A primeira “zona morta” marinha identificada — uma região costeira e pantanosa onde a combinação dos fertilizantes, solúveis nitrogênio e fósforo erodidos das lavouras, cria um explosão monstruosa de algas que mata absolutamente tudo o que possa estar na água — foi constatada há mais de 40 anos atrás, na década de setenta, na boca do rio Mississippi no Golfo do México. Hoje mais do 400 zonas mortas estão crescendo em torno do globo e o número vem duplicando a cada década.
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Com a expansão das zonas mortas em mente, nova pesquisa (new research) conduzida pelo Centro de Excelência de Estudos de Recifes de Corais (Center of Excellence for Coral Reef Studies) em Queensland, Austrália, deixou os cientistas extremamente preocupados de que os mares possam estar enfrentando uma extinção em massa pelo final deste século.
Todos os oceanos, dizem os autores do estudo, têm numerosas zonas mortas, sendo que os pontos críticos estão no Pacífico Sul tropical, ao largo do sudeste da Austrália e da China, no Golfo do México, ao largo da Namíbia, na Baia de Bengala, nos mares Báltico e Negro e ainda no Atlântico Sul. Essencialmente, o problema existe em todos os lugares onde os rios encontram o mar.
Cada primavera e verão, a zona morta no Golfo do México cresce aproximadamente o tamanho do estado de New Jersey, expandindo-se pela costa do Mississippi ao Texas. Nada neste espaço pode se desenvolver. Ao redor do mundo, as zonas mortas variam em tamanho de quase dois quilômetros quadrados a 40 mil quilômetros quadrados. Ao todo, as zonas mortas agora cobrem aproximadamente 160 mil quilômetros quadrados, uma área tão grande quanto o estado de Oregon.
Por que esta explosão? Por um trio bem familiar de problemas: sobre pesca, nutrientes erodidos das lavouras e mudança climática. Muitas pessoas moram e poluem as costas dos oceanos e tomam seu maior tesouro (o peixe) sem ponderarem as consequências.
De acordo com o relatório australiano, esta não é a primeira vez que os oceanos poderão morrer: “as quedas das concentrações de oxigênio têm desempenhado um papel importante em, pelo menos, quatro ou cinco eventos de extinção em massa”. Foram devidas a quedas de meteoros ou pela expansão das erupções de vulcões que mataram 90% da vida no oceano.
Os autores deste novo relatório acreditam que uma perda da vida similar poderá ocorrer nos próximos 100 anos.
“A mudança climática está gerando alterações nas correntes marinhas — assim os ventos, sob padrões diferentes de tempo, acabam gerando consequências na forma como o oceano circula e se areja com o oxigênio e assim por diante. São os ventos que movimentam grande volumes de compostos orgânicos para o fundo do mar.
“Ao mesmo tempo, estamos colocando toneladas de fertilizantes solúveis diretamente nas costas marinhas, um tipo de coisa que acaba fomentando estas zonas de águas profundas com ausência de oxigênio, tornando-as anóxicas”.
Esta poderá ser a primeira vez que os oceanos morrerão por influência humana. À medida em que o oceano aquece devido a uma rápida mudança climática, estas zonas de baixa oxigenação irão se aproximar da superfície e espalhando-se ao longo das plataformas continentais.
“Os ecossistemas oceânicos estão vivendo uma série de problemas e tudo tem a marca da interferência humana”, diz o estudo. “Nós estamos alterando a forma como os oceanos do planeta trabalham, deslocando-os a estados inteiramente novos que jamais vimos antes”.
“Tudo isso está mexendo com o ‘coração’ e os ‘pulmões’ do planeta — que essencialmente é o que fazem os oceanos, um enorme sistema respiratório. Danificá-los, gerará consequências que poderão ser extremamente graves”.
Na temporada passada, durante o vazamento da petroleira BP, aquela primeira zona morta no Golfo do México inflou tanto até um tamanho quase recorde. Com todo este óleo bruto poluindo o Golfo, pode a zona morta ser qualquer coisa além de mais morta?
A resposta é não.
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Texto traduzido por Luiz Jacques Saldanha, fevereiro de 2014.