Agrotóxicos: Em seus alimentos? Provavelmente sim.

Trabalhadores colhem couve em uma fazenda no Vale Central de Salinas, Califórnia. Crédito: Melina Mara/The Washington Post via Getty Images

https://insideclimatenews.org/news/24092025/pesticides-in-fruits-vegetables-health

Liza Gross

24 set 2025

[Nota do Website: Quanto se lê uma informação dessas, como ainda nos perguntarmos por que há um aumento dramático de câncer e autismo, nas gerações mais novas. Se há esse conhecimento, por que não serem esses produtos banidos? Se há condições de se produzir alimentos realmente sem contaminação, ainda existirem produções com agrotóxicos, além de ser uma burrice, torna-se um ato criminoso, não se pode deduzir assim?].

O consumo de frutas e vegetais cultivados nos EUA expõe os consumidores a classes de agrotóxicos associadas a sérios problemas de saúde. Novas pesquisas ajudam a mostrar a quantidade exata.

Se você come uma porção diária de frutas e vegetais, componentes essenciais de uma dieta saudável, provavelmente também está ingerindo uma grande dose de pesticidas, mostra uma nova pesquisa revisada por pares.

Agricultores americanos aplicam centenas de milhões de litros de agrotóxicos nocivos para matar insetos, patógenos e outras pragas agrícolas todos os anos. Os consumidores podem ser expostos a esses produtos químicos se beberem água contaminada, viverem ou trabalharem perto de campos tratados ou consumirem alimentos contaminados.

Pessoas que comeram morangos, espinafre, couve e outros produtos com altos níveis de resíduos de agrotóxicos, mesmo depois de lavá-los, apresentaram quantidades significativamente maiores de agrotóxicos na urina do que aquelas que comeram produtos menos contaminados, relataram cientistas do Environmental Working Group/EWG na quarta-feira no International Journal of Hygiene and Environmental Health.

O estudo do EWG se baseia no Guia Anual do Comprador de Produtos com Agrotóxicos, do grupo sem fins lucrativos , que classifica frutas e vegetais do mais ao menos contaminados com base em dados de monitoramento de resíduos de pesticidas do Departamento de Agricultura dos EUA

A equipe do EWG levou essa abordagem um passo adiante ao vincular as classificações de produtos ao que as pessoas realmente comem, para ver como o consumo afeta os níveis de agrotóxicos no corpo, com base em biomarcadores na urina.

Para estimar sua exposição total a eles, a equipe calculou uma “carga” cumulativa com base no número de agrotóxicos detectados, sua toxicidade e a frequência e concentração em que foram detectados em mais de 40 frutas e vegetais. Em seguida, compararam a exposição estimada a biomarcadores na urina. 

Mais de um agrotóxico foi detectado na maioria das amostras, com as passas apresentando mais de 13.

“Este método de classificação de frutas e vegetais é, na verdade, uma previsão razoável das mudanças que você pode observar na exposição a agrotóxicos para pessoas que consomem essas frutas e vegetais”, disse o líder do estudo, Alexis Temkin, vice-presidente de ciências do EWG.

Simplificando, ela acrescentou: “o que comemos impacta aquilo a que estamos expostos”.

O consumo de frutas e vegetais com os maiores índices de exposição foi associado a níveis mais elevados de biomarcadores urinários para três classes de pesticidas neurotóxicos: organofosforadospiretróides e neonicotinoides. Esses inseticidas têm sido associados a problemas de neurodesenvolvimento, incluindo transtorno do espectro autistaproblemas neurocomportamentais como agressividade e depressão,  câncerasma e outras doenças respiratórias.

Bebês, crianças e mulheres grávidas são mais suscetíveis aos efeitos da exposição a agrotóxicos.

O estudo utilizou os dados mais recentes de biomonitoramento de urina, com o rastreamento de agrotóxicos mais abrangente, da Pesquisa Nacional de Exame de Saúde e Nutrição (NHANES) dos Centros de Controle e Prevenção de Doenças. Embora a NHANES meça biomarcadores para apenas um quarto dos 178 agrotóxicos no programa de monitoramento de resíduos do USDA/United States Department of Agriculture, a equipe conseguiu usar esse subconjunto para demonstrar a confiabilidade de sua abordagem para estimar a exposição.

