Porque não plantar hortas em garrafas PET

Plantio de horta em garrafas pet.

foto: Exame.com

 

 

https://ateliedashortas.com.br/porque-nao-plantar-hortas-em-garrafas-pet/

 

Sempre orientamos nossos alunos a não plantarem hortas em garrafas PET. Muito menos em pneus, galões e barris reaproveitados. Neste post vou explicar o porquê da minha horta não ser feita neste tipo de recipiente.

 

(Nota do nosso website: A autora não incluiu algo que também defendemos como perigos: canos de PVC. A razão está no link das palavras PVC e Vinil – observar neste link que a molécula básica do polímero – MVC – é considerada nos EUA como cancerígena).

 

Na internet hoje vemos milhares de posts e tutoriais ensinando a plantar hortas em garrafas PET. Isso acaba causando uma imensa confusão e a falsa sensação de preocupação com a natureza, na cabeça das pessoas. Quando plantamos uma horta orgânica, zelamos pela qualidade do alimento que será cultivado, um alimento puro, que não fará mal à saúde de quem consumi-lo. Além disso, devemos também pensar na saúde do planeta, dos animais, de todo o ecossistema.

Reciclagem é um assunto que tem tudo a ver com essa preocupação com o planeta. Devemos sim aproveitar e dar novo destino a esses materiais que demoram ano e anos para se decomporem.

O problema é que, durante a decomposição, esses materiais soltam inúmeros contaminantes químicos no solo. Essa decomposição acontece todos os dias, ou seja, a garrafa não demora 100 anos para começar a se decompor, esse processo é gradual. E no solo da minha horta, eu não quero mesmo esses produtos químicos. Por isso sempre oriento aos meus alunos a não plantarem hortas em garrafas PET.

Horta em Garrafas PET

Bonitinha, lúdica, criativa. Sim, ela é tudo isso. Mas qual o risco real de plantar hortas em garrafas PET ?

O plástico da garrafa PET contém, na imensa maioria das vezes, BPA (Bisfenol A), um composto utilizado na produção de plásticos em geral. Esse material é liberado em altas doses da garrafa para a água, o refrigerante, os alimentos e para o solo da horta quando submetido a temperaturas um pouco mais altas. Por isso também não devemos aquecer alimentos em recipientes plásticos que contenham BPA.

Como a nossa horta fica invariavelmente ao sol, durante esse aquecimento do seu vaso de garrafa PET serão liberados todos estes produtos tóxicos para a planta. Esses produtos se misturarão com a água da rega e serão absorvidos pelas raízes…

E qual o risco que o BPA oferece à saúde? Ele é um DISRUPTOR ENDÓCRINO. Os agem no corpo humano desregulando glândulas hormonais, a produção dos hormônios, a qualidade do hormônios, e muitos estudos sugerem inclusive associação a alguns tipos de câncer. Para quem quiser se aprofundar no assunto, sugiro a leitura deste estudo de Harvard, que comprovou um aumento de 60% dos níveis de BPA na urina de pessoas que utilizaram garrafas plásticas por 1 semana!

O BPA faz muito mal à saúde, e já foi proibido na Europa há muitos anos, porém no Brasil apenas em 2012 foi proibido o uso do BPA na fabricação de mamadeiras. Para todo o resto, ainda está liberado.

Devemos reciclar as garrafas? Sim! Inúmeras produtos estão sendo desenvolvidos utilizando as garrafas como matéria prima. Tecidos, materiais de construção, estão sendo produzidos através da reciclagem deste material. Se você quiser reaproveitar na sua casa as garrafas, te indico que as utilize na produção de artesanato, potes para guardar coisinhas, porta carregadores de celular. Enfim, para qualquer coisa, menos para plantar a sua comida. Se quiser plantar flores, tudo bem também!

Horta em Barris e Tonéis

Além de todo o problema já explicado no plantio e hortas em garrafas PET (quando estes barris são plástico), normalmente esses recipientes já acondicionaram tintas, vernizes, materiais químicos, venenos.

Mesmo se lavados, água não remove a contaminação destes produtos no plástico, então o solo da sua horta será aos poucos contaminado com muitos produtos indesejados. Eu não recomendo!

Horta em Pneus

Muito se vê projetos de  hortas em pneus, inclusive em escolas… Qual o perigo? Neste caso, a preocupação é com a lixiviação dos produtos químicos existentes nos pneus. Como no caso da garrafa PET, o pneu exposto ao sol e à chuva começa a ressecar e desprender partículas no solo, inclusive de metais pesados. Normalmente as pessoas pintam o pneu, pensando que assim o protegerão dos efeitos do sol, porém as tintas também contém metais pesados e contaminantes que acabam piorando a situação.

Foto: Jaboticabal News

Os pneus são realmente um grande problema no gerenciamento dos resíduos sólidos no mundo, pois demoram 600 anos para se decompor, ocupam muito espaço, acumulam água dentro (o que acaba ocasionando várias doenças). Porém, sua reciclagem deve ser feita por empresas especializadas, que os transformam em asfalto. E antes de ser reciclado ele deve ir para a recauchutagem, para aumentar a vida útil do material e evitar que novos pneus precisem ser fabricados.

Qual o melhor vaso para a horta?

Para a horta orgânica, o melhor vaso que existe é o de barro. Ele é barato, pode ser encontrado em todo o Brasil, é feito de um material natural (que conserva as mesmas condições de temperatura e umidade do solo – a terra nunca fica super quente, como em vasos de plástico). Ele ainda acumula água nas suas paredes, e funciona como um reservatório para as plantas no caso de uma seca.

Para semear, produzir mudas pequenas, não tem problema o vaso ser de plástico. Essas mudas ficarão na sombra ou meia sombra, e serão replantadas depois. Além disso, a produção fica mais fácil e barata, então ok! Mas estas mudas que compramos em vasos de plástico devem ser sempre replantadas em vasos maiores, ou no chão mesmo.

Horta vertical em pequenos vasos de barro

E, se você quer aprender a plantar uma horta em vasos de barro, leia este outro post do nosso blog, onde explicamos todo o passo-a-passo.

Mãos à Horta!

SOBRE: CAROLINA MAZZEI

Formou-se em 2000 pela FAU Mackenzie. Iniciou sua carreira de arquiteta paisagista no escritório da arquiteta Isabel Duprat, em 2000, onde permaneceu até o ano de 2004. Nesse período colaborou no desenvolvimento de diversos projetos, como o do edifício Bank Boston, em São Paulo, o restauro do Jardim das Esculturas do MAM, e de vários projetos residenciais.Em 2006 se tornou sócia do Ateliê onde dirige o Departamento de Paisagismo e Desenho Urbano.