Saúde: A misteriosa ligação entre agrotóxicos e câncer de próstata

https://www.medscape.com/viewarticle/mysterious-link-between-pesticides-and-prostate-cancer-2024a1000k4r

F. Perry Wilson, MD, MSCE

05 de novembro de 2024

[NOTA DO WEBSITE: Mesmo que estejam sendo colocado, por parte do autor, reticências quanto a estes resultados, o simples fato de se estar falando sobre a possível relação entre o agrotóxico e o câncer de próstata, já é um passo a frente. Assim esse ponto já nos dá um indicativo de que estes produtos da revolução verde, que ‘alfabetizou’ todos os países de que existiria a possibilidade do câncer de próstata estar relacionada a esses venenos, é um grande avança na preservação da saúde de todos os seres vivos. Sim, porque até este momento, parecia que estes produtos sintéticos e agressivos, seriam inócuos e que usando-se na dose certa, não haveriam problemas. No entanto, só levantar-se esta questão já rompeu com a falácia da indústria dos agrotóxicos de que não haveria problemas de saúde tanto dos trabalhadores como dos consumidores].

Poster

Esta transcrição foi editada para maior clareza. 

Bem-vindo ao Impact Factor, sua dose semanal de comentários sobre um novo estudo médico. Eu sou o Dr. F. Perry Wilson da Escola de Medicina de Yale.

Esta semana, tenho praticado dizer palavras como “trifluralina”, “thifensulfuron,” e “linuron” (nt.: os três são produtos usados como agrotóxicos na categoria de fungicidas) — e não, não estou trabalhando em uma gravação pirata de audiolivro de O Silmarillion . Estou aprendendo sobre agrotóxicos, incluindo os herbicidas, e sua relação potencial com o câncer de próstata.

Antes de começarmos, vou abordar os “dois lados” disso por um minuto. Sim, agrotóxicos como os herbicidas — produtos empregados em nossas plantações — que são produtos químicos. Muitos deles são moléculas químicas que não são encontradas na natureza (nt.: só esta observação já deveria colocar todos nós em uma posição de alerta: NÃO ENCONTRADAS NA NATUREZA. Ou seja, como nossa ‘natureza’ de nossos corpos irão se confrontar com esta violência contra todas as ‘naturezas’? Assim, nada mais óbvio que ‘algo’ irá acontecer com a nossa ‘natureza. Ou não?). Mas, dito isso, esses são produtos químicos fabulosamente bem-sucedidos (nt.: no nosso ponto de vista exatamente porque ‘não são da natureza’ e com isso agridem todas as ‘natureza’). Seu desenvolvimento é indiscutivelmente responsável pelo mundo que temos hoje. As estimativas sugerem que, sem o uso de herbicidas e/ou outros agrotóxicos, a produtividade das colheitas seria reduzida em cerca de 30% (nt.: infelizmente um ponto de vista completamente atrelado à chamada ‘modernização da agricultura’, hoje confundida com o chamado ‘agribusiness’ ou agronegócio entre nós, que vem sendo alfabetizada pelas corporações petroagroquímicas e que até convence cidadãos ligados à saúde. Será que eles não conhecem o que é agricultura ecológica e que é extremamente positiva e produtiva?). E a estabilidade das colheitas — nossa capacidade de esperar certas produtividades ano após ano, sem nos preocuparmos com pragas (nt.: outra visão precária já que as ‘pragas’ surgem exatamente por se ter esta agricultura industrial e antinatural. As chamadas ‘pragas’, nada mais são do que bio-indicadores de nossa incapacidade de produzirmos alimentos sem misturarmos com venenos. Este é o verdadeiro paradoxo que se deveria tratar quando se fala em ) e mortes em massa — é crítica para a estabilidade social. Se eu estalasse os dedos e fizesse todos eles desaparecerem, rapidamente estaríamos no meio de uma fome mundial (nt.: este foi o paradigma – acabar com a fome do mundo – propugnado pelas fundações das grandes fortunas mundiais, originárias da petroquímica, logo depois da IIª Guerra Mundial e assim a indústria de guerra teria como financiar sua cruel visão de mundo. Vide como vivemos hoje em dia, em todo o planeta. Guerra após guerra!) — sem mencionar uma crise econômica como nunca vimos (nt.: deste paradigma transformou a agricultura em produtora, em grande escala, das ‘commodities’, como a soja e a carne de animais confinados nas grandes monoculturas e que se distanciou completamente dos métodos naturais que sustentam o paradigma da agricultura ecológica ou agroecologia que tem o propósito de produzir alimentos sem contaminações diferente das produções quimificadas e, por isso, contaminadas). 

Mas…poderíamos ter menos câncer de próstata.

Quando se trata da epidemiologia do câncer, a variação é realmente interessante. Se o câncer fosse realmente aleatório — afligindo indivíduos como um raio ou, mais precisamente, como um raio cósmico errante danificando algum DNA — veríamos uma distribuição relativamente uniforme de casos em todo o país, proporcional ao tamanho da população local. 

Mas não é isso que vemos. Vemos pontos críticos, conglomerados, áreas onde há mais diagnósticos e mais mortes. E é aí que a epidemiologia se torna interessante: explicar as fontes dessa variação.

Esta semana, um novo artigo que aparece no periódico Cancer usa essa variação — em todos os Estados Unidos contíguos — para vincular o câncer de próstata a várias categorias de agrotóxicos. O que vou descrever para você tem um nome em epidemiologia. É chamado de “estudo ecológico”. Parece que estamos estudando o impacto de uma nova fazenda solar nas abelhas locais ou algo assim, mas neste contexto se refere ao uso de fontes de dados agregados para fazer inferências sobre doenças. Vou explicar para você.

