Disruptores endócrinos, presentes em tantos produtos de nosso dia a dia e que, por serem imitadores de hormônios, afetam todas as nossas glândulas que nos manteriam saudáveis.
https://articles.mercola.com/sites/articles/archive/2020/02/26/how-to-avoid-edcs.aspx
Analysis by Dr. Joseph Mercola
February 26, 2020
Resumo da história
- Os químicos chamados de Disruptores Endócrinos (nt.: em inglês – Endocrine-disrupting chemicals/EDCs) estão conectados a muitos efeitos negativos sobre a saúde e é fundamental eliminar sua exposição o quanto for possível;
- Os EDCs espreitam de embalagens de alimentos a comida não orgânica, utensílios de cozinha não aderente, detergentes, cosméticos, medicamentos, tecidos, agrotóxicos, carpetes e móveis que são tratados com retardadores de chamas;
- Um disruptor endócrino que exerce mudanças permanentes e mesmo transgeracionais às células adiposas é chamado, às vezes, de obesogênico;
- Pesquisa mostra que os obesogênicos estão altamente correlacionados com obesidade e diabetes;
- Existem muitos meios práticos e de bom senso de se evitar a exposição aos disruptores endócrinos e aos obesogênicos.
Os disruptores endócrinos (nt.: em inglês — Endocrine-disruptors chemicals/EDCs) estão entre os químicos mais destrutivos presentes em nosso ambiente. Expor-se a eles estaremos conectando a dificuldades de crescimento, a ações neurológicas e de aprendizado, à obesidade, a disfunções reprodutivas, em machos e fêmeas, defeitos de nascimento, doenças cardiovasculares e alguns cânceres. 1
Os EDCs não são somente prejudiciais — eles são também detectados em praticamente todos os lugares e muito difíceis de serem evitados. Escondem-se nas embalagens alimentícias, alimento não orgânico (nonorganic food), panelas e utensílios anti-aderentes,2 detergentes, cosméticos,3 loções, produtos com ‘fragrance‘ — fragrâncias sintéticas, sabões antibacterianos,4 medicamentos, brinquedos,5 tecidos, carpetes, móveis, materiais de construção tratados com retardadores de chama, agrotóxicos e muito mais.6
Quando um disruptor endócrino (endocrine-disrupting chemical) exerce mudanças permanentes e mesmo transgeracional às células adiposas, é chamado de obesogênico. Especialistas acreditam que os obesogênicos encorajam o crescimento de células de gordura (encourage the growth of fat cells) e sua acumulação através de alterações metabólicas e de apetite que aumentam o número e o tamanho das células adiposas.
Exemplos de obesogênicos são o bisfenol A (bisphenol-A) e os parabenos. Outros obesogênicos podem ser encontrados em retardadores de chama, agrotóxicos e outros químicos. Mas a boa nova é haver, pelo menos, cinco meios que se pode reduzir a exposição tanto aos EDCs como aos obesogênicos, de acordo com o Dr. Leonardo Trasande, que escreveu sobre os disruptores endócrinos no website Medscape.
5 Dicas para Evitar Químicos Perigosos
Existem cinco dicas, adaptadas do artigo do Dr. Trasande:
1.Cuidado com certos utensílios de cozinha — Panelas anti-aderente contem substâncias perfluoralquil, ou PFAS, substâncias químicas sintéticas que atrasam a taxa metabólica e causam recuperação de peso.7 Panelas de ferro fundido e de aço inox são boas alternativas. Usar vidro para guardar alimentos e reutilizar sacolas tanto para estocar em casa como para levar compras de alimentos dos mercados para seus lares.
2.Combater a poluição dos interiores — Retardadores de chama (flame retardants) usados em colchões, carpetes, móveis e eletrônicos acumulam-se no pó doméstico, prejudicando a função da tiroide. Janelas abertas e usar esfregão molhado para diminui-lo nestes mobiliários. Verificar se os estofados tiveram aplicação de retardadores de chama.8
3.Comer alimentos orgânicos e evitar alimentos enlatados — Alimento orgânico é livre de transgênicos e agrotóxicos que podem gerar disfunções na tireoide e prejudicarem a cognição e câncer.9 Escolher carne de animais que estiveram soltos, livres e criados com humanidade (grass fed, humanely raised meat) e o mesmo com produtos lácteos (dairy products).
Alimentos enlatados podem conter bisfenóis que são estrogênicos tornam as células adiposas maiores. Persistem no ambiente, duplicando o risco da diabetes tipo 2 e possivelmente geram toxicidade aos embriões.10 Não usar agrotóxicos nos gramados e remover os sapatos quando entrar em casa.
4.Não usar microondas e evitar produtos embalados — Um certificado de ser “seguro para microondas” é enganador porque polímeros microscópicos são gerados pela quebra das resinas e que se imiscuem nos alimentos.11 Alimentos processados e embalados contêm altos níveis de frutose e de xarope de milho, adoçantes artificiais, agrotóxicos e outros obesogênicos. Ftalatos presentes nos materiais usados para as embalagens bem como aquelas chamadas de ‘viagem’ podem prejudicar o metabolismo dos lipídeos e dos carboidratos além de aumentar o peso.12
5.Evitar todos os produtos de PVC/vinil e outros plásticos — Usar cortina de box feitas de tecido e que podem ser levadas para a máquina de lavar roupas. Permanecem limpas e duram mais tempo do que as de PVC/vinil. Trocar as malas e as mochilas por produtos feitos de lona de algodão orgânico.
Obesogênicos e a Obesidade Estão Conectados
Obesidade tornou-se uma epidemia global. Entre 1980 e 2010 a taxa de obesidade duplicou nos EUA e, ao redor do mundo, a taxa triplicou.13 Obesidade em crianças teve especialmente uma efervescência, quase sempre condenando-os a terem uma vida como um adulto obeso.14 Obesidade, face sua associação com a diabetes tipo 2, câncer e doenças cardiovasculares, tem custado aos EUA, aproximadamente, $200 bilhões de dólares ao ano.
A crença comum de que o aumento do consumo calórico e a redução de exercício serem causas da obesidade epidêmica não explica o fenômeno, diz uma pesquisa do diário Basic & Clinical Pharmacology & Toxicology. Em vez disso, as pessoas podem estar predispostas à obesidade pela exposição aos obesogênicos ainda no útero, escrevem os pesquisadores.15
“Camundongos adultos expostos ao TBT [tributilestanho, um obesogênico] no útero demonstravam a acumulação aumentada de lipídeos em depósitos adiposos, fígados e testículos, e o tratamento de camundongos adolescentes ou adultos, ratos, peixe dourado e peixe zebra levaram ao aumento da deposição de gordura e esteatose hepática …
O TBT continua a ser encontrada no pó doméstico e em frutos do mar e, pelo menos um estudo mostra o índice ponderal aumentado em bebês humanos com as mais altas exposições pré-natal.”
Outros químicos tiveram efeitos similares, escrevem os pesquisadores, tais como os fungicidas triflumizol (nt.: no Brasil tem marcas que se pode usar em frutas como maçãs, uva, manga e outras, inclusive como bacteriostática – perigo para nosso microbioma e de nossos filhos) e o tolylfluanid (nt.: no Brasil, classificação I extremamente perigoso, uso para tratamento de sementes), além do plastificante dietilexil ftalato.16 Obesogênicos não só aumentam os níveis de gordura imediatamento observado em testes com animais: as propriedades de incremento de gorduras podem persistir por gerações, conforme escreveram os pesquisadores.17
“A exposição pré-natal aos obesogênicos ambientais podem produzir efeitos duradouros sobre os animais expostos e suas descendências por, pelo menos, quatro gerações. Resultados recentes mostram que alguns destes efeitos transgeracionais pela exposição a obesogênicos podem ser carreados através das gerações via alterações na estrutura e acessibilidade da cromatina (nt.: cromatina e cromossomos são a mesma coisa, apenas o que muda é o momento, a primeira é um filamento de DNA, RNA e proteínas, e o segundo, a condensação deles).”
Aparentemente, os obesogênicos não só podem programar os organismos a acumularem gordura; podem programar suas crias a fazerem o mesmo.
O quê faz com que a acumulação de gorduras ocorra?
Pesquisadores observaram na publicação no periódico Basic & Clinical Pharmacology & Toxicology que as células expostas a um obesogênico não acumulam mais gordura do que as não expostas, mas diferem de uma outra maneira: elas “não respondem a processos de sinalização normais”. Especificamente, escrevem os pesquisadores, as células:18
” … expressaram níveis reduzidos de GLUT4 acompanhados por menor captação de glicose. Eles produziram níveis mais baixos de mRNA e proteína da adiponectina e mostraram níveis elevados de marcadores moleculares de inflamação e fibrose. As … células estavam comprometidas em sua função respiratória, medidas in vitro e, como era de se esperar, continham menos mitocôndrias.”
Como a pesquisa publicada no periódico Basic & Clinical Pharmacology & Toxicology Research, um artigo na Pediatric Research parece confirmar que os efeitos obesogênicos são vistos transgeracionalmente. A exposição fetal aos ftalatos, que são obesogênicos, está correlacionada com a obesidade nas crianças expostas, escrevem os pesquisadores.19
“Maiores concentrações dos metabólicos urinários MEP, MBzP e ΣDEHP [três ftalatos] em mães grávidas foram associados com chances aumentadas de seus filhos terem sobrepeso ou serem obesos …
Maiores concentrações do ftalato MEP pré-natal foram consistentemente associadas ao aumento do índice de massa corporal/IMC, circunferência da cintura e porcentagem de gordura corporal em crianças entre 5 e 12 anos de idade … o início da puberdade não afetou nossas descobertas. Além disso, diferentemente dos estudos anteriores, nossos resultados foram bastante semelhantes tanto para meninos como para meninas.”
Há Mais Obesidade Conectada aos Obesogênicos
Substância perfluoroalquil, ou PFASs, que são reconhecidos disruptores endócrinos e são obesogênicos, estão também, por isso, conectados à obesidade na literatura científica. Um estudo de 2018 publicado no website da PLOS Medicine detectou:20
“Neste estudo de perda de peso induzida pela dieta, concentrações plasmáticas basais mais elevadas de PFAS foram associadas a uma maior