https://www.washingtonpost.com/dc-md-va/2022/10/13/dc-anacostia-potomac-river-pollution-lawsuit/
13 de outubro de 2022
O procurador-geral de District of Columbia/DC, Karl A. Racine, anunciou uma ação contra um fabricante de produtos químicos no dia 13 de outubro, alegando que seu agrotóxico contaminou os rios Potomac e Anacostia, que banham a capital federal de Washington, DC, por décadas, com produtos químicos que sabia estarem ligados ao câncer.
Nota da tradução: agregamos essa imagem para se localizar os dois rios que passam por Washington, DC.
Ladeado por ambientalistas e representantes da NAACP/The National Association for the Advancement of Colored People local, Racine (D) disse em uma entrevista coletiva que os efeitos da suposta contaminação da Velsicol Chemical atingiram particularmente os moradores de “pretos e pardos de baixa renda”, em um caso que une justiça ambiental e racial.
“A história do nosso país é tal que sempre que há lixo que precisa ser descartado ou há coisas que podem prejudicar as pessoas, sempre foi para onde as pessoas tinham menos poder”, disse Racine. “E, sim, isso significa comunidades negras e pardas.”
DC Procurador Geral do DC, Karl A. Racine (D), em dezembro no Capitólio. (Jabin Botsford/The Washington Post)
A partir de 1945, a Velsicol, com sede em Illinois, era a única fabricante de clordano agrotóxico para matar insetos, disse Racine. Embora a empresa soubesse que o produto poderia causar câncer em 1959, ele alegou, a Velsicol optou por uma campanha de “desinformação e engano” e continuou a vender o produto até 1988 (nt.: faz parte do texto original a sentença de condenação do mesmo procurador de que a Monsanto pagará US $ 52 milhões para limpeza de contaminação no Potomac, outras hidrovias da área, citado abaixo)
O processo diz que estudos ligaram pela exposição em longo prazo ao clordano, ao câncer de fígado, bem como abortos espontâneos, depressão e doenças da medula óssea. A exposição de curto prazo, diz, tem sido associada a visão turva, dores de cabeça, tremores e insônia, entre outros sintomas do sistema nervoso central.
O clordano se acumula “ao longo do tempo em peixes, pássaros e mamíferos e é encontrado em alimentos, ar, água, solo e sedimentos”, diz o processo, e os moradores do DC “são expostos ao clordano por comerem alimentos contaminados, como vida marinha, respirar ar contaminado ou beber água contaminada”.
Racine alegou que os efeitos do produto químico na saúde continuam na área.
“É assim que os produtos químicos perigosos funcionam: eles não desaparecem se você colocar água neles”, disse ele. “Eles continuam a trabalhar nas pessoas e continuam a deixá-las doentes.”
Os representantes da Velsicol não responderam a um pedido de comentário.
Uma análise de 2016 dos 38 quilômetros de rios e córregos do Distrito Federal descobriu que 20 quilômetros “não estavam em conformidade com os padrões de qualidade da água para clordano”. O processo destacou Poplar Point no Anacostia como uma zona quente particular de contaminação.
Nota da tradução: imagem colocada para o leitor visualizar onde se localiza o ponto destacado pelo texto.
De acordo com o processo, quando o clordano foi banido pelo governo federal em 1988, “aproximadamente 30 milhões de casas e estruturas nos Estados Unidos” haviam sido tratados com ele.
A Velsicol já foi processada na região pelo impacto ambiental de seus produtos. Em 2008, a empresa fez um acordo com o estado de Maryland, que havia processado por supostas violações das leis estaduais sobre poluição da água e substâncias perigosas. A Velsicol concordou então em pagar US$ 200.000 e investigar e limpar suas instalações contaminadas em Chestertown/Maryland.
Desde que Racine venceu a eleição em 2014 como o primeiro procurador-geral eleito do distrito, seu gabinete recuperou mais de US$ 60 milhões em casos relacionados à poluição e ao meio ambiente. Esse valor inclui US$ 52 milhões recuperados da empresa de produtos agrícolas Monsanto e US$ 2,5 milhões da GenOn Holdings, ambos em 2020, por efeitos ambientais negativos na capital do país.
O caso da Monsanto girava em torno da venda e uso de bifenilos policlorados/PCBs (nt.: essa substância foi usada em todo mundo, principalmente em transformadores elétricos para impedir faíscas e explosões. Essa molécula está presente em todos os continentes incluindo os Polos Sul e Norte. Além de disruptor endócrino ele é lipossolúvel, ou seja, fica como uma poupança em todos os tecidos gordurosos, estejam onde estiverem) pelo fabricante do herbicida Roundup no DC entre os anos 1920 e o final dos anos 1970. O processo da cidade alegou que pelo menos 36 cursos d’água em Washington estavam contaminados com altos níveis de PCBs, incluindo os rios Potomac e Anacostia.
Nesse mesmo ano, o escritório de Racine se estranhou com a GenOn sobre uma usina elétrica a carvão de Alexandria, agora fechada.
Racine, que não está concorrendo à reeleição no próximo mês, na data dessa matéria, vinculou o trabalho de seu escritório a questões ambientais e casos proeminentes nacionais de justiça racial.
“Pense em Flint, Michigan, ou Jackson, Mississippi”(nt.: cidades altamente industrializadas, destacando a poluição da indústria automobilística), disse ele. “Quem se machucou lá?” (nt.: destaca que foram as populações de pretos e pardos).
Por Kyle Swenson
Kyle Swenson é um repórter da equipe de questões sociais do The Washington Post.
Ele trabalhou anteriormente no New Times Broward-Palm Beach e Cleveland Scene.
Ele é o autor de “Good Kids, Bad City”.
Tradução livre, parcial, de Luiz Jacques Saldanha, outubro de 2022.