Agrotóxicos: Novo estudo em ratos mostra que mesmo pequenas doses de glifosato podem causar problemas de saúde ao longo das gerações

https://usrtk.org/healthwire/even-tiny-doses-of-glyphosate-can-cause-health-problems-across-generations/

Pamela Ferdinand

30 set 2025

[Nota do Website: Material importantíssimo porque ‘cientificamente’ se constata de que as moléculas artificiais, e parece que cada vez elas vão se mostrando cada vez mais, não seguem a toxicologia clássica. A relação da dose com os efeitos. Ou seja, seria a dose que definiria, como Paracelsus acreditava na Idade Média, corretamente, que entre uma molécula ser medicamento ou veneno, a dose é que definiria. Percebe-se que ele estava tratando de moléculas naturais e não artificiais. No entanto, imagina-se que nos primórdios da ciência moderna era assim que pensavam os cientistas, mas não nos tempos da química sintética de agora. Aqui mostra, com o herbicida glifosato/roundup que mesmo uma molécula que teria uma dose ‘inócua’, mostra-se tão nefasta por ser como é realmente: um veneno. Precisou-se passar mais de 25 anos para se comprovar o que a Dra. Theo Colborn e outros, constataram e reafirmaram no início dos anos 90. Parece que todas, além daquelas que eles constataram naqueles anos, são disruptoras endócrinas. E como mimetizam e/ou imitam hormônios naturais, como esses, agem em doses infinitesimais. A herança das moléculas sintéticas é o triste legado que o século XX deixa para o futuro. Será que a ‘artificialidade’ do século XXI, não será a ‘inteligência artificial/sintética’? Infelizmente como agora com as moléculas artificiais, somente o futuro nos dirá, depois do estrago já ter sido feito!].

A exposição pré-natal ao herbicida mais comum do mundo pode remodelar o intestino, o cérebro e o comportamento, levantando questões sobre os limites de segurança atuais.

Cientistas afirmam que mesmo quantidades extremamente pequenas do herbicida glifosato podem prejudicar a saúde intestinal, interromper o metabolismo e alterar o comportamento em camundongos. Os efeitos não se limitam aos animais expostos — eles são transmitidos aos seus filhos e netos.

A nova pesquisa, a ser publicada em 1º de novembro na Science of the Total Environment, sugere que a exposição pré-natal ao glifosato interrompe as bactérias intestinais, os hormônios e a sinalização cerebral em camundongos. Mesmo em doses muito abaixo das diretrizes de segurança atuais, o herbicida está associado a inflamação, problemas metabólicos envolvendo apetite e açúcar no sangue, e sinais de risco neurológico.

“Nossas descobertas demonstram que a exposição pré-natal ao glifosato, em doses consistentes com a ingestão alimentar real, pode afetar vários sistemas fisiológicos ao longo das gerações”, dizem os pesquisadores. 

O glifosato, mais conhecido como o ingrediente ativo do Roundup®, é o herbicida mais utilizado no mundo, com mais de 160 milhões de quilos aplicados anualmente na América do Norte. Antes considerado seguro por atuar em uma via específica de ação das plantas, ausente em humanos, o glifosato ainda pode causar danos indiretos às pessoas, ao desregular a microbiota intestinal, as respostas imunológicas e os sistemas hormonais — especialmente durante a gravidez e no início da vida, de acordo com evidências emergentes.

A exposição ao glifosato tem sido associada a câncer, doenças hepáticas e renais, desregulação endócrina (nt. como é um disruptor endócrino, não se coaduna à visão tradicional da toxicologia. O quer dizer isso? Que imitando, mimetizando hormônios, sua ação se dá em níveis, doses, ínfimas como acontece com os hormônios naturais, por isso o paradigma é outro do que vem se tratando os agrotóxicos e outras substâncias artificiais), problemas de fertilidade, neurotoxicidade e outros problemas de saúde, apesar da resistência da indústria. No início deste ano, pesquisas mostraram que o glifosato prejudicou significativamente a saúde de bebês em comunidades rurais dos EUA nas últimas duas décadas, especialmente aqueles que já corriam risco de partos ruins. 

Outros estudos de longo prazo, como a coorte CHAMACOS (nt.: documentário que mostra esse trabalho e seus reflexos sobre a saúde das novas gerações), relacionam a exposição precoce ao glifosato a maiores riscos de distúrbios hepáticos e cardiometabólicos aos 18 anos.  

Este estudo, conduzido por pesquisadores da Universidade da Colúmbia Britânica e da Universidade de Alberta, no Canadá, mostra que camundongos expostos ao glifosato antes do nascimento eram menos ativos em geral, percorriam distâncias mais curtas e em velocidades mais lentas, e apresentavam memória de trabalho (capacidade de armazenar e processar informações) mais fraca. Os camundongos também exploravam menos, sugerindo menor curiosidade ou leves dificuldades de movimento.

A exposição pré-natal causou inflamação microscópica, semelhante à observada na inflamação do cólon em estágio inicial (colite). Danos intestinais, perda de muco protetor e inflamação crônica persistiram nos netos (geração F2).

