Agência dos EUA recusa-se a examinar a toxicidade de aditivos químicos “inativos” nos agrotóxicos

“A ideia de que não estamos avaliando os produtos químicos reais que os agricultores pulverizam é ​​meio ridícula”, disse Bill Freese, diretor do Centro de Segurança Alimentar. 

https://www.theguardian.com/environment/2023/oct/09/epa-cfs-toxic-inactive-ingredients-pesticides

Tom Perkins

09 de outubro de 2023

[NOTA DO WEBSITE: É incrível como os órgãos pagos pela sociedade para protegê-los, opta sempre, em todos os lugares do mundo, pelo interesse das corporações e nunca pela saúde do consumidor. O crime corporativo é ampliado para todos os que são coniventes com sua crueldade humana. Aqui se vê o absurdo da liberação do Glifosato dentro da União Europeia].

A EPA afirma que existem muitas formulações de agrotóxicos para verificar a segurança de ingredientes que entram como aditivos e podem prejudicar humanos, plantas e vida selvagem.

Os ingredientes rotulados como “inativos” nas formulações de agrotóxicos estão potencialmente envenenando o ambiente, as culturas e os animais, mas a Agência de Proteção Ambiental dos EUA (EPA) rejeitou os apelos para examinar a sua toxicidade e riscos.

As regras da agência não exigem que a EPA/ENVIRONMENTAL PROTECTION AGENCY leve em conta os ingredientes que não sejam o princípio ativo quando avalia a segurança das fórmulas de agrotóxicos, apesar do fato de a indústria rotular substâncias perigosas do tipo dos ‘forever chemicals/químicos para sempre’, como as substâncias per e polifluoroalquil (PFAS), como se fossem inertes.

Uma petição legal do Centro de Segurança Alimentar (CFS/CENTER FOR FOOD SAFETY) de 2017 pediu à EPA que fechasse a brecha, mas a agência negou o pedido esta semana. Muitos dos 18 mil agrotóxicos aprovados para uso pela EPA provavelmente permanecerão mais tóxicos do que se imagina, disse Bill Freese, diretor científico do CFS.

“A ideia de que não estamos avaliando os produtos químicos reais que os agricultores pulverizam é ​​meio ridícula”, disse Freese.

O CFS, juntamente com várias outras organizações, apresentou a petição quando a agência estava sob a direção de Scott Pruitt, nomeado por Donald Trump. A EPA ignorou efetivamente a petição, disse o CFS, até que os grupos processaram a agência para forçá-la a responder.

Os grupos argumentaram que ingredientes tidos como inativos são adicionados aos produtos comerciais dos agrotóxicos para melhorarem seu desempenho, tornando-os mais tóxicos para os organismos que visam. Mas isso também pode tornar a fórmula comercial mais tóxica para a vida selvagem, os seres humanos e as plantas que não são visadas.

“As pessoas às vezes não percebem de que ser ‘mais eficaz em matar a praga’, o que parece ser uma coisa boa, para ‘mais tóxico para todos os outros seres’, que é o que, na verdade, a expressão ‘mais eficaz’ significa”, disse Freese. “E como ficam as pessoas, as borboletas ou qualquer outro ser que não seja [pragas como é a] lagarta da raiz do milho?”

Na sua resposta, a EPA alegou que existem demasiadas fórmulas de produtos comerciais para que a agência possa verificar a segurança de todas elas. Afirmou também que a fórmula muda quando um agrotóxico é pulverizado e disperso, pelo que uma avaliação de todo o produto apresentado em sua embalagem comercial já seria enganosa.

Os ingredientes inativos são geralmente adicionados como surfactantes ou agentes penetrantes que ajudam a dispersar os ingredientes ativos ou a torná-los mais absorvíveis. Cerca de 4.000 ingredientes inertes são aprovados para utilização pela EPA, juntamente com 1.000 ingredientes activos, e a indústria não é obrigada a divulgar publicamente as suas fórmulas porque são consideradas segredos comerciais.

