AUTISMO: exposição pré-natal e infantil, a agrotóxicos ambientais.

[Prenatal and infant exposure to ambient pesticides and autism spectrum disorder in children: population based case-control study]


(NOTA DO SITE: há uns dias publicamos um material sobre o glifosato e é importante o que se diz no final sobre ser uma mentira relacionar este veneno agrícola ao autismo. Parece que mentira não é, pelo menos pelo que mostra esta publicação neste periódico inglês. Fica a reflexão para cada um de nós, solitários consumidores de alimentos e ‘ingênuos’ aplicadores em nossos jardins, parques, pátios de escolas etc, de soluções ‘estéticas’ tipo: ‘mata-mato’, onde transitam crianças e mães muitas vezes grávidas).

https://www.bmj.com/content/364/bmj.l962

Access The BMJ (British Medical Journal)

Auxiliando médicos a fazerem melhores diagnósticos desde 1840.

O BMJ começou há 175 anos como um periódico médico, publicando artigos sobre natimortos, amputações de braços e o clima da Ilha de Wight.


BMJ 2019; 364 doi: https://doi.org/10.1136/bmj.l962 (Published 20 March 2019)Cite this as: BMJ 2019;364:l962

Autores:

  1. Ondine S von Ehrenstein, associate professor2,  
  2. Chenxiao Ling, research assistant2,  
  3. Xin Cui, research assistant4,  
  4. Myles Cockburn, professor5,  
  5. Andrew S Park, research assistant2,  
  6. Fei Yu, researcher6,  
  7. Jun Wu, associate professor7,  
  8. Beate Ritz, professor9

Authors affiliations: (Accepted 11 February 2019)

  1. 1Department of Community Health Sciences, Fielding School of Public Health, University of California, PO Box 951772, Los Angeles, CA 90095-1772, USA
  2. 2Department of Epidemiology, Fielding School of Public Health, University of California, Los Angeles, CA, USA
  3. 3Perinatal Epidemiology and Health Outcomes Research Unit, Division of Neonatology, Department of Pediatrics, Stanford University School of Medicine and Lucile Packard Children’s Hospital, Palo Alto, CA, USA 
  4. 4California Perinatal Quality Care Collaborative, Palo Alto, CA, USA
  5. 5Preventive Medicine, University of Southern California, Los Angeles, CA, USA
  6. 6Department of Biostatistics, Fielding School of Public Health, University of California, Los Angeles, CA, USA
  7. 7Program in Public Health, Susan and Henry Samueli College of Health Sciences, University of California, Irvine, CA, USA
  8. 8Department of Environmental Health Sciences, Fielding School of Public Health, University of California, Los Angeles, CA, USA
  9. 9Department of Neurology, Geffen School of Medicine, University of California, Los Angeles, CA, USA

Resumo

Objetivo: Examinar a associação entre a exposição nos primeiros momentos do desenvolvimento fetal a uma ambiente com agrotóxicos e o transtorno do espectro do autismo.

Projeto: Estudo de caso – baseado no controle de população.

Cenário: Principal região de produção agrícola da Califórnia, Central Valley, utilizando dados de nascimento entre 1998 e 2010 do Office of Vital Statistics.

População: 2961 indivíduos com diagnósticos de transtorno do espectro do autismo, baseados no Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders, quarta edição, revisada (até 31 de dezembro de 2013), incluindo 445 com comorbidade (nt.: duas ou mais doenças etiologicamente relacionadas) de deficiência intelectual, foram identificados através do California Department of Developmental Services, conectados com seus registros de nascimento. Controles, originados dos registros de nascimento, foram combinados aos casos 10:1 por sexo e ano de nascimento.

Exposição: Dados do estado da Califórnia exarados do Pesticide Use Reporting foram integrados dentro da ferramenta de informações geográficas para estimar exposições, pré-natal e na primeira infância, a agrotóxicos (medidos em libras – pounds – de agrotóxicos aplicados por acre/mês dentro de um perímetro de 2000 metros da residência materna). Foram selecionados 11 agrotóxicos de uso intensivo para serem examinados a priori, de acordo com a evidência prévia de toxicidade ao neuro-desenvolvimento tanto in vivo como in vitro (exposição definida como sempre versus nunca, para cada agrotóxico durante períodos específicos do desenvolvimento).

Medida da consequência principal: A razão de possibilidades (nt.: odds ratios/O.R.é a razão entre a chance de um evento ocorrer em um grupo e noutro) e os intervalos de confiança de
95%, usando a regressão logística multivariável foram empregados para avaliar as associações entre a exposição ao agrotóxico e o transtorno do espectro do autismo (com ou sem deficiência intelectual) nos filhos, ajustando os fatores de confusão.

Resultados: O risco do transtorno do espectro de autismo foi associado com a exposição pré-natal ao glifosato (odds ratio/O.R. – 1,16, o intervalo de confiança foi de 95% de 1,06 a 1,27), clorpirifós (1,13, e de 1,05 a 1,23), diazinon (1,11, de 1,01 a 1,21), malathion (1,11, de 1,01 a 1,22), avermectin (1,12, de 1,04 a 1,22) e permethrin (1,10, de 1,01 a 1,20). Para o transtorno do espectro do autismo com deficiência intelectual, as odds ratios estimadas foram maiores (em torno de 30%) para a exposição pré-natal ao glifosato (1,33, de 1,05 a 1,69), clorpirifós (1,27, de 1,04 a 1,56), diazinon (1,41, de 1,15 a 1,73), permethrin (1,46, de 1,20 a 1,78), brometo de metila (1,3, de 1,07 a 1,64) e miclobutanil (1,32, de 1,09 a 1,60); exposição no primeiro ano de vida aumentaram as possibilidades para o transtorno com comorbidade da deficiência intelectual acima de 50% para algumas dos agrotóxicos.

Conclusão: As descobertas sugerem que os riscos do transtorno do espectro do autismo às crianças, aumenta após a exposição pré-natal a um ambiente com agrotóxicos dentro dos 2 mil metros da residências de suas mães durante a gravidez quando comparadas com filhos de mulheres da mesma região sem tal exposição. A exposição infantil pode aumentar mais os riscos para o transtorno do espectro do autismo com comorbidade de deficiência intelectual.

LEIA MAIS:

(HTTPS://WWW.BMJ.COM/CONTENT/364/BMJ.L962)

Conclusões

Nossas constatações sugerem que o risco do transtorno do espectro do autismo aumenta com a exposição pré-natal e infantil a vários agrotóxicos que permanecem nos ambientes comuns, que demonstraram afetar o neurodesenvolvimento em estudos experimentais. Pesquisas adicionais devem ser translacionais (nt.: pesquisas que vão da ciência básica até a aplicação prática deste conhecimento), integrando abordagens experimentais e epidemiológicas para se elucidar ainda mais os mecanismos subjacentes ao desenvolvimento deste transtorno. No entanto, sob o ponto de vista da saúde pública e da medicina preventiva, nossas descobertas sustentam a necessidade de evitar-se exposições nas fases pré-natal e infantil a agrotóxicos para protegermos o desenvolvimento inicial do cérebro (nt.: importantíssimo a sociedade resguardar o desenvolvimento neurológico de suas crianças, quanto ao seu futuro, num tempo onde ainda são total e completamente indefesas, dependentes e vulneráveis! Sem contar todos os outros seres planetários, além dos humanos!).


Tradução livre de Luiz Jacques Saldanha, março de 2019.