“Um componente realmente poderoso deste estudo é que eles descobriram que perguntar às pessoas sobre os alimentos que elas comem é um bom indicador dos níveis de agrotóxicos que eles medem no corpo das pessoas”, disse Jennifer Kay, uma cientista pesquisadora que se concentra nos efeitos tóxicos das exposições ambientais no Silent Spring Institute, uma organização sem fins lucrativos, e não estava envolvida na pesquisa.

Isso significa que dados de pesquisas coletados em estudos epidemiológicos, por exemplo, podem ser traduzidos em prováveis ​​exposições quando não é possível medir biomarcadores, disse Kay.

E a capacidade de usar dados de pesquisas para estimar a exposição permite que os cientistas levem em conta substâncias químicas que são metabolizadas muito rapidamente para serem detectadas, disse Kay. “As substâncias químicas podem ser metabolizadas muito rapidamente e causar muitos danos nesse curto período.”

Pontos cegos no monitoramento de agrotóxicos

Curiosamente, a equipe não havia observado inicialmente uma associação entre sua presença nos produtos consumidos pelas pessoas e seus níveis no corpo. Isso parecia improvável, então eles realizaram uma série de testes para verificarem se uma fruta ou vegetal específico poderia estar confundindo os resultados. 

Quando retiraram as batatas da mistura, houve uma forte associação. 

Temkin e outros pesquisadores descobriram que é difícil determinar os riscos de agrotóxicos para os americanos ao consumirem batatas. Isso ocorre porque não há informações de biomonitoramento nos EUA para o clorprofame (nt.: produto antibrotante usado em batata), o principal agrotóxico usado em batatas, que a União Europeia decidiu proibir em 2019 devido aos riscos agudos e crônicos à saúde.

“O estudo destaca alguns pontos cegos importantes na forma como monitoramos as exposições a agrotóxicos nos EUA”, disse Kay, da Silent Spring.

Os fungicidas estavam entre os mais comumente detectados nas maiores concentrações em produtos agrícolas, disse Kay, mas a NHANES não os mede. E o USDA não monitora certos agrotóxicos, incluindo o glifosato, o herbicida mais comumente usado nos Estados Unidos, disse ela.

Além disso, os reguladores ainda avaliam o risco com base em níveis “aceitáveis” de exposição a uma única substância química, disse ela. “Uma das coisas que gostei neste estudo é que os cálculos do grupo incorporam o nível relativo de contaminação e a toxicidade relativa de cada um em cada cultura alimentar para ajudar a lidar com esse impacto cumulativo.”

O objetivo geral da pesquisa, disse Temkin, é preencher uma lacuna importante nas avaliações regulatórias, fornecendo uma base para entender como a exposição a misturas de agrotóxicos afeta a saúde.

A única maneira de realizar um estudo como este é com fontes de dados governamentais disponíveis publicamente, disse Temkin. Mas a acessibilidade dessas fontes de dados, juntamente com o financiamento para estudos que relacionam o consumo alimentar a exposições em diferentes coortes, é incerta depois que o governo Trump excluiu conjuntos de dados governamentais e cortou o financiamento para pesquisas em saúde.

Tanto Kay quanto Temkin insistem que os resultados do estudo não mudam o fato de que frutas e vegetais são essenciais para uma dieta saudável. 

Mudar para uma dieta orgânica pode reduzir a exposição, disse Temkin, mas ela reconheceu que isso é mais difícil para quem tem orçamento apertado. É aí que entra o guia do comprador, acrescentou, para ajudar os consumidores a decidirem se querem investir mais em orgânicos para os produtos mais contaminados.

Comprar produtos orgânicos também ajuda a impulsionar os mercados e os produtores de alimentos a investir mais na agricultura orgânica, disse Kay. “Isso, por sua vez, protege os trabalhadores rurais da exposição a altos níveis de produtos químicos tóxicos em suas atividades e reduz a quantidade de agrotóxicos que acabam em nossos alimentos, água potável e meio ambiente.”

Tradução livre, parcial, de Luiz Jacques Saldanha, outubro de 2025

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