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08 jan 2025
[NOTA DO WEBSITE: Um clamor dramático, mas totalmente real para quem vem acompanhando, há mais de 30 a 40 anos, esse tema: moléculas sintéticas e seus efeitos sobre a saúde humana. E o mais trágico é a postura absolutamente inconsequente e de absoluto desprezo pelos resultados que a ciência ocidental vem demonstrando diuturnamente. Parece que nada é com as corporações petroagroquímicas e seus CEOs, acionistas, cientistas corporativos, funcionários e mais ainda os órgãos públicos que são pagos para defenderem a saúde das populações. Quando viemos, há anos, afirmando, sem temor, de que tudo isso é um crime corporativo estamos coerentes com o que esse documento nos escracha, sem pejo. Mas temos que reafirmar que esta é uma civilização autofágica, suicida e fundada no que tem de pior da ideologia do supremacismo branco eurocêntrico que é adepto da doutrina do capitalismo cruel e indigno. E pior, parece que toda essa sociedade não está assentada na visão de mundo cristã, onde o paradigma básico é o amor ao próximo! Parece que ninguém tem filhos e descendentes que dizem amar!].
Crianças estão sofrendo e morrendo de doenças que pesquisas científicas emergentes associam a exposições químicas, descobertas que exigem uma reformulação urgente de leis em todo o mundo, de acordo com um novo artigo publicado na quarta-feira no New England Journal of Medicine (NEJM).
Escrito por mais de 20 pesquisadores renomados em saúde pública, incluindo um da Agência de Proteção Ambiental dos EUA (EPA) e outro das Nações Unidas, o artigo apresenta “um grande conjunto de evidências” que relacionam diversas doenças infantis a produtos químicos sintéticos e recomenda uma série de ações agressivas para tentar proteger melhor as crianças.
O artigo é um “chamado às armas” para forjar um “compromisso real com a saúde de nossas crianças”, disse Linda Birnbaum, ex-diretora do Instituto Nacional de Ciências da Saúde Ambiental dos EUA e coautora do artigo.
Em conjunto com o lançamento do artigo, alguns dos autores do estudo estão ajudando a lançar um Instituto de Saúde Preventiva (nt.: denominação em inglês – Institute for Preventive Health) para dar suporte às recomendações descritas no artigo e ajudar a financiar a implementação de reformas. Um participante importante no lançamento do instituto é a vice-presidente da Robertson Stephens Wealth Management, Anne Robertson , que é membro da família que construiu a RJ Reynolds Tobacco.
O artigo aponta para dados que mostram inventários globais de aproximadamente 350.000 produtos químicos sintéticos, misturas químicas e plásticos, a maioria dos quais são derivados de combustíveis fósseis. A produção se expandiu 50 vezes desde 1950, e atualmente está aumentando em cerca de 3% ao ano – com projeção de triplicar até 2050, afirma o artigo.
Enquanto isso, doenças não transmissíveis, incluindo muitas que pesquisas mostram que podem ser causadas por produtos químicos sintéticos, estão aumentando em crianças e se tornaram a principal causa de morte e doença entre crianças, escrevem os autores.
Apesar das conexões, que os autores dizem que “continuam a ser descobertas com frequência preocupante”, há muito poucas restrições a esses produtos químicos e nenhuma vigilância pós-comercialização para efeitos adversos à saúde a longo prazo.
“A evidência é tão esmagadora e os efeitos dos produtos químicos manufaturados são tão perturbadores para as crianças, que a inação não é mais uma opção”, disse Daniele Mandrioli, coautor do artigo e diretor do Cesare Maltoni Cancer Research Center no Instituto Ramazzini na Itália. “Nosso artigo destaca a necessidade de uma mudança de paradigma em testes químicos e regulamentações para proteger a saúde das crianças.”
Tal mudança exigiria mudanças nas leis, reestruturação da indústria química e redirecionamento de investimentos financeiros, semelhante ao que foi realizado com os esforços de transição para energia limpa, afirma o documento.
O artigo identifica vários pontos de dados preocupantes para tendências nos EUA nos últimos 50 anos:
- A incidência de câncer infantil aumentou 35%.
- Os defeitos congênitos reprodutivos masculinos dobraram em frequência.
- Os transtornos do neurodesenvolvimento afetam 1 em cada 6 crianças.
- O transtorno do espectro autista é diagnosticado em 1 em cada 36 crianças.
- A prevalência de asma pediátrica triplicou.
- A prevalência da obesidade pediátrica quase quadruplicou, levando a um “aumento acentuado da diabetes tipo 2 entre crianças e adolescentes”.
