Como a agricultura acelera a extinção de espécies

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https://www.cbsnews.com/news/agriculture-mass-extinction-60-minutes-2023-01-01/

BRIT MCCANDLESS FARMER

01 DE JANEIRO DE 2023

Esta semana, no 60 Minutes, o correspondente Scott Pelley relata algo que os cientistas estão chamando de sexta extinção em massa. Houve cinco grandes mortes na história do nosso planeta, quando pelo menos 75% das espécies conhecidas desapareceram. A última extinção em massa ocorreu há 66 milhões de anos, quando um asteróide exterminou os dinossauros. Agora os cientistas acham que os humanos estão acelerando outra aniquilação em massa de plantas e animais. Entre as causas desta vez estão a poluição, a destruição de habitats, a superexploração de recursos e as mudanças climáticas.

O ecologista mexicano Gerardo Ceballos está entre os principais cientistas do mundo que tratam sobre extinção. Ele expôs para nós o quão terrível a situação se tornou ao longo do último século.

Gerardo Ceballos: Há apenas 2% dos peixes grandes que estavam nos oceanos há 50 anos. Apenas 2 por cento estão vivos. Perdemos cerca de 70% de todos os animais que existiam no planeta. Todos os grandes animais, todos os mamíferos, pássaros, 70 por cento desapareceram desde 1918. No Sudeste Asiático, você sabe, perdemos 90 por cento da floresta tropical do Sudeste Asiático desde 2000. Portanto, nosso impacto é tão grande que estamos nos tornando este ‘meteorito’ que está impactando o planeta. A diferença com as extinções em massa anteriores é que elas levaram dezenas de milhares, centenas de milhares e até milhões de anos para acontecerem. No tempo em particular, está acontecendo tão rápido, que agora em apenas duas, três décadas — mesmo as espécies que não forem afetadas diretamente pela crise de extinção, não terão tempo suficiente para evoluírem e sobreviverem a esse impacto que estamos provocando no planeta.

A cada dois anos, o World Wildlife Fund produz um documento chamado “relatório do planeta vivo“. É um boletim bienal que detalha a saúde da vida selvagem do planeta Terra, mostrando o declínio médio das populações de espécies desde que foram monitoradas pela primeira vez em 1970.

Rebecca Shaw: Vimos uma mudança muito grande entre o relatório de 2018 e o relatório de 2020 que nos surpreendeu. Passou de 64 por cento para 68 por cento. Você não esperaria ver esse grande declínio em dois anos.

Rebecca Shaw é cientista-chefe e vice-presidente sênior do World Wildlife Fund.

Rebecca Shaw: O que prejudica as populações de espécies globalmente é a destruição do habitat. E essa destruição de seus habitats geralmente vem da expansão das terras agrícolas. Então derrubando a floresta tropical para plantar soja, milho, ou para o pasto para vacas. Não temos mais os serviços que essas florestas tropicais nos fornecem, como estabilizarem o clima do planeta, seus padrões climáticos bem como produzirem alimentos e água potável. Usamos 70% de toda a água doce do planeta para irrigar nossas plantações.

Scott Pelley: Você acabou de dizer que 70% da água doce do planeta é usada para irrigação (nt.: e ainda fazemos no Brasil, o que chamam tecnicamente de ‘herbigação’, ou seja colocar herbicida junto com a irrigação!!) ?

Rebecca Shaw: Sim, é alterado para fins de produção de alimentos e irrigação. 

Scott Pelley: Há algo que possa ser feito para reverter esse processo? E se sim, o que é?

Rebecca Shaw: Uma das coisas mais importantes que podemos fazer no futuro é melhorar muito o que produzimos, onde produzimos, como produzimos. Certifique-se de que estamos comendo alimentos que são amigáveis ​​ao planeta e às espécies e que não desperdiçamos comida. Neste momento, 40% de todos os alimentos produzidos são desperdiçados. E se for esse o caso, significa que você precisa fazer um consumo 40% maior da natureza para produzir esse alimento. E assim, pare de desperdiçar comida.  

Os cientistas que falaram no 60 Minutes disseram que, sem mudar nosso comportamento, essa crise de extinção se tornará irreversível.

Rebecca Shaw: Nenhum dos dinossauros sobreviveu à última extinção em massa. Os humanos não sobreviverão a esta extinção em massa.

Scott Pelley: Por que não?

Rebecca Shaw: Porque exigimos muito da natureza, dos recursos naturais, da estabilidade da natureza e do clima para prosperar. E se não estivermos prosperando, se não tivermos comida para comer, água fresca, ar limpo, não podemos prosperar e não podemos sobreviver. Eu realmente sinto que temos a chance e a oportunidade de trabalhar juntos para determos a mudança climática, o declínio da biodiversidade. E fazemos isso para o nosso próprio bem. E acho que vamos descobrir. Nós apenas temos que descobrir mais rápido do que provavelmente iremos fazer.

Scott Pelley: Tem que acontecer nesta geração?

Rebecca Shaw: Sim. Sim.

Tradução livre, parcial, de Luiz Jacques Saldanha, janeiro de 2023.