Os autores dividiram os Estados Unidos em um pouco mais de 3000 condados. Usando dados dos Centros de Controle e Prevenção de Doenças, eles mapearam casos de câncer de próstata e mortes por câncer de próstata em todos esses condados, padronizados para o tamanho da população. Essa é a variação da qual estávamos falando.

Agora… agrotóxicos. Isso é mais complicado. A maioria dos dados veio do National Water-Quality Assessment Project do US Geological Survey. A pesquisa catalogou 295 agrotóxicos diferentes, e os autores contabilizaram quantos quilos de cada um foram usados ​​em cada um desses mais de 3.000 condados. Aqui está o mapa para trifluralina, por exemplo. 

Eles fizeram isso em dois períodos de tempo: 1997-2001 e 2002-2006. Dado que o câncer de próstata leva muito tempo para se desenvolver e ser diagnosticado, eles exploraram a relação entre os agrotóxicos de fase 1 com o câncer de próstata em 2011-2015, e os agrotóxicos de fase 2 com os casos de câncer de próstata em 2016-2020.

Claro, muitas coisas que acontecem no nível do condado podem estar relacionadas ao câncer de próstata que não têm nada a ver com agrotóxicos. Os autores ajustaram para raça, níveis de pobreza, densidade populacional, tipos de produtos agrícolas, utilização de maquinário, avaliação de fazendas e muito mais.

Mas basicamente a pergunta que eles fizeram — 295 vezes, uma para cada agrotóxico — é: os condados com maior exposição a esse agrotóxico têm maiores taxas de câncer de próstata?

Quando você faz 295 testes estatísticos, você está fadado a obter alguns falsos positivos. Para evitar esse problema, os autores usaram o tempo do agrotóxico da fase 1 como uma coorte de descoberta — um lugar para encontrar potenciais carcinogênicos, mas entendendo que alguns falsos positivos iriam se infiltrar. Eles então verificaram esses potenciais carcinogênicos na fase 2, a coorte de validação. E eles nos apresentam apenas os agrotóxicos que estavam significativamente associados ao câncer de próstata em ambas as coortes.

Vinte e duas substâncias se encaixam nessa conta, que estou mostrando aqui. Linhas mais à direita implicam uma ligação mais forte com o câncer de próstata.

Obviamente, não podemos passar por tudo isso, mas vou destacar alguns pontos. Primeiro, não há um tema muito consistente entre esses produtos químicos. Alguns são agrotóxicos e dentre eles alguns são herbicidas. Alguns são fungicidas. Cloropicrina, lá no final, é um “fumigante de solo para todos os fins”, seja lá o que isso signifique — e, de acordo com o Departamento de Estado dos EUA, foi usado como um agente de guerra química pelos russos na Ucrânia (nt.: aqui confirma o que o nosso ponto de vista tratou acima).

Quatro deles também foram associados à mortalidade por câncer de próstata: trifluralina, cloransulam-metil, diflufenzopir e tiametoxam. Um deles, a trifluralina, já é classificado pela Agência de Proteção Ambiental como um possível carcingênico humano, embora alguns outros estudos não tenham corroborado esses resultados. Os outros três são considerados “improváveis ​​de serem carcinogênicos” ou de terem “evidências de não carcinogenicidade”. 

Isso destaca o quão difícil é esse tipo de pesquisa. É claro que essas substâncias não são cancerígenas da mesma forma que, digamos, o amianto é cancerígeno, mas isso não significa que sejam completamente seguras. E captar pequenos sinais de dano é muito difícil em um mundo cheio de milhões de exposições químicas todos os dias. 

Eu nunca usaria um estudo como esse para pedir a proibição de um determinado produto químico. Uma das limitações de qualquer estudo ecológico é que não temos ideia se as pessoas que tiveram câncer de próstata em um condado são as mesmas pessoas que estavam trabalhando com os agrotóxicos (nt.: novamente outra distorção que tratamos acima. A imputação de que é o ‘uso’ que define o efeito dos venenos. E o consumo de alimentos contaminados diretamente e os lençóis hídricos que recebem todos eles, não ficariam afetados?). Não temos amostras de sangue, urina ou cabelo, nenhum tecido de biópsia, nenhum dado de nível individual. Mas um estudo como esse informa a necessidade desses estudos irem mais a fundo e — se formos honestos — fornece suporte para o financiamento daqueles estudos mais difíceis, de nível individual, que exigem.

Como eu disse no começo, há dois lados nessa questão. Agrotóxicos como os herbicidas mudaram o mundo, e honestamente para melhor no geral (nt.: no nosso ponto, um afirmação questionável). Mas como toda tecnologia, há benefícios e danos. E se esses danos podem ser mitigados por boa ciência, tanto melhor. É isso que eu chamo de progresso. 

F. Perry Wilson, MD, MSCE, é professor associado de medicina e saúde pública e diretor do Acelerador de Pesquisa Clínica e Translacional de Yale. Seu trabalho de comunicação científica pode ser encontrado no Huffington Post, na NPR e aqui no Medscape. Ele posta em @fperrywilson e seu livro , How Medicine Works and When It Doesn’testá disponível agora .

Créditos:
Imagens

1: Wikimedia Commons

2: Cancer.gov

3: Sociedade Americana do Câncer

4: Sociedade Americana do Câncer

5: F. Perry Wilson

6: Sociedade Americana do Câncer Medscape © 2024 

Tradução livre, parcial, de Luiz Jacques Saldanha, novembro de 2024

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