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https://www.bbc.com/future/article/20251114-why-are-thyroid-cancer-cases-increasing-across-the-world
Jasmin Fox-Skelly
15 nov 2025
[Nota do Website: Mais uma realidade que nos demonstra, mesmo que não esteja completamente comprovado cientificamente, estarmos sendo constante e permanentemente agredidos por várias moléculas sintéticas que não temos ideia a dimensão de sua agressão efetiva sobre os corpos vivos. Se havia, antes da química sintética, uma vulnerabilidade a agentes vivos, agora estamos nos tornando, cada vez mais, vulneráveis a ‘corpos mortos’ da química artificial. Talvez os novos tempos da humanidade seja integrar, com todo o conhecimento atual de muitos aspectos da Vida, os fatores vivos para nos manter saudáveis enquanto estivermos no plano existencial. Ao mesmo tempo que devemos, com simplicidade, esquecer e refutar todas as intromissões artificiais que nos agridem por sermos naturais. Esse é nosso humilde ponto de vista].
Os índices de câncer de tireoide estão aumentando em algumas partes do mundo – e mais rapidamente do que outros tipos de câncer. Por quê?
Nos Estados Unidos, os índices de câncer de tireoide estão aumentando em ritmo mais acelerado do que os de qualquer outro tipo de câncer. Mas o que está por trás dessa misteriosa epidemia?
A glândula tireoide está localizada na base do pescoço, logo abaixo do pomo de Adão. Sua função é liberar hormônios que regulam a frequência cardíaca, a pressão arterial, a temperatura corporal e o peso. O câncer de tireoide ocorre quando as células da glândula tireoide começam a crescer e se dividir descontroladamente, formando um tumor. Essas células anormais podem invadir os tecidos circundantes e potencialmente se espalhar para outras partes do corpo.
Embora a maioria dos casos de câncer de tireoide seja curável, especialistas em saúde estão preocupados com a rapidez com que as taxas da doença estão aumentando. De acordo com o banco de dados do Programa de Vigilância, Epidemiologia e Resultados Finais (SEER) – um sistema de notificação de câncer nos Estados Unidos – a incidência de câncer de tireoide nos EUA mais que triplicou entre 1980 e 2016, passando de 2,39 para 7,54 por 100.000 em homens e de 6,15 para 21,28 por 100.000 em mulheres.
“O câncer de tireoide continua sendo um dos poucos tipos de câncer que têm apresentado aumento ao longo do tempo, apesar dos avanços na medicina”, afirma Sanziana Roman, cirurgiã endócrina da Universidade da Califórnia em São Francisco (UCSF).
Então, o que está por trás desse aumento nos casos?
Há muito se sabe que a exposição a grandes quantidades de radiação ionizante na infância pode causar câncer de tireoide. Nos anos que se seguiram ao acidente nuclear de Chernobyl, em 1986, os índices da doença dispararam em crianças na Bielorrússia, Ucrânia e Rússia. Um estudo constatou que, entre os sobreviventes japoneses da bomba atômica, cerca de 36% dos casos de câncer de tireoide desde 1958 poderiam ser atribuídos à exposição à radiação na infância.

Contudo, não houve desastres nucleares nos EUA nas décadas de 80 e 90, nem em qualquer outro lugar, que pudessem explicar tal aumento. Inicialmente, os especialistas ficaram perplexos, mas eventualmente surgiu uma explicação: seria a melhoria nos diagnósticos a “culpa”?
Na década de 1980, os médicos começaram a usar a ultrassonografia da tireoide pela primeira vez, uma técnica de imagem que utiliza ondas sonoras para criar imagens da glândula tireoide. Isso permitiu que os médicos detectassem cânceres de tireoide muito pequenos que antes seriam indetectáveis.
Então, na década de 1990, os médicos também começaram a coletar células de nódulos suspeitos para determinar se eram cancerígenos, uma técnica conhecida como biópsia por aspiração com agulha fina.
O sobrediagnóstico desses tipos de câncer levou muitas pessoas a se submeterem a intervenções médicas desnecessárias.
“Antigamente, os médicos palpavam a glândula tireoide para procurar nódulos”, diz Cari Kitahara, epidemiologista do Instituto Nacional do Câncer em Maryland, nos EUA.
“Mas com técnicas como a ultrassonografia, os médicos conseguiram detectar nódulos menores e realizar biópsias. Isso levou a um aumento na detecção de pequenos carcinomas papilíferos da tireoide que, no passado, não seriam detectados pela palpação [exame físico do corpo do paciente com as mãos].”
