Saúde: Exposição a misturas químicas associada a um risco aumentado de autismo em crianças

Foto de Caleb Woods no Unsplash

https://www.ehn.org/chemical-mixtures-autism-risk

Equipe de Ciências da Saúde Ambiental

16 mai 2025

[Nota do Website: Esse é um tema que viemos, no nosso website, tratando há muitos anos. Lastimavelmente, neste período de tempo, não temos visto nada sendo feito no sentido de preservar a saúde e a sanidade mental de nossas novas gerações. Estamos sendo, consciente ou inconscientemente, criminosos em relação a essas novas criaturas que estão nascendo nas últimas décadas. Para mudarmos nossas práticas, vale a pena ler a entrevista que está na abertura de nossos trabalhos, na forma de um e-book, que trata dessa realidade, além disso, pode-se acessar todos os materiais já publicados sobre o , incluindo o documentário ‘Amanhã, seremos todos cretinos?’. Informações existem, em português. Conhecê-las, é uma escolha sua].

Embora muitos estudos anteriores tenham considerado apenas os efeitos de substâncias químicas individuais, um estudo recente publicado na Environmental Research descobriu que a exposição de mães grávidas a diversas classes de substâncias químicas aumenta o risco de seus filhos desenvolverem transtorno do espectro autista (TEA).

  • A exposição cumulativa a uma mistura de produtos químicos (incluindo PFAS, parabenos, agrotóxicos organofosforados, fenóis, como bisfenol A/BPA, e ftalatos) foi associada a um maior risco geral de TEA e neurodesenvolvimento atípico.
  • Cada uma das classes químicas estudadas também foi associada a um risco aumentado de TEA, e algumas (incluindo substâncias químicas comuns em plásticos, como ftalatos e BPA) foram associadas ao neurodesenvolvimento atípico.
  • A associação com TEA foi mais forte para misturas químicas do que para classes químicas individuais isoladamente, o que implica que as interações entre produtos químicos podem desempenhar um papel no aumento do risco.

Citação chave:

“Nossas descobertas destacam a importância de considerar múltiplas classes químicas com mecanismos de ação semelhantes (por exemplo, distúrbios da tireoide) em estudos epidemiológicos.”

Por que isso é importante:

Indivíduos em todo o mundo estão constantemente expostos a uma ampla variedade de substâncias químicas por meio de interações com o meio ambiente, produtos de consumo e até mesmo com o abastecimento de alimentos e água. Pouquíssimos desses produtos químicos são regulamentados, e os riscos à saúde são normalmente considerados apenas com base em cada substância química, ignorando o potencial de efeitos cumulativos. Embora os órgãos reguladores tenham começado a reconhecer a exposição a misturas químicas, sua abordagem para regular essas exposições ainda é muito limitada para levar em conta toda a extensão dos potenciais danos à saúde humana.

O ESTUDO TEVE COMO:

Introdução

O transtorno do espectro autista (TEA) é uma preocupação crescente de saúde pública, com 1 em cada 36 crianças diagnosticadas com TEA nos EUA (nt.: destaque em negrito dado pela tradução para ressaltar a dimensão da problemática!). Sua taxa de prevalência aumentou mais de três vezes nas últimas duas décadas (Maenner et al., 2023). Embora as causas desse aumento não sejam totalmente compreendidas, exposições químicas gestacionais ou no início da vida são cada vez mais conhecidas como fatores contribuintes (Braun, 2017; Lyall et al., 2017). Produtos químicos disruptores endócrinos, como parabenos, substâncias perfluoroalquiladas e polifluoroalquiladas (PFAS), fenóis, ftalatos e ésteres organofosforados (OPEs/organophosphate esters, como retardadores de chama-nt.), foram detectados em amostras biológicas de mulheres grávidas, o que implica exposições químicas gestacionais ao feto em desenvolvimento (Adibi et al., 2008; Lee et al., 2018b; Li et al., 2023; Monroy et al., 2008; Song et al., 2020; Zheng et al., 2022). Muitos estudos epidemiológicos relataram associações entre exposições gestacionais a essas substâncias químicas e TEA ou comportamentos relacionados a ele (Ames et al., 2023; Barkoski et al., 2019; Haggerty et al., 2021; Kim et al., 2021; Oh et al., 2021; Shin et al., 2018, 2020a). No entanto, estudos anteriores investigaram apenas uma ou algumas classes químicas ou carecem de uma análise dos efeitos da mistura química, como interações aditivas, sinérgicas ou antagônicas entre as classes químicas.

Objetivo

Examinamos o impacto de misturas químicas multiclasse no risco de TEA, usando dados da coorte MARBLES (Marcadores de Riscos de Autismo em Bebês – Sinais Precoces de Aprendizagem).

Métodos

As crianças foram avaliadas clinicamente aos 3 anos de idade e classificadas como TEA, desenvolvimento típico (DT/typical development) ou não-DT com outras preocupações neurodesenvolvimentais. No sangue ou urina de 105 mães grávidas, quantificamos 42 biomarcadores em 5 classes químicas: substâncias perfluoroalquil e polifluoroalquil (PFAS), parabenos, fenóis, ftalatos e ésteres organofosforados (OPEs). Analisamos apenas 30 biomarcadores detectados em >50% da amostra. Após identificar clusters com perfis químicos semelhantes por meio de agrupamento hierárquico, aplicamos análise discriminante linear (LDA) para calcular as pontuações de resumo de exposição da LDA. Em modelos ajustados por covariáveis, usamos pontuações da LDA para avaliar associações multipoluentes coajustadas (risco relativo [RR]) com TEA ou não-DT, por meio de regressão quase-Poisson. Examinamos ainda o efeito geral da mistura e as interações químicas com regressão da máquina kernel bayesiana.

Resultados

Identificamos quatro grupos distintos: PFAS (Grupo 1), OPEs (Grupo 2), parabenos e triclosan (Grupo 3) e ftalatos e bisfenol A (Grupo 4). Em relação ao TD, as pontuações LDA para cada grupo foram associadas ao aumento do risco de TEA (RR [IC 95%]: 1,14 [1,03, 1,25], 1,12 [1,01, 1,24], 1,17 [1,07, 1,29], 1,17 [1,07, 1,28] para os grupos 1 a 4, respectivamente), enquanto os grupos 2 e 4 foram associados a não-TD (1,07 [1,01, 1,14] e 1,12 [1,05, 1,19], respectivamente). A exposição cumulativa nos quatro grupos foi associada ao aumento do risco de TEA e não-TD. Foram observadas potenciais interações dentro e entre os clusters.

Conclusão

Este estudo mostra que considerar múltiplas classes químicas resultou em associações mais fortes com risco de TEA e não-DT, em comparação a quando investigado separadamente em nossos estudos anteriores.

Tradução livre, parcial, de Luiz Jacques Saldanha, junho de 2025

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