É uma pena que eles queiram viver nesta incerteza. Sylvia Wu

Entre os ingredientes “inertes” perigosos que os defensores da saúde pública sabem que são adicionados às fórmulas de agrotóxicos comerciais estão os PFAS/’forever chemicals’, uma classe química da qual muitos são extremamente tóxicos em doses baixas. Outro é o tensoativo/surfactante que aumenta a eficácia dos princípios ativos como a amina de sebo polietoxilada (POEA). Ele pode prejudicar ou matar anfíbios em níveis de exposição muito baixos.

Embora seja perigoso por si só, o POEA também é adicionado ao Roundup/Glifosato, um herbicida amplamente utilizado e controverso. O princípio ativo do Roundup é o glifosato, considerado um provável cancerígeno, e o POEA ajuda as plantas a absorverem o glifosato. Mas Freese observou que o glifosato não é tão cancerígeno sem a adição de POEA, e alguns investigadores suspeitam que os ingredientes se sinergizam para tornar o produto mais tóxico.

A pesquisa também mostra que o POEA faz com que a pele humana absorva mais o produto químico, mas esse produto químico ainda não é considerado quando a EPA avalia a toxicidade do produto comercial Roundup, disse Freese.

Um efeito sinérgico semelhante é observado em uma classe de produtos químicos surfactantes chamados organossiliconos, que são adicionados aos inseticidas neonicotinóides, que se acredita estarem matando as abelhas. A pesquisa mostra que os organossiliconos são tóxicos para as abelhas isoladamente e prejudicam sua capacidade de aprendizagem, mas podem ser mortais quando combinados com neonicotinóides.

O CFS observou pesquisas mais amplas que compararam a toxicidade dos ingredientes ativos com formulações inteiras e descobriram que quase todas eram pelo menos “várias centenas de vezes mais tóxicas do que o seu princípio ativo”.

A lei é clara sobre a questão e a EPA deve considerar toda a fórmula, dizem os defensores da saúde pública. A petição aponta para a linguagem “inequívoca” do Congresso nas leis que regem o uso de agrotóxicos, afirmando que o produto “desempenhará a função pretendida sem efeitos adversos injustificados no ambiente”.

“A linguagem não diz nada sobre ingredientes ativos”, afirma a petição do CFS.

Enquanto isso, a definição de “agrotóxico” do governo federal é “qualquer substância ou mistura de substâncias destinadas a prevenir, destruir, repelir ou mitigar qualquer praga”.

“A definição está aí”, disse Sylvia Wu, advogada sênior do CFS, ao Guardian, destacando a palavra “mistura”. Os grupos de saúde pública estão “analisando as suas opções legais” e podem intentar uma ação judicial, acrescentou.

A EPA reconheceu nas últimas décadas que os produtos químicos agregados ao produtos comercial e tidos como ‘inativos’ podem ser prejudiciais.

“A segurança da formulação, incluindo todos os seus ingredientes, é um fator crítico para saber se o agrotóxico irá desempenhar a sua função pretendida sem efeitos adversos excessivos no ambiente”, escreveu a EPA num documento de regulamentação de 2009. Nessa altura, a EPA propôs exigir que as empresas colocassem ingredientes inertes nos rótulos dos produtos comerciais de agrotóxicos, mas isso nunca aconteceu e a regra foi revogada em 2014.

A resposta da EPA afirmou que não era necessário testar a fórmula inteira porque, uma vez pulverizados, os seres humanos e outros organismos “normalmente não são expostos à formulação intacta numa exposição repetida e de longo prazo”.

Freese reconheceu o contraponto, mas acrescentou que a resposta ainda está errada: “Há um pouco de verdade nisso, mas a solução deles parece ser ignorar todos os ingredientes inertes”.

A EPA tem muitos dados que mostram que muitos ingredientes inativos são prejudiciais, acrescentou Wu, e a agência pareceu reconhecer na sua resposta que tem autoridade para exigir mais informações, mas optou por não o fazer. A decisão é “decepcionante, mas não surpreendente”, disse ela.

“É uma pena que eles queiram viver nesta brecha da clareza da lei”, acrescentou Wu.

Tradução livre, parcial, de Luiz Jacques Saldanha, outubro de 2023.