Alegria do acolhimento.
Felipe Mendes
Rio de Janeiro (RJ) | 23 de Maio de 2022
Pré-candidata a deputada federal, liderança indígena acredita que homenagem da revista pode aumentar visibilidade
Foi com supresa e emoção que Sônia Guajajara recebeu a indicação para a lista das 100 pessoas mais influentes do mundo pela revista estadounidense Time nesta segunda (23). Ela acredita que o reconhecimento internacional é uma conquista para todas as pessoas que participam ativamente da luta indígena no Brasil.
“Não é um reconhecimento da luta da Sônia, é um reconhecimento coletivo depois de tudo que a gente vem fazendo pra combater ataques, retrocessos, retirada de direitos. É um esforço que a gente faz todos os dias”, disse, em entrevista ao Brasil de Fato.
Para Sônia, o reconhecimento vem em boa hora e ajuda a dar visibilidade para as pautas indígenas, tanto dentro quanto fora do país. Ela acredita que é necessário que mais pessoas saibam a importância dos povos originários.
“É o momento pra gente sensibilizar as pessoas e conscientizar sobre o papel dos povos e dos territórios indígenas pra toda humanidade, a importância dos territórios protegidos, a demarcação das terras indígenas”, disse.
Sônia afirma que a postura do governo Bolsonaro contra os indígenas e o aumento da violência contra os povos originários estão diretamente ligadas. Para ela, muitas agressões são realizadas por pessoas que “se sentem autorizadas” pela postura do governo. Por isso, o ganho de visibilidade é ainda mais importante.
“Nos últimos anos a gente sentiu que as pessoas passaram a entender melhor e se importar mais com a pauta indígena. A classe artística tem manifestado mais apoio, participado das mobilizações, e eles atingem um público que a gente geralmente não consegue atingir”, destaca.
Pré-candidata a deputada federal pelo PSOL de São Paulo, Sônia disse que é preciso fortalecer a luta indígena também nos espaços institucionais. Junto a outras lideranças indígenas ela criou a “bancada do cocar”, com o objetivo de fazer oposição consistente à bancada ruralista. Hoje, a deputada Joenia Wapichana (Rede-RR) é a única representante dos povos indígenas no congresso.
“Ali no congresso precisa ter a voz da terra, voz da floresta, da biodiversidade. E quem faz essa representação legítima somos nós, indígenas, que nos entendemos com a floresta e o meio ambiente. A gente não quer mais ser só representado, queremos ser nossos próprios representantes”, destacou.
“Lula sinalizou com um ministério dos povos indígenas. Pra gente isso é importante, pode aglutinar ali toda a política indigenista, mas queremos também participar da discussão da construção do país com representação indígena forte também em outros ministérios, como o da Saúde, o da Educação e do Meio Ambiente. Queremos estar juntos na reconstrução de direitos perdidos nos últimos anos”, concluiu.
Edição: Rodrigo Durão Coelho
Sônia Guajajara entra na lista das 100 pessoas mais influentes do mundo pela revista “Time”
Redação
Rio de Janeiro (RJ) | 23 de Maio de 2022
Sônia Guajajara tem mais de duas décadas de militância pelos direitos dos povos indígenas brasileiros – Fedrico Zuvire
Boulos afirma que Sônia é “inspiração”; cientista brasileiro que atua na África do Sul também foi incluído na lista
A liderança indígena Sônia Guajajara foi incluída na lista das 100 pessoas mais influentes da revista Time, publicada nos EUA e divulgada nesta segunda-feira (23). Ela é uma das duas pessoas brasileiras na lista, ao lado do cientista Túlio de Oliveira, que atua na África do Sul e foi um dos responsáveis pela identificação da variante ômicron do vírus da covid-19.
Nascida na Terra Indígena de Araribóia, no Maranhão, Sônia dedicou a vida para combater a invisibilidade dos povos indígenas. Em cerca de duas décadas de atuação na luta pelos direitos das populações originárias, atuou em diferentes organizações e movimentos, como a Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib), da qual é coordenadora executiva.
Pré-candidata a deputada federal pelo PSOL em São Paulo, Guajajara entrou para a história da política brasileira em 2018, quando foi candidata a vice-presidente na chapa de Guilherme Boulos (PSOL). Foi a primeira indígena a concorrer ao cargo.
Foi Boulos, aliás, quem escreveu o perfil de Guajajara na Time. Convidado pela revista para apresentar a colega de partido, Boulos destacou o fato de ela ter saído de casa aos 10 anos para trabalhar e, contrariando as estatísticas, ter chegado ao ensino superior. Ela é professora e auxiliar de enfermagem.
“Sônia é uma inspiração, não só para mim, mas para milhões de brasileiros que sonham com um país que quita suas dívidas com o passado e finalmente acolhe o futuro”, destacou Boulos.
Tulio de Oliveira
Vivendo na África do Sul há mais de vinte anos, o cientista brasileiro Tulio de Oliveira foi um dos primeiros pesquisadores a alertar sobre a gravidade da variante ômicron. Ele é diretor do Centro para Respostas e Inovação sobre Epidemias do país africano. Oliveira foi nomeado junto de Sikhulile Moyo, diretor de laboratório do Laboratório de Referência de HIV de Botswana-Harvard, que também trabalhou na identificação da variante.
Elaborada anualmente desde 2004, a lista da Time reúne pessoas que contribuem para mudanças no mundo – sejam boas ou ruins. Em 2020, por exemplo, o presidente Jair Bolsonaro (PL) foi incluído na lista e duramente criticado pela condução da resposta à pandemia, pela recessão econômica e pelo desmatamento na Amazônia. Em 2022, os líderes da Rússia e da Ucrânia, Vladimir Putin e Volodymyr Zelensky, estão entre as personalidades listadas.
Edição: Rodrigo Durão Coelho