denunciaram. Foi inundado por mensagens o chamando de racista. Sua foto, que ele detestava, estava em todos os lugares, inclusive no programa “The Late Show With Stephen Colbert“.

“Senti como se toda a minha vida tivesse desabado”, disse ele.

Por enquanto, ele está focado em coisas práticas, como pagar as contas. Ele conseguiu um emprego esta semana, desta vez bem longe da política.

“Talvez eu volte para a escola técnica”, disse ele, “e desapareça no mundo da classe trabalhadora e ninguém nunca mais ouça falar de mim.”

Ele disse que não se arrepende de nada. E continua conversando com pessoas do chat, incluindo o Sr. Dwyer.

“Embora o mundo inteiro tenha algo a dizer sobre nós”, disse o Sr. Hendrix, “há pelo menos outras 11 pessoas que eu sei com certeza que sabem quem eu sou — e eu sei quem elas são.”

“E”, acrescentou ele, “nós compartilhamos isso juntos”.

É difícil imaginar Hendrix — ou Trump — encontrando algo para criticar no perfil publicado pelo Times. Em defesa do artigo de 2017 intitulado “Simpatizante nazista da porta ao lado”, o editor nacional do Times, Marc Lacey, escreveu: “O que consideramos indiscutível… é a necessidade de lançar mais luz, e não menos, sobre os cantos mais extremos da vida americana e as pessoas que os habitam.”

Há uma diferença significativa entre lançar luz sobre alguém que você considera “extremista” — para responsabilizá-lo — e simplesmente dar-lhe destaque. Em seus perfis simpáticos de figuras da extrema-direita, o Times faz pouco esforço para fazer o primeiro, com o efeito de simplesmente normalizar o racismo e o fascismo.

Tradução livre, parcial, de Luiz Jacques Saldanha, dezembro de 2025

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