O carcinoma de varredura de chaminé foi o primeiro câncer ocupacional identificado e o primeiro câncer associado a um combustível fóssil. Crédito: Axel Swinhufvud /
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12 set 2025
[Nota do Website: Material bastante surpreendente já que nos mostra uma realidade que já existiu e que demonstra o quanto os combustíveis fósseis já está se auto denunciando como um grande problema que fica disperso nos dias de hoje. Daí o valor desta matéria. Desnudar com esse fato histórico o que vemos atualmente misturado com muitas outras origens de ataque a nossa saúde].
Carvão, petróleo e gás matam pessoas há séculos. Ainda estamos pagando por isso.
Dos muitos impactos à saúde ligados aos combustíveis fósseis, talvez o mais terrível seja o testículo do limpador de chaminés.
Após o Grande Incêndio de Londres em 1666, as chaminés passaram a ser obrigadas por lei a serem limpas regularmente para evitar outra conflagração catastrófica. O carvão era o combustível comum no século XVIII, e meninos de até quatro anos eram forçados a subir em chaminés estreitas para raspar os resíduos acumulados, que continham uma variedade de substâncias químicas cancerígenas. Décadas depois, surgiriam tumores testiculares grandes e dolorosos.
“É uma doença… que ataca primeiro a parte inferior do escroto, onde produz uma ferida superficial, dolorosa, irregular e de aparência doentia, com bordas duras e ascendentes”, observou o Dr. Percivall Pott em 1775. Pott descobriu a ligação entre a doença e os produtos químicos tóxicos do carvão. “Em pouco tempo, ela invade a pele… e as membranas do escroto, e acomete o testículo, que aumenta de tamanho, endurece e deixa verdadeira e completamente desfigurado.”
A condição era tão dolorosa que os afetados às vezes recorriam à amputação de partes sensíveis do próprio corpo para tentar obter alívio. O carcinoma de varredura de chaminé foi o primeiro câncer ocupacional identificado e o primeiro câncer associado a um combustível fóssil.
Avançando 250 anos, as consequências alarmantes da queima de combustíveis fósseis para a saúde continuam a impactar milhões de pessoas. Um estudo recente relacionou a poluição por partículas de petróleo e gás a 90.000 mortes prematuras nos EUA a cada ano e a 10.000 nascimentos prematuros. Noventa por cento de todos os novos casos de asma infantil estavam relacionados à poluição por dióxido de nitrogênio da indústria petrolífera, afetando mais de 200.000 crianças a cada ano.
A poluição do ar externo em todo o mundo mata 3 milhões de pessoas a cada ano, de acordo com a Organização para o Desenvolvimento Econômico (OCDE), e custa US$ 3,5 trilhões à economia global. Cerca de metade desses custos está ligada à poluição causada pelo transporte rodoviário de combustíveis fósseis nos países da OCDE.
Outros estudos na União Europeia e nos EUA estimaram os custos econômicos relacionados à poluição do ar entre 4% e 5% do PIB. No Canadá, isso equivaleria a pagar pelo nosso orçamento militar, que foi enormemente ampliado até 2035, exigindo agora cortes profundos em outras áreas dos gastos públicos.
Que outro setor industrial tem permissão para infligir custos externalizados tão enormes à sociedade sem compensação? Até mesmo a indústria do tabaco acabou sendo responsabilizada pelos bilhões gastos no tratamento de doenças relacionadas ao seu produto perigoso. Por que a indústria de petróleo e gás está de alguma forma isenta do ônus bem documentado que a queima de combustíveis fósseis impõe ao sistema de saúde?
Pássaros, baleias e RFK Jr.
Em um exemplo clássico de projeção freudiana, os defensores do petróleo e do gás apontam para os supostos impactos das turbinas eólicas à saúde, como o ruído de baixa frequência, desmascarado por pesquisas encontradas aqui, aqui e aqui. Após extenso estudo, o único impacto estatisticamente significativo das turbinas eólicas sobre os moradores próximos foi o incômodo, uma condição também associada a alarmes de carros, sopradores de folhas ou latidos de cães.
A suposta carnificina causada por turbinas eólicas sobre pássaros é outro ponto de discussão favorito dos defensores do petróleo, ofuscado pelo número de pássaros mortos por linhas de energia (18 vezes mais), colidindo com prédios (1.400 vezes mais) ou abatidos por gatos domésticos (6.000 vezes mais). A geração de energia a partir de combustíveis fósseis, na verdade, mata quase 20 vezes mais pássaros por unidade de energia devido à destruição de habitats, poluição do ar e mudanças climáticas.
Mas e as baleias? Em uma reunião de gabinete bizarra no mês passado, o secretário de saúde dos EUA, Robert F. Kennedy Jr., afirmou que turbinas eólicas, de alguma forma, mataram 160 baleias na costa leste dos EUA nos últimos dois anos. Elogiando o presidente por interromper abruptamente um projeto eólico offshore de US$ 4 bilhões quase completo , RFK Jr. garantiu a Trump: “Você vai salvar as baleias da Costa Leste”.
Por mais difícil que seja de acreditar, parece que RFK Jr. não é totalmente verdadeiro ou preciso em suas declarações sobre turbinas eólicas e baleias. Ou vacinas e autismo. Ou a ameaça dos chemtrails. O envolvimento do Departamento de Saúde e Serviços Humanos com turbinas eólicas (ou baleias) aparentemente vem diretamente da Casa Branca, que envolveu vários outros departamentos distintos em um esforço para prejudicar projetos eólicos offshore já aprovados ou em fase de conclusão.
Reversões de regulamentação
Enquanto isso, a legislação que protegeu os americanos por décadas da poluição por combustíveis fósseis está sendo revogada em uma campanha regulatória de choque e pavor. O recém-nomeado administrador da Agência de Proteção Ambiental (EPA) por Trump anunciou 31 ações distintas em março passado para eliminar as restrições à poluição do ar e da água, no que a EPA alardeou como “o maior e mais consequente dia de desregulamentação da história dos Estados Unidos”.
Grupos ambientalistas se mostraram menos entusiasmados. “O administrador da EPA, Lee Zeldin, anunciou hoje planos para o maior aumento de poluição em décadas”, alertou Amanda Leland, diretora executiva do Fundo de Defesa Ambiental. “O resultado será mais produtos químicos tóxicos, mais cânceres, mais crises de asma e mais perigos para mulheres grávidas e seus filhos.”
A indústria de combustíveis fósseis desfruta de vastos subsídios, mas talvez o maior deles sejam os enormes custos não compensados para a saúde humana, que ainda somam trilhões de dólares por ano. O câncer de testículo causado por limpadores de chaminés, felizmente, é coisa do passado devido à regulamentação tardia e à mudança para combustíveis mais limpos.
Acabar finalmente com o nosso vício em combustíveis fósseis beneficiará ainda mais o clima e a nossa saúde. Teremos coragem para isso?
Tradução livre, parcial, de Luiz Jacques Saldanha, setembro de 2025
