A Agência Internacional para a Pesquisa sobre o Câncer (IARC), da Organização Mundial de Saúde (OMS), alertou que o herbicida 2,4-D, o segundo mais utilizado na Argentina, é “possivelmente cancerígeno”. O agrotóxico é empregado, entre outros usos, na fase prévia da semeadura de soja e milhos transgênicos. Em março passado, o mesmo organismo internacional havia confirmado que o glifosato produz dano genético (antessala de diversas enfermidades) e também o vinculou ao câncer. O 2,4-D é comercializado por Dow Agrosciences, Nidera e Monsanto.
http://www.ihu.unisinos.br/noticias/544240-outro-herbicida-em-suspenso
A reportagem é de Darío Aranda, publicada por Página/12, 03-07-2015. A tradução é do Cepat.
Fonte: http://goo.gl/NrfIol |
“Há fortes indícios de que o 2,4-D induz ao estresse oxidativo, um mecanismo que pode funcionar nos seres humanos e existe evidência moderada de que causa imunossupressão”, detalha o relatório da IARC-OMS, datado em 23 de junho passado. Ressalta que foi classificado como “possível cancerígeno para humanos” e destaca que ainda não há evidência determinante. O parecer foi divulgado após uma “ampla revisão” da última literatura científica disponível, realizada por um grupo de trabalho de 26 especialistas, de 13 países.
O 2,4-D (ácido 2,4-diclorofenoxiacético) começou a ser utilizado em 1945 para o controle de plantas indesejadas (“ervas daninhas”, segundo a linguagem técnica agrária). Depois do glifosato, é o herbicida mais utilizado da Argentina. É empregado em plantações de trigo, cevada, centeio, aveia, milho, sorgo, papa, cana-de-açúcar e arroz, entre outros. Não é utilizado sobre a soja, mas sim no chamado “alqueive químico”, para eliminar com venenos as malezas antes da semeadura.
“O alqueive era realizado apenas com o glifosato, assim que se iniciou com a semeadura direta, mas, há 15 anos, utiliza-se 2,4-D para as ervas daninhas resistentes ao glifosato. Por tal razão, são utilizados os dois produtos químicos questionados pela OMS em milhões de hectares sobre os quais se cultiva a soja”, explicou Fernando Frank, daAssociação Campesina do Vale de Conlara (San Luis), engenheiro agrônomo e pesquisador do efeito dos agrotóxicos.
Em março passado, a IARC-OMS classificou o glifosato como “provável cancerígeno” (foi classificado no nível dois em periculosidade, em uma escala de cinco). Ficou confirmado que produz dano genético. Na Argentina, são utilizados mais de 200 milhões de litros de glifosato por ano. A Federação Sindical de Profissionais da Saúde da Argentina(Fesprosa, que reúne 30.000 profissionais da saúde), a Sociedade Argentina de Hemato-Oncologia Pediátrica(Sahop) e pesquisadores das universidades de Rosário, Rio Claro, Córdoba, La Plata e Buenos Aires pediram medidas urgentes para proteger a população.
O documento do INTA, “Evolução do mercado de herbicidas na Argentina”, confirma o aumento de agrotóxicos. Em 1991, foram utilizados 19 milhões de litros. Vinte anos depois (em 2011), chegou-se a 252 milhões de litros. Os três mais usados são: glifosato; 2,4-D e atrazina.
Frank explicou que, em fins dos anos 1970, deixou-se de fabricar o 2,4-D nos Estados Unidos e Europa, e os principais produtores são China, Taiwan, México, Brasil, Indonésia e Argentina. “O 2,4-D é muito perigoso para a saúde e o meio ambiente. E na atualidade está sendo promovido para um maior uso, com o claro incentivo das empresas”, alertou.
Seis províncias já proibiram ou limitaram o 2,4-D: Santa Fé, Chaco, Entre Rios, Córdoba, Tucumán e Santiago del Estero. Em março, um grupo de cinco organizações sociais solicitou ao Serviço Nacional de Saúde e Qualidade Agroalimentar (Senasa) que seja realizado um processo de análise de riscos e que seja emitida a proibição do herbicida em todo o país. As organizações (BIOS, Fórum Saúde e Meio Ambiente de Vicente López, Ação pela Biodiversidade e Fórum Ambiental de General Viamonte) afirmaram no escrito: “Estudos científicos independentes nos apontam que com o uso de 2,4-D existe uma situação de risco grave e irreparável à saúde humana, ao meio ambiente e à biodiversidade”. Denunciaram que os estudos para liberar os agroquímicos são de curto prazo (90 dias) e não de longo alcance (dois anos), de acordo com que a literatura científica toxicológica estabelece.
No dia 17 de abril passado, na Argentina, foi aprovada uma nova soja transgênica, da multinacional Dow Agrosciences. Especialmente pensada para ser utilizada com três produtos químicos: glifosato, glufosinato de amônio e 2,4-D. O Estado não fez estudos próprios e o expediente de aprovação é confidencial.
A ONG Natureza de Direitos realizou uma apresentação judicial, ante a Corte Suprema de Justiça, para que se suspenda a nova soja transgênica, mas foi rejeitada pelo máximo tribunal (alegou-se que não cumpria os requisitos de gravidade, nem de urgência). O advogado denunciante, Fernando Cabaleiro, anunciou que recorreu à Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH). Alertou que com a nova soja “aumentará exponencialmente” o uso de 2,4-D e advertiu: “O parecer da IARC é oportuno e a Corte Suprema devia levá-lo em consideração. A combinação química que as empresas biotecnológicas impulsionam é a de glifosato e 2,4-D. Além disso, querem o perigoso herbicida paraquat. Será como um golpe de misericórdia”.
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