A biologia sintética poderia abrir outra caixa de Pandora.

Haiti, o país mais pobre do ocidente, é o principal produtor mundial de vetiver e é impossível ignorar sua presença no sudoeste da nação caribenha. Porém os agricultores que o cultivam com dificuldades poderiam receber um duro golpe com a chegada de uma nova indústria: a biologia sintética. No caminho de Les Cayes, uma das maiores cidades do sul haitiano, ficamos maravilhados com os campos de vetiver de ambos os lados da estrada. E o mesmo sucede quando vamos daí para Port Salut.

 

 

http://www.ipsnoticias.net/2014/10/la-biologia-sintetica-podria-abrir-otra-caja-de-pandora/

 

 

Además de su preciado valor como ingrediente de perfumes exquisitos, la planta de vetiver tiene importantes beneficios para la conservación, previene la erosión del suelo y ayuda a preservar la calidad del agua. Crédito: treesftf/cc by 2.0

Além de seu apreciado valor como ingrediente de perfumes especiais, a planta de vetiver tem importantes benefícios para a conservação, previne a erosão do solo e ajuda a preservar a qualidade da água. Crédito: treesftf/cc by 2.0

PYEONGCHANG, Coreia do Sul, 9 out 2014 (IPS) – “Recomendamos uma moratória sobre a liberação no ambiente e o uso comercial da biologia sintética, em especial ante a falta de normas internacionais e a virtual ausência de avaliações ambientais e de segurança”: diz Dana Perls, da campanha de alimentação e tecnologia da organização Amigos da Terra/Estados Unidos.

O vetiver haitiano tem boa fama entre os perfumistas e é um ingrediente chave de algumas das mais finas e caras fragrâncias do mundo.

Mas a biologia sintética poderia colocar em perigo toda esta realidade. Pode-se ser considerada como uma “engenharia genética extrema”, pois seu objetivo é projetar e criar microrganismos e sistemas biológicos sintéticos.

“Em países como o Haiti que têm exportações agrícolas de alto valor que constituem uma parte importante da economia. E a redução de volume de produtos de alto valor começará a ser criado por companhias como a Evolva (nt.: ver estes links – http://oglobo.globo.com/sociedade/ciencia/cheiros-sabores-de-laboratorio-10478034  e  http://www.evolva.com/), pela substituição de produtos realmente naturais”, lamentou-se Dana Perls.

“Evolva cria fragrâncias e sabores com biologia sintética e poderá oferecê-los a um preço muito menor, o que terminará por eliminar a necessidade de agricultores especializados”, observou à IPS na 12° Conferência das Partes (COP 12) do Convênio sobre la Diversidade Biológica (CDB), que começou nesta cidade sul coreana de Pyeongchang no dia 6 e se prolongará até o dia 17.

O processamento do vetiver no Haiti está a cargo de 10 destiladores, mas a atividade dá trabalho a 27 mil famílias agricultoras no sudoeste do país. Para elas, o cultivo tem importantes benefícios de conservação, prevenção da erosão do solo e ajudar a manter a qualidade da água.

O valor global do mercado da biologia sintética chegou aos 1,6 bilhões de dólares em 2011 e se prevê que alcance os 10,8 bilhões em 2016, aumentando a una taxa composta de crescimento anual (TCAC) de 45,8%.

A participação do Haiti nas exportações mundiais de vetiver aumentou em 40%, em 2001, para mais de 60% em 2007.

Mas atrás da crise econômica mundial, as exportações haitianas despencaram. Este país, que compartilha a ilha de Espanhola com a República Dominicana, produz entre 50 e 60 toneladas de vetiver por ano, em torno de 50% do fornecimento mundial.

Umas 60 mil pessoas na zona de Les Cayes dependem do vetiver, que é sua principal fonte de renda. Este cultivo ocupa em torno de 10 mil hectares.

Antes de 2009, o valor das plantações de vetiver do Haiti era de 15 a 18 milhões de dólares por ano. No entanto, nos últimos tempos, a renda das exportações caíram para, mais ou menos, 10 milhões de dólares.

La biología sintética podría abrir otra caja de Pandora

A ONG Amigos da Terra Internacional pediu cautela no uso da biologia sintética e realizou várias recomendações na COP 12.

“Recomendamos una moratória sobre a liberação para ambiente bem como o uso comercial da biologia sintética, em especial ante a falta de normas internacionais e a virtual ausência de avaliações ambientais e de segurança”, explicou Perls.

“Instamos o CDB para que adote um enfoque cauteloso, para os países que já concordaram em assinar” o convênio, acrescentou.

“Este é um assunto novo e emergente, devendo se tratado como tal. Muitos dos motivos de preocupação têm a ver com o impacto ambiental, cultural e social desta nova tecnologia. O que se passaria se um produto como o ginseng fosse produzido aqui e agora mediante a biologia sintética?

O dano para os pequenos agricultores em todos os países seria imenso”, exemplificou Perls.

“Também teria enorme impacto em países como Brasil, onde o alimento básico se cultivaria para produzir estes organismos mediante a biologia sintética, os que reproduzissem qualquer coisa para o qual haviam sido projetados”, ressaltou.

Enquanto a foi descrita como la panaceia para a mudança climática e outros males sociais, os Amigos da Terra sustentam que ainda está por provar que os micróbios e as plantas podem sequestrar mais carbono do solo e produzir mais combustíveis após processados por métodos convencionais.

A organização observou que “depois dessas promessas não cumpridas” emerge a biologia sintética, uma forma mais extrema da engenharia genética, que também se apresenta como a solução para a crise climática.

O Amigos da Terra sustenta que a biologia sintética não é uma solução sustentável para a crise climática e tem o potencial de criar uma infinidade de novos problemas.

O país das Filipinas é o maior produtor mundial e exportador de gordura de coco. Vinte e cinco milhões de pessoas, dos 100 milhões de habitantes que têm o país, dependem direta ou indiretamente desta indústria.

Neth Dano, gerente de programa de ETC Group, disse a IPS: “Há muito em jogo para as Filipinas” porque a biologia sintética poderia substituir a gordura de coco no mercado global.

“Nas Filipinas, não se produz o coco em vastas plantações, mas em pequena escala. E na estrutura da economia rural, seus produtores estão entre os mais pobres”, explicou.

Dano disse que o CDB, como órgão da Organização das Nações Unidas (ONU) responsável por monitorar as possíveis consequências do desenvolvimento sobre a biodiversidade e sua conservação, tem muito a fazer para atender as preocupações geradas pela biologia sintética.

“O CDB é o único órgão da ONU que se ocupou da biologia sintética e aborda as possíveis preocupações sobre a biodiversidade”, destacou.

Dano mencionou que grande parte da biologia sintética comercial no início estava ligada às mudanças climáticas.

“Os primeiros esforços da pesquisa e desenvolvimento se concentraram em algas que podem produzir biocombustíveis, considerados uma solução para o problema das grandes emissões de gases de efeito estufa responsáveis pelo aquecimento global. De fato, surgiu como uma solução às mudanças climáticas e como uma estrategia de mitigação”, recordou.

“As companhias petroleiras investiram tanto no desenvolvimento de biocombustíveis modificando sinteticamente as algas, mas os investimentos não deram sucesso, então agora se concentram numa diminuição da produção de alto valor e é aí onde entram os óleos láuricos”, acrescentou Dano.

Editado por Kitty Stapp / Traduzido por Verónica Firme.

Tradução livre de Luiz Jacques Saldanha, outubro de 2014.