Agrotóxico: O herbicida diquat envenena o intestino e pode causar danos graves a outros órgãos, mostra pesquisa

Amplamente aplicado nos EUA em batatas e outras culturas, o diquat é proibido na UE, Suíça e Reino Unido devido aos seus riscos ambientais e à saúde. (Crédito da foto: JESHOOTS.com no Unsplash)

https://usrtk.org/healthwire/diquat-herbicide-poisons-the-gut-may-severely-damage-other-organs/

Pamela Ferdinand

03 jun 2025

[Nota do Website: Face a tudo o que temos visto cada vez mais no mundo, não seria interessante que os nossos congressistas e políticos em geral, bem como a população inebriada por todos os fundamentalismos religiosos, políticos, sociais e relacionais, como obviamente também a ANVISA, conhecessem pesquisas e estudos como esse, para deixarem de se auto envenenarem por estarem cegos pela doutrina da colonialidade e do supremacismo branco? Se nós, que lemos esses materiais, podemos nos resguardar por que não iremos compartilhar com o restante do país para que todos, como fazem nos países mais ‘avançados’, possam viver com mais saúde e deixarmos um ambiente mais compatível para nossas crianças?].

Diquat, um herbicida proibido na União Europeia, mas ainda amplamente utilizado nos EUA, danifica os intestinos e também pode desencadear uma reação em cadeia prejudicial no resto do corpo, causando lesões no fígado, rins e pulmões, de acordo com uma nova revisão de mais de 100 estudos.

O herbicida tem sido tradicionalmente estudado por seus efeitos tóxicos no fígado e nos rins. No entanto, esta revisão, publicada recentemente [maio de 2025] na Frontiers in Pharmacology, sugere que os intestinos são um alvo importante para seus efeitos nocivos.

Estudos mostram que o diquat enfraquece a barreira intestinal, mata bactérias benéficas, interfere na absorção de nutrientes e desencadeia inflamação crônica, entre outros impactos. Essas lesões locais podem alimentar danos em órgãos distantes por meio de um “eixo intestino-órgão“, tornando a toxicidade do diquat mais disseminada e perigosa do que se pensava anteriormente, afirmam os pesquisadores. 

Essa perspectiva se baseia em evidências crescentes do papel central do intestino em nossa saúde e de suas interações com o resto do corpo. Da mesma forma, os ‘químicos eternos/forever chemicals” que se acumulam no ambiente demonstraram romper a barreira intestinal e afetarem outros órgãos.

“Estudos mostram que o Diquat entra no corpo principalmente pelo trato digestivo, levando à intoxicação”, afirmam os pesquisadores. “O mecanismo central de sua toxicidade envolve o estresse oxidativo induzido por espécies reativas de oxigênio (EROs), que não apenas danifica diretamente a função da barreira intestinal, mas também exacerba a inflamação e a toxicidade sistêmica, perturbando o equilíbrio da microbiota intestinal e a produção normal de produtos metabólicos.”

Diquat e paraquat: primos químicos tóxicos

A revisão coincide com preocupações crescentes sobre os impactos de longo prazo dos agrotóxicos, incluindo o glifosato e a atrazina, na saúde, especialmente em crianças e comunidades agrícolas. Ela também ocorre em meio a esforços dos fabricantes de tentarem limitar as indenizações por danos em processos judiciais relacionados a doenças e mortes relacionadas aos seus venenos — e após anos em que a indústria de agrotóxicos buscou enganar o público sobre seus produtos.

Herbicidas bipiridílicos, como o diquat e seu equivalente altamente tóxico, o paraquat, atuam gerando certos tipos de moléculas (espécies reativas de oxigênio, ou ROS) que destroem as células. O diquat permanece ativo no ambiente por até 10 dias em ecossistemas aquáticos e ainda mais tempo no solo, onde pode ser absorvido pelas partículas do solo e potencialmente entrar na cadeia alimentar, afirmam os pesquisadores.

O diquat é proibido na UE, Suíça e Reino Unido devido aos seus riscos ambientais e à saúde. No entanto, assim como o paraquat, que tem sido associado à doença de Parkinson e cujo uso é proibido em mais de 70 países, o diquat ainda é usado nos EUA para controlar ervas daninhas agrícolas e aquáticas de folhas largas e gramíneas. 