Outras descobertas importantes incluem:

  • Problemas metabólicos: os descendentes tinham dificuldade em processar açúcar, apresentavam resistência à insulina e produziam níveis mais baixos de GLP-1, um hormônio que regula o açúcar no sangue.
  • Perturbação do microbioma: A exposição pré-natal ao glifosato alterou as bactérias intestinais e sua função. Bactérias associadas à depressão, doença de Parkinson e doenças metabólicas aumentaram, juntamente com alterações químicas, incluindo o excesso de acetato, que, em níveis elevados, pode perturbar o metabolismo e causar hiperestimulação do sistema nervoso.
  • Alterações hormonais: Os hormônios do apetite foram desequilibrados. A grelina (que desencadeia a fome) estava mais baixa, enquanto a leptina (que sinaliza saciedade) estava mais alta, um padrão observado na obesidade e no enfraquecimento das barreiras intestinais. Em camundongos saudáveis, a exposição ao glifosato alterou a produção de hormônios metabólicos essenciais, potencialmente ligando-a à endotoxemia — uma condição potencialmente perigosa em que toxinas de bactérias intestinais vazam para a corrente sanguínea.
  • Sinais intestino-cérebro: O herbicida interrompeu as ligações normais entre bactérias e substâncias químicas essenciais, como o GLP-1 e os metabólitos do triptofano, ambos vitais para o controle do açúcar no sangue, humor e imunidade. Os efeitos mais fortes foram observados nos netos. No geral, uma maior exposição ao glifosato foi associada a níveis mais baixos de GLP-1, sugerindo impactos duradouros no metabolismo e na sinalização intestino-cérebro ao longo das gerações.
  • Fraqueza da barreira do cólon: Em camundongos saudáveis, o glifosato reduziu as células produtoras de muco, afinando a barreira intestinal e facilitando a entrada de bactérias nos tecidos e a ativação do sistema imunológico. Esses efeitos não foram observados em camundongos propensos à colite, cuja inflamação existente pode tê-los mascarado.

Em contraste, camundongos já propensos à colite apresentaram menos efeitos aparentes do glifosato, provavelmente porque a inflamação existente os mascarou, afirmam os pesquisadores. No entanto, eles apresentaram sinais de inflamação nervosa relacionada ao intestino, mostra o estudo.

“Esses resultados mostram que, embora o microbioma intestinal permaneça em grande parte estável, a exposição pré-natal ao glifosato o reconfigura de maneiras que podem promover inflamação, disfunção metabólica e desregulação neuroimune”, afirmam os pesquisadores. “A persistência dessas mudanças ao longo das gerações e seu surgimento em doses relevantes para o ser humano destacam sua potencial importância para a saúde a longo prazo.”

Para modelar exposições no mundo real neste estudo, os pesquisadores forneceram a camundongos prenhes — saudáveis ​​e propensos à colite — água potável contendo glifosato em doses baseadas na dieta média americana (0,01 mg/kg/dia) ou no limite de segurança atual da EPA dos EUA (1,75 mg/kg/dia).  

Os animais foram submetidos a testes comportamentais, testes de glicemia e tolerância à insulina, além de análises detalhadas do tecido intestinal. As bactérias intestinais foram examinadas por sequenciamento de DNA, e amostras de sangue foram testadas para hormônios e metabólitos.

Os pesquisadores alertam que ainda não está claro se as alterações são transmitidas por meio da epigenética (alterações hereditárias na regulação do DNA) ou pelo microbioma intestinal. No entanto, o aparecimento de efeitos em netos sugere um impacto transgeracional. Alguns resultados também diferiram entre homens e mulheres, sugerindo vias específicas de cada sexo.

Embora o estudo tenha sido exploratório, a consistência das perturbações no metabolismo, comportamento e imunidade destaca a necessidade de um trabalho mais direcionado, afirmam os pesquisadores. Camundongos e humanos compartilham muitos dos mesmos genes, mas a forma como esses genes são expressos pode diferir.

O fato de os efeitos terem surgido em doses muito baixas também sugere que o glifosato pode não seguir um padrão simples de “dose maior significa maior dano” (nt.: AQUI A NOVA DEMONSTRAÇ DE QUE, PELO QUE VIEMOS VENDO, A MAIORIA DAS MOLÉCULAS SINTÉTICAS NÃO SEGUEM O PARADIGMA DE PARACELSUS DA IDADE MÉDIA=O EFEITO CONDICIONADA À DOSE). Isso pode dificultar a detecção dos riscos reais pelos testes tradicionais de segurança com altas doses, afirmam os pesquisadores, levantando questões sobre se as regulamentações atuais protegem adequadamente a saúde pública.

“Essas descobertas sugerem que a exposição pré-natal ao glifosato, mesmo abaixo dos limites regulatórios, pode afetar vários sistemas fisiológicos ao longo das gerações, destacando a necessidade de mais pesquisas e possíveis considerações regulatórias”, afirmam eles.

Referência

Barnett JA, Josephson JK, Yuzbashian E, et al. Prenatal exposure to dietary levels of glyphosate disrupts metabolic, immune, and behavioral markers across generations in miceScience of The Total Environment. 2025;1002:180437. doi:10.1016/j.scitotenv.2025.180437

Tradução livre, parcial, de Luiz Jacques Saldanha, outubro de 2025

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