Globalização: Os quatro homens mais ricos da África são mais ricos do que metade do continente combinado

Aliko Dangote, um nigeriano conhecido como o “rei do cimento”, lidera a lista dos bilionários de África. WEI LENG TAY/BLOOMBERG/GETTY IMAGES

https://www.thetimes.com/world/africa/article/africas-four-richest-men-wealthier-than-half-continent-combined-09n6rmw3k

Jane Flanagan, Correspondente da África

10 jul 2025

[Nota do Website: A notícia mostra o escárnio de uns em relação a todos os povos africanos. Mas quando se compara a posição do homem mais rico da África em relação aos mais ricos do mundo, parece até uma piada. E mais triste ainda é se ver a posição dos países que ficam abaixo da fortuna deste homem quando se compara suas realidades com as dos homens mais ricos do mundo. E estranha-se quando há rebeliões, pequenos furtos e assassinados dos miseráveis sem esperança de um dia ter um mínimo de dignidade humana. Estes são os criminosos não os outros aqui citados].

A região tem 23 bilionários e a Oxfam alerta que as falhas políticas permitem que os ricos fiquem mais ricos, enquanto muitos africanos vivem em extrema pobreza.

As quatro pessoas mais ricas da África detêm mais riqueza do que metade da população do continente combinada, informou a instituição de caridade Oxfam, alertando que políticas distorcidas estão alimentando o aumento da pobreza e o aumento das fortunas de alguns.

A África não tinha bilionários em 2000, mas agora tem 23, com uma riqueza compartilhada estimada que aumentou 56% nos últimos cinco anos, com os mais ricos registrando ganhos ainda maiores, disse a Oxfam.

“A riqueza da África não está faltando. Ela está sendo desviada por um sistema fraudulento que permite que uma pequena elite acumule vastas fortunas enquanto nega a centenas de milhões até mesmo os serviços mais básicos”, disse Fati N’Zi-Hassane, diretora da Oxfam na África, acrescentando que as falhas políticas foram “injustas, evitáveis e totalmente reversíveis”.

O sul-africano Johann Rupert é o segundo na lista dos 23 bilionários africanosALAMY

Em 1990, uma em cada dez pessoas vivendo em extrema pobreza estava na África, mas hoje são sete em cada dez (nt.: os dois destaques em negrito dados pela tradução, para se ter ideia do que é o capitalismo cruel e indigno). Mesmo assim, informou a Oxfam, os governos africanos estavam cortando orçamentos para serviços básicos para acompanhar o pagamento da dívida, ao mesmo tempo em que impunham alguns dos impostos sobre a riqueza mais baixos do mundo aos muito ricos.

Juntos, os quatro africanos mais ricos têm uma fortuna de US$ 57,4 bilhões (£ 42,3 bilhões) — o equivalente à riqueza de metade da população do continente (nt.: destaques em negrito dado pela tradução), de 1,5 bilhão de pessoas. O nigeriano Aliko Dangote, o mais rico, conhecido como o “rei do cimento” da África, tem uma fortuna estimada em US$ 23,4 bilhões. Atrás dele estão dois sul-africanos — Johann Rupert, que comanda o império de bens de luxo Richemont, com US$ 14,6 bilhões, e Nicky Oppenheimer, descendente do império de diamantes De Beers (US$ 10,5 bilhões). O empresário egípcio Nassef Sawiris é a quarta pessoa mais rica do continente, com uma fortuna estimada pela Forbes em US$ 9,6 bilhões.

A Oxfam também atribuiu o aumento da desigualdade às políticas “regressivas” do Fundo Monetário Internacional (FMI). Um relatório anterior da organização sem fins lucrativos Development Finance International constatou que 94% dos países africanos com empréstimos ativos do Banco Mundial e do FMI (44 de 47 países) cortaram gastos com educação, saúde e proteção social em 2023-24 para pagar essas dívidas.

Os sistemas tributários na África também atingiram mais duramente os pobres. Uma análise de 151 países constatou que o continente “foi a única região em que os países não aumentaram as alíquotas efetivas de impostos desde 1980”, afirmou a instituição. Para cada dólar que os países africanos arrecadam com impostos de renda e patrimônio pessoal, eles arrecadam quase três dólares em impostos indiretos, como o imposto sobre valor agregado (IVA), que aprofunda a desigualdade.

Elon Musk nasceu na África do Sul, mas agora é cidadão americano. JIM WATSON/APF/GETTY IMAGES

O chefe da Oxfam África afirmou que a solução para reduzir a distância entre os extremos “não era absurda”, embora exigisse o fim da “captura política” de políticas e instituições estatais pela elite rica. A inação prejudicaria ainda mais a democracia na África e aumentaria a pobreza.

“Taxem os ricos e invistam na maioria. Qualquer coisa menos que isso é uma traição. Se os líderes africanos levam a sério seus compromissos, precisam parar de recompensar poucos e começar a construir economias que funcionem para todos”, disse N’Zi-Hassane.

Estima-se que existam 3.000 bilionários no mundo, e quase todos são homens (nt.: destaques em negrito dado pela tradução) e têm o poder de influenciar decisões políticas e econômicas de forma a aumentar suas fortunas, informou a Oxfam. A organização estimou que 60% da riqueza dos bilionários veio de herança, clientelismo e corrupção, ou poder de monopólio.

As fortunas dos homens mais ricos da África são comparativamente modestas — Dangote ocupava a 89ª posição na lista de bilionários da Forbes, atualizada diariamente. O relatório da Oxfam utiliza dados da lista da Forbes de maio. Com sua fortuna, no entanto, Dangote é mais rico do que toda a economia de 30 países africanos, medidos pelo PIB (nt.: destaque dado pela tradução). Sua riqueza supera o PIB de países como Mali, Botsuana, Ruanda, Namíbia, Moçambique, Libéria e Serra Leoa, entre outros.

Rupert, de 75 anos, estava entre os sul-africanos brancos bem-sucedidos que acompanharam o presidente Ramaphosa durante seu conturbado encontro com o presidente Trump na Casa Branca, em maio. A riqueza individual de Rupert significa que ele, sozinho, equivale ao PIB de Ruanda. Sua fortuna supera a de outras 19 nações africanas em PIB.

Elon Musk, o homem mais rico do mundo, nasceu e cresceu na África do Sul, embora agora seja cidadão americano. Ele está a caminho de se tornar o primeiro trilionário do mundo em 2027.

Tradução livre, parcial, de Luiz Jacques Saldanha, julho de 2025