“A saúde das crianças tem escapado como foco prioritário”, disse Tracey Woodruff , coautora do artigo e diretora do Programa de Saúde Reprodutiva e Meio Ambiente da Universidade da Califórnia em São Francisco (UCSF). “Nós temos negligenciado isso lentamente. A comunidade clínica e de saúde pública e o governo falharam com eles.”
Os autores citam pesquisas que documentam como “mesmo exposições breves e de baixo nível a produtos químicos tóxicos durante os primeiros períodos vulneráveis” no desenvolvimento de uma criança podem causar doenças e deficiências. Exposições pré-natais são particularmente perigosas, afirma o artigo.
“Doenças causadas por exposições químicas tóxicas na infância podem levar a perdas econômicas massivas, incluindo gastos com assistência médica e perdas de produtividade resultantes de função cognitiva reduzida, deficiências físicas e morte prematura”, observa o artigo. “A indústria química externaliza amplamente esses custos e os impõe aos governos e contribuintes.”
O artigo questiona a Lei de Controle de Substâncias Tóxicas dos EUA (TSCA) de 1977 e suas emendas, argumentando que, embora a lei tenha sido promulgada para proteger a saúde pública de “riscos irracionais” representados por produtos químicos, ela não fornece à EPA as autoridades necessárias para realmente cumprir esse compromisso.
Em vez disso, a maneira como a lei é implementada pressupõe que todos os produtos químicos fabricados são inofensivos e benéficos, e sobrecarrega os reguladores governamentais com a identificação e avaliação dos produtos químicos.
“Os riscos que foram reconhecidos foram tipicamente ignorados ou minimizados, e os produtos químicos responsáveis foram autorizados a permanecer em uso sem restrições ou com restrições limitadas”, afirma o artigo. “Nos quase 50 anos desde a aprovação do TSCA, apenas um punhado de produtos químicos foi proibido ou restringido nos mercados dos EUA.”
A supervisão química é mais rigorosa na União Europeia, diz o documento, mas ainda não consegue fornecer proteções adequadas, dependendo fortemente de dados de testes fornecidos pela indústria química e oferecendo diversas isenções, argumenta o documento.
Os autores do artigo prescrevem uma nova abordagem global “precaucionária” que só permitiria produtos químicos no mercado se seus fabricantes pudessem estabelecer, por meio de testes independentes, que os produtos químicos não são tóxicos nos níveis de exposição previstos.
“O cerne da nossa recomendação é que os produtos químicos devem ser testados antes de chegarem ao mercado, eles não devem ser presumidos inocentes apenas para serem considerados prejudiciais anos e décadas depois”, disse Phil Landrigan , um coautor que dirige o Programa para a Saúde Pública Global e o Bem Comum no Boston College. “Todo e qualquer produto químico deve ser testado antes de chegar ao mercado.”
Além disso, as empresas seriam obrigadas a conduzir vigilância pós-comercialização para procurar efeitos adversos de longo prazo de seus produtos.
Isso poderia incluir biomonitoramento das exposições químicas mais prevalentes na população em geral, disse Mandrioli. Registros de doenças desempenhariam outro papel fundamental, disse ele, mas essas abordagens deveriam ser integradas a estudos toxicológicos que podem “antecipar e prever rapidamente efeitos que podem ter latências muito longas em humanos, como o câncer”. Agrupamentos de populações com incidências de câncer aumentadas, particularmente quando são crianças, devem desencadear ações preventivas imediatas, disse ele.
A chave para tudo isso seria um tratado global juridicamente vinculativo sobre produtos químicos que ficaria sob os auspícios das Nações Unidas e exigiria um “órgão de política científica permanente e independente para fornecer orientação especializada”, sugere o artigo.
O documento recomenda que as empresas químicas e de produtos de consumo sejam obrigadas a divulgar informações sobre os riscos potenciais dos produtos químicos em uso e a relatar o inventário e o uso de produtos químicos de “alta preocupação”.
“A poluição por produtos químicos sintéticos e plásticos é um grande desafio planetário que está piorando rapidamente”, afirma o artigo. “Aumentos contínuos e descontrolados na produção de produtos químicos baseados em carbono fóssil colocam em risco as crianças do mundo e ameaçam a capacidade de reprodução da humanidade. A inação em relação aos produtos químicos não é mais uma opção.”
Landrigan disse que sabe que os esforços enfrentam uma escalada árdua e podem ser particularmente desafiadores devido ao novo governo Trump, que é amplamente esperado que seja favorável a políticas de desregulamentação.
“Este é um assunto difícil. É um elefante”, ele disse. “Mas é o que precisa ser feito.”
Tradução livre, parcial, de Luiz Jacques Saldanha, janeiro de 2025