
18 nov 2025
[Nota do Website: Como no artigo anterior vê-se o posicionamento da mídia inglesa The Guardian, colocando o mesmo tipo de preocupação e denunciando, ao replicar as matérias da revista The Lancet, os absurdos das ações das corporação que só agem por ‘dinheiro’. Temos que saber sobre isso para podermos defender nossas crianças desse crime corporativo, conforme citamos no texto anterior que mostra, pela matéria do The New York Times, como ignoram há décadas os perigos desses ‘alimentos’. Não temos outra alternativa a não ser acusá-las, sem pejo, de serem criminosas, mesmo!].
A maior revisão científica do mundo alerta que o consumo de alimentos ultraprocessados representa uma ameaça sísmica para a saúde e o bem-estar globais.
Alimentos ultraprocessados (AUP) estão associados a danos em todos os principais sistemas orgânicos do corpo humano e representam uma ameaça enorme à saúde global, de acordo com a maior revisão mundial sobre o tema.
Os alimentos ultraprocessados também estão substituindo rapidamente os alimentos frescos na dieta de crianças e adultos em todos os continentes e estão associados a um risco aumentado de uma dúzia de problemas de saúde, incluindo obesidade, diabetes tipo 2, doenças cardíacas e depressão.
O aumento acentuado no consumo de alimentos ultraprocessados em todo o mundo está sendo impulsionado por corporações com fins lucrativos que utilizam uma série de táticas agressivas para estimular o consumo, distorcer o debate científico e impedir a regulamentação, sugere a revisão das evidências.
As conclusões, provenientes de uma série de três artigos publicados na revista Lancet, surgem num momento em que milhões de pessoas consomem cada vez mais alimentos ultraprocessados, como refeições prontas, cereais, barras de proteína, refrigerantes e fast food.
No Reino Unido e nos EUA, mais da metade da dieta média agora consiste em alimentos ultraprocessados. Para alguns, especialmente pessoas mais jovens, mais pobres ou de áreas desfavorecidas, uma dieta composta por até 80% de alimentos ultraprocessados é típica.

Podemos ter as legendas em português.
Evidências analisadas por 43 dos maiores especialistas mundiais sugerem que dietas ricas em fibras ultrafinas estão associadas à alimentação excessiva, baixa qualidade nutricional e maior exposição a substâncias químicas e aditivos nocivos.
Uma revisão sistemática de 104 estudos de longo prazo conduzidos para a série constatou que 92 deles relataram maiores riscos associados a uma ou mais doenças crônicas e morte prematura por todas as causas.
Um dos autores da série publicada na Lancet, o professor Carlos Monteiro, professor de nutrição em saúde pública da Universidade de São Paulo, afirmou que as descobertas reforçam a necessidade de ações urgentes para combater a UPF/ultra processed food (Potencial de Alimentação Não Padronizada).
“O primeiro artigo desta série publicada no Lancet indica que os alimentos ultraprocessados prejudicam todos os principais sistemas orgânicos do corpo humano. As evidências sugerem fortemente que os seres humanos não estão biologicamente adaptados para consumi-los.”
Ele e seus colegas no Brasil criaram o sistema de classificação Nova para alimentos. Este sistema agrupa os alimentos por nível de processamento, variando de um – alimentos não processados ou minimamente processados, como frutas e vegetais inteiros – a quatro: ultraprocessados.
Esta categoria é composta por produtos fabricados industrialmente, frequentemente com o uso de aromatizantes, emulsificantes e corantes artificiais. Incluem refrigerantes e salgadinhos industrializados, e tendem a ser extremamente saborosos e ricos em calorias, porém pobres em nutrientes.
Eles também são projetados e comercializados para substituir alimentos frescos e refeições tradicionais, maximizando os lucros corporativos, disse Monteiro.
Os críticos argumentam que a UPF (Ultra High Fat, ou Fator de Proteção Ultra-Infantil) é uma categoria mal definida e que as políticas de saúde existentes, como as que visam reduzir o consumo de açúcar e sal, são suficientes para lidar com a ameaça.
Monteiro e seus coautores reconheceram críticas científicas válidas à Nova e à UPF – como a falta de ensaios clínicos e comunitários de longo prazo, uma compreensão ainda incipiente dos mecanismos envolvidos e a existência de subgrupos com diferentes valores nutricionais.
No entanto, argumentaram que pesquisas futuras não devem atrasar ações imediatas para combater o flagelo da UPF, que, segundo eles, são justificadas pelas evidências atuais.
“O crescente consumo de alimentos ultraprocessados está remodelando as dietas em todo o mundo, substituindo alimentos e refeições frescos e minimamente processados”, alertou Monteiro.
“Essa mudança nos hábitos alimentares é impulsionada por poderosas corporações globais que geram lucros enormes priorizando produtos ultraprocessados, apoiadas por extenso marketing e lobby político para impedirem políticas eficazes de saúde pública que promovam uma alimentação saudável.”
O segundo artigo da série propõe políticas para regulamentar e reduzir a produção, comercialização e consumo de alimentos ultraprocessados. Embora alguns países tenham implementado regras para reformular alimentos e controlar esses produtos, “a resposta global de saúde pública ainda está em seus estágios iniciais, semelhante ao estágio em que se encontrava o movimento de controle do tabaco décadas atrás”, afirma o documento.
O terceiro artigo afirma que as corporações globais, e não as escolhas individuais, estão impulsionando o crescimento do consumo excessivo de alimentos processados. Os autores afirmam que o consumo excessivo de alimentos processados é uma das principais causas da “pandemia de doenças crônicas” ligada à alimentação, com as empresas alimentícias priorizando o lucro acima de tudo.
A principal barreira à proteção da saúde são as “atividades políticas corporativas, coordenadas transnacionalmente por meio de uma rede global de grupos de fachada, iniciativas multissetoriais e parceiros de pesquisa, para neutralizarem a oposição e bloquearem a regulamentação”.
O professor Barry Popkin, da Universidade da Carolina do Norte e coautor da série, afirmou: “Defendemos a inclusão de ingredientes que indicam alto teor de gordura saturada nos rótulos frontais das embalagens, juntamente com informações sobre excesso de gordura saturada, açúcar e sal, para evitar substituições de ingredientes prejudiciais à saúde e permitir uma regulamentação mais eficaz.”
Os autores também propuseram restrições de marketing mais rigorosas, especialmente para anúncios direcionados a crianças, bem como a proibição de protetores solares de ultrafiltração em locais públicos, como escolas e hospitais, e a imposição de limites à venda e ao espaço nas prateleiras dos supermercados.
Um exemplo de sucesso é o programa nacional de alimentação escolar do Brasil, que eliminou a maior parte dos alimentos ultraprocessados e exigirá que 90% dos alimentos sejam frescos ou minimamente processados até 2026.
Cientistas não envolvidos na série acolheram favoravelmente a revisão das evidências, mas também solicitaram mais pesquisas sobre os UPF, alertando que a associação com danos à saúde pode não significar causalidade.
Tradução livre, parcial, de Luiz Jacques Saldanha, novembro de 2025