Outras evidências também corroboraram a teoria do sobrediagnóstico. Por exemplo, embora as taxas de câncer de tireoide estivessem aumentando rapidamente, as mortes por essa doença pareciam permanecer estáveis. Enquanto isso, a incidência de câncer de tireoide disparou na Coreia do Sul quando um programa nacional de rastreamento da doença foi implementado. Os casos voltaram a cair quando o programa foi reduzido.
“Juntos, esses padrões eram consistentes com o sobrediagnóstico, ou seja, a detecção aumentada de doenças que provavelmente nunca causariam sintomas ou morte nesses indivíduos se não tivessem sido detectadas”, afirma Kitahara.

Hoje sabemos que os pequenos carcinomas papilíferos da tireoide geralmente têm crescimento lento e costumam responder bem ao tratamento. Raramente são fatais e têm um bom prognóstico. Mas, na época, o sobre diagnóstico desses cânceres levou muitas pessoas a se submeterem a intervenções médicas desnecessárias, incluindo a remoção total da glândula tireoide, seguida de tratamento com iodo radioativo para eliminar quaisquer células remanescentes. A cirurgia pode, por vezes, causar paralisia das cordas vocais, enquanto o tratamento com iodo radioativo também pode aumentar o risco de cânceres secundários.
Desde então, foram feitas mudanças na prática clínica nos EUA, de modo que o iodo radioativo agora é usado apenas para tratar cânceres agressivos, e as doses são minimizadas para reduzir o risco de efeitos colaterais. Em vez da remoção total da glândula tireoide, os médicos geralmente a removem parcialmente ou adotam uma abordagem de observação vigilante.
Como resultado, as estatísticas mais recentes do SEER sugerem que os casos de câncer de tireoide se estabilizaram nos EUA. Por exemplo, em 2010, houve em média 13,9 novos casos por 100.000 habitantes, enquanto em 2022 – o último ano para o qual há estatísticas disponíveis – houve 14,1 casos por 100.000 habitantes.
As taxas de câncer de tireoide estão aumentando mesmo em locais e regiões do mundo sem programas robustos de rastreamento – Roman Sanziana
No entanto, nos últimos anos, alguns cientistas têm argumentado que o sobre diagnóstico por si só não explica todo o aumento observado.
Em um estudo, Riccardo Vigneri, professor emérito de endocrinologia da Universidade de Catania, Itália, argumenta que, se essa fosse a única explicação para o aumento dos casos, seria de se esperar que os casos de câncer de tireoide aumentassem mais em países de alta renda com melhores práticas de diagnóstico. No entanto, esse não é o caso, já que países de renda média também têm apresentado crescimento no número de casos de câncer de tireoide.
“As taxas de câncer de tireoide estão aumentando mesmo em locais e regiões do mundo sem programas robustos de rastreamento”, afirma Roman.
“Tumores maiores e mais avançados também estão sendo diagnosticados com mais frequência. Isso sugere que estamos vendo uma combinação de viés de detecção e aumentos reais na incidência da doença.”
Além disso, como os cânceres de tireoide têm sido diagnosticados cada vez mais em estágios iniciais e os resultados dos tratamentos têm melhorado, Vigneri afirma que seria de se esperar uma queda no número de mortes por câncer de tireoide. No entanto, a taxa de mortalidade permanece estável em torno de 0,5 casos por 100.000 habitantes, e há indícios de que, pelo menos em alguns países, as taxas estão aumentando.

Por exemplo, um estudo analisou mais de 69.000 pacientes com câncer de tireoide diagnosticados entre 2000 e 2017 na Califórnia. Os pesquisadores descobriram que tanto o número de pessoas diagnosticadas quanto a taxa de mortalidade aumentaram ao longo desse período. O aumento ocorreu independentemente do tamanho do tumor e do estágio do câncer, sugerindo que deve haver algum outro fator em jogo, além de simplesmente um diagnóstico mais preciso de tumores extremamente pequenos.
Em 2017, Kitahara e sua equipe também examinaram os prontuários médicos de mais de 77.000 pacientes com câncer de tireoide diagnosticados entre 1974 e 2013. Os resultados mostraram que, embora a maior parte do aumento nos casos fosse impulsionada por pequenos tumores papilíferos localizados na glândula tireoide, também houve um aumento nos cânceres papilíferos metastáticos que se espalharam para outras partes do corpo. Embora as mortes por câncer de tireoide sejam raras, o estudo também mostrou que elas estavam aumentando a uma taxa de 1,1% ao ano.
“Isso sugeriu que poderia haver algo mais que estivesse impulsionando o aumento desses tumores mais agressivos”, diz Kitahara.
Um dos principais suspeitos é a obesidade, cuja prevalência vem aumentando desde a década de 1980, particularmente nos EUA e em outros países desenvolvidos. Estudos de coorte, que partem de uma população saudável e a acompanham ao longo do tempo, parecem mostrar uma ligação entre o excesso de peso e o risco de câncer de tireoide. Pessoas com IMC elevado têm mais de 50% de probabilidade de serem diagnosticadas com câncer de tireoide ao longo da vida, em comparação com indivíduos com IMC saudável.
Ainda não está claro como a obesidade pode estar causando câncer de tireoide.
Um IMC elevado também está associado a características tumorais agressivas, como tumores maiores no momento do diagnóstico ou a presença de uma mutação que facilita a disseminação do câncer.
“Em nossa pesquisa, também observamos que um IMC mais alto estava associado a um risco maior de morte relacionada ao câncer de tireoide”, diz Kitahara. “Portanto, essa foi uma evidência bastante forte de que não se tratava apenas de viés de detecção. Não era simplesmente porque pessoas com IMC mais alto tinham maior probabilidade de ir ao médico e verificar a tireoide, e por isso apresentavam mais casos de câncer de tireoide. Era uma evidência de que ter um IMC mais alto estava mais relacionado ao desenvolvimento e à progressão do câncer de tireoide.”
Ainda não está claro exatamente como a obesidade pode causar câncer de tireoide. Sabe-se, porém, que pessoas obesas têm maior probabilidade de apresentar disfunção tireoidiana. Por exemplo, indivíduos com altos níveis de Hormônio Estimulante da Tireoide (TSH), um hormônio produzido pela glândula pituitária que regula a função da tireoide, também tendem a ter um IMC mais elevado.
“Ainda não compreendemos totalmente os possíveis mecanismos subjacentes, pois esta ainda é uma área de pesquisa pouco estudada, mas pode ser multifatorial”, diz Kitahara.
“A obesidade tem muitos efeitos fisiológicos, portanto, inflamação, resistência à insulina e alterações na função da tireoide podem desempenhar um papel no desenvolvimento do câncer de tireoide.”

Outros cientistas suspeitam que os “disruptores endócrinos” (EDCs, na sigla em inglês), encontrados em produtos domésticos comuns e agrotóxicos da química orgânica, possam ser os responsáveis. Essas substâncias químicas imitam, bloqueiam ou interferem nos hormônios do corpo. Exemplos incluem o ácido perfluorooctanoico (PFOA) e o ácido perfluorooctanossulfônico (PFOS), encontrados em itens que vão desde utensílios de cozinha e embalagens de papel para alimentos até produtos de higiene pessoal, carpetes e espuma de combate a incêndio. No entanto, as evidências que ligam essas substâncias químicas ao câncer de tireoide são controversas.
Outros estudos sugerem que os oligoelementos podem desempenhar um papel. Os oligoelementos são elementos químicos necessários apenas em quantidades muito pequenas para os organismos vivos. No entanto, são vitais para o funcionamento da tireoide.
“Observamos taxas muito altas de câncer de tireoide em países insulares“, afirma Kitahara.
“Existem hipóteses sobre a relação entre oligoelementos e erupções vulcânicas. Zinco, cádmio e outros compostos químicos, como o vanádio, foram encontrados nesses ambientes, juntamente com altas taxas de câncer de tireoide, mas não existem muitos estudos epidemiológicos bem elaborados que sustentem uma ligação direta.”
No entanto, Kitahara acredita que pode haver outra explicação: a radiação ionizante proveniente de exames médicos diagnósticos. O número de tomografias computadorizadas e radiografias realizadas, especialmente nos Estados Unidos, aumentou significativamente desde a década de 1980, incluindo as tomografias computadorizadas feitas em crianças. Essas tomografias computadorizadas expõem a glândula tireoide a doses relativamente altas de radiação.
Com base no que sabemos sobre a relação entre radiação e câncer de tireoide a partir de outros estudos, como os realizados com sobreviventes das bombas atômicas japonesas, podemos modelar os efeitos dessa radiação. Por exemplo, um estudo recente estimou que cerca de 3.500 casos de câncer de tireoide por ano, daqui para frente, serão diretamente atribuíveis à frequência de tomografias computadorizadas nos Estados Unidos.
“A glândula tireoide jovem é mais vulnerável aos efeitos da exposição à radiação do que a glândula tireoide em pessoas mais velhas”, diz Kitahara. “Portanto, é possível que o uso crescente de tomografias computadorizadas possa contribuir, em parte, para o aumento das taxas de câncer de tireoide nos Estados Unidos e em outros lugares.”
E também é possível que todos esses fatores desempenhem um papel combinado.
“Provavelmente estamos observando um fenômeno multifatorial que inclui influências ambientais, metabólicas, alimentares e hormonais, possivelmente interagindo com a suscetibilidade genética subjacente”, diz Roman.
Tradução livre, parcial, de Luiz Jacques Saldanha, novembro de 2025