Saúde: Tintura de roupas aumenta risco de diabetes em gestantes

Imagem em destaque: Mexsss__/Unsplash+

https://www.thenewlede.org/2025/06/clothing-dye-gestational-diabetes/

Brian Bienkowski

29 jun 2025

[Nota do Website: É dramático como nossa atual sociedade, ‘moderna e evoluída’, na verdade é extremamente criminosa já que compromete não são os seres já nascidos, mas os que ainda nem tiveram a oportunidade de estarem aqui entre nós, saudáveis e aptos a viverem uma vida justa. E muito pior é que todos nós ignoramos tudo o que nos atinge e a nossos filhos. Voltamos a refrisar: a miséria de nossos tempos, incontestavelmente, são as moléculas sintéticas. Como a Vida não as conhece, não ‘sabe’ o que fazer com elas. E dentro desta Vida estamos todos nós, humanos e não-humanos].

Mulheres grávidas expostas a uma tinta de roupa prejudicial têm maior risco de diabetes gestacional quando estão carregando um feto masculino, de acordo com um novo estudo. 

O diabetes gestacional, que afeta cerca de 8% das mulheres grávidas nos EUA a cada ano, aumenta as chances de o bebê nascer grande demais e sofrer de baixo nível de açúcar no sangue, obesidade e diabetes. 

O estudo, publicado domingo no Journal of Exposure Science and Environmental Epidemiology, é o primeiro a relacionar a o-anisidina, uma amina aromática comumente usada em corantes de roupas, ao diabetes gestacional.

“As roupas que as pessoas usam não deveriam vir com esse risco oculto à saúde”, disse Emily Lasher, principal autora do estudo e associada científica do Programa de Saúde Reprodutiva e Meio Ambiente (PRHE) da Universidade da Califórnia em São Francisco. 

O estudo também encontrou ligações entre a melamina química, usada para fazer utensílios de plástico e outros produtos, e o diabetes gestacional, e se baseia em evidências anteriores de que o estresse pode desempenhar um papel fundamental na saúde das mulheres grávidas, descobrindo que as mulheres que relataram sofrer discriminação ou outros tipos de fatores de estresse também enfrentaram maiores riscos de desenvolver diabetes durante a gravidez. 

Produtos químicos, estresse e discriminação 

Pesquisadores testaram a urina de 607 gestantes — 90 das quais desenvolveram diabetes gestacional — na região de São Francisco para 36 aminas aromáticas, encontradas em roupas e tinturas de cabelo, agrotóxicos, produtos de borracha e fumaça de tabaco, e para melamina, usada em alguns plásticos, adesivos e utensílios de cozinha. Eles encontraram oito desses compostos em cerca de 65% das amostras, com melamina e ácido cianúrico — um composto de degradação da melamina — em todas as amostras.

“As roupas que as pessoas usam não deveriam apresentar esse risco oculto para a saúde.” Emily Lasher, PRHE 

A descoberta mais forte foi entre mulheres grávidas de fetos masculinos que apresentaram níveis mais elevados de o-anisidina, o que foi associado a um aumento de 18% nos casos de diabetes gestacional. A melamina e seus compostos de degradação foram associados a um aumento de 8%. 

A ligação com bebês do sexo masculino se alinha a pesquisas anteriores que constataram que mulheres grávidas de fetos do sexo masculino têm maior probabilidade de apresentarem pior funcionamento das células pancreáticas produtoras de insulina. Não está claro como esses compostos podem contribuir para o diabetes gestacional, mas já foi descoberto que melamina e aminas aromáticas causam inflamação, estresse oxidativo, danos celulares e disruptura hormonal — todos os quais podem contribuir para a resistência à insulina. 

Além do diabetes gestacional, os compostos podem causar danos diretos aos bebês. Em estudos com animais, a exposição fetal à melamina e aminas aromáticas está associada a problemas de desenvolvimento e reprodução. Os compostos também estão associados ao câncer.  

A exposição primária à o-anisidina se dá por meio de roupas, disse Lasher. Ela afirmou que evitar esses produtos químicos é desafiador devido ao uso generalizado. 

Ela recomendou lavar roupas novas antes de usá-las, procurar certificação para roupas que testem “corantes azo” (que cobririam o-anisidina) e evitar roupas baratas e de cores brilhantes, que teriam maior probabilidade de conter o produto químico (nt.: destaques em negrito e em itálico dados pela tradução para aumentar a nossa capacidade de tomar atitudes que sejam favoráveis à nossa saúde).

Não regulamentado 

A EPA não regulamenta o produto químico fora das diretrizes de exposição no local de trabalho

“Não é biomonitorado rotineiramente, sabemos que é um possível carcinogênico, e agora descobrimos um dano à saúde não cancerígeno no diabetes gestacional”, disse Lasher. 

Embora a melamina seja usada na fabricação de garfos, colheres e facas de plástico, pratos e outros produtos de plástico e papel, a Food and Drug Administration (FDA) dos EUA não permite sua adição a alimentos ou rações animais. A agência afirma que a melamina não migra de utensílios e louças em níveis prejudiciais à saúde humana, a menos que sejam aquecidos a “temperaturas extremas” — superiores a 71°C —,  alertando que “alimentos e bebidas não devem ser aquecidos em louças à base de melamina em fornos de micro-ondas”. 

Rashmi Joglekar, diretora associada de ciência, política e engajamento do PRHE, disse que o ambiente político atual é uma “tempestade perfeita” para a exposição das pessoas a produtos químicos como esses. 

“O governo Trump está cortando o financiamento para pesquisas como essa, ao mesmo tempo em que tenta desmantelar agências que fornecem financiamento e poderiam regular esse produto químico”, disse ela. 

Estresse e discriminação 

As ligações entre estresse, discriminação e diabetes gestacional foram ainda mais fortes: mulheres com maior percepção de estresse e discriminação tiveram 41% e 133% mais chances, respectivamente, de ter diabetes gestacional. 

Estresse e discriminação podem aumentar a produção do hormônio do estresse, o cortisol, o que impactaria as células pancreáticas”, disse Lasher. “E há a teoria de que, se você está muito estressado, está praticando menos atividade física e talvez tenha uma alimentação pouco saudável.” 

Muitos cientistas reconheceram uma ligação entre estresse e diabetes gestacional, e uma revisão de pesquisa de 2021 confirmou que ansiedade e depressão aumentam o risco de uma pessoa desenvolver diabetes gestacional.

Tradução livre, parcial, de Luiz Jacques Saldanha, julho de 2025