Aplicado em batatas, colza, cana-de-açúcar e algodão, entre outras culturas, também é usado para secar silagem (plantas verdes fermentadas usadas para alimentação animal) e feno para armazenamento. Registrado na EPA como um agrotóxico de contato não seletivo, o diquat mata toda a vegetação que toca. 

Ele também continua a ser vendido para países como o Brasil, onde seu uso aumentou desde que o paraquate foi proibido em 2020 e os pequenos agricultores estão menos propensos a usar equipamentos de proteção individual (EPI).

Os danos dos herbicidas começam no intestino

Quando ingerido, o diquat danifica diretamente as células epiteliais intestinais que revestem o intestino. Algumas das maneiras pelas quais o diquat faz isso são:

  • Encurtamento das projeções digitiformes (vilosidades) e aprofundamento de pequenas cavidades no revestimento intestinal, prejudicando a absorção de nutrientes
  • Gerando ROS que danificam as proteínas de junção estreita, enfraquecendo a barreira intestinal e permitindo que toxinas e patógenos vazem para a corrente sanguínea
  • Liberação de grandes quantidades de citocinas pró-inflamatórias, proteínas que pioram a inflamação

O diquat perturba o ecossistema microbiano do intestino, reduzindo bactérias benéficas como Lactobacillus e aumentando a quantidade de micróbios nocivos, afirmam os pesquisadores. Ele também altera a produção de metabólitos microbianos essenciais, esgotando os recursos que combatem doenças e dificultando a recuperação intestinal.

O papel do Diquat no “eixo intestino-órgão”

Estudos sugerem que o impacto nocivo do diquat no intestino pode se estender a outros órgãos, afirmam os pesquisadores. Em particular:

  • Rins : O diquat causa lesão renal aguda ao danificar as membranas celulares e ativar vias inflamatórias, o que causa cicatrizes e piora a função renal.
  • Fígado : O herbicida desregula as mitocôndrias, os centros de energia da célula, causando morte celular e promovendo inflamação e danos ao fígado. Isso também pode desencadear respostas imunológicas que danificam tecidos além do intestino.
  • Pulmões : embora menos tóxico que o paraquat, o diquat gera moléculas nocivas que podem danificar o tecido respiratório.
  • Outros: O herbicida também pode interferir na autofagia, um processo que limpa proteínas danificadas das células, o que pode levar a danos mais amplos aos órgãos.

A cascata resultante de impactos tóxicos pode servir como uma “força motriz fundamental” no desenvolvimento da síndrome da disfunção de múltiplos órgãos (SDMO), embora os mecanismos precisos ainda não estejam claros, sugerem os pesquisadores. A SDMO é uma condição potencialmente fatal que ocorre quando dois ou mais sistemas orgânicos falham.

Apelos para estudos em humanos e métodos de desintoxicação de agrotóxicos

No entanto, eles afirmam que ainda existem lacunas importantes na pesquisa. A maioria dos estudos revisados ​​baseou-se em dados de modelos com roedores, com ausência de estudos em humanos para confirmar os resultados. Os modelos também não simularam a exposição a baixas doses, a longo prazo, no mundo real.

Dada a complexidade do microbioma intestinal e a influência de fatores como dieta e genética, os pesquisadores pedem estudos epidemiológicos em populações expostas ao diquat, estratégias de desintoxicação direcionadas centradas no intestino e modelos aprimorados para entender melhor todos os efeitos do diquat.

“A investigação [aprofundada] de seus mecanismos toxicológicos continua sendo essencial para a restauração ecológica em áreas contaminadas, o manejo clínico de casos de envenenamento e a avaliação da toxicidade de herbicidas estruturalmente relacionados”, afirmam eles.

Referência

He C, Cai G, Jia Y, Jiang R, Wei X, Tao N. Efeito do diquat na saúde intestinal: mecanismos moleculares, efeitos tóxicos e estratégias de proteçãoFrontiers in Pharmacology . 2025;16. doi:10.3389/fphar.2025.1562182

Tradução livre, parcial, de Luiz Jacques Saldanha, junho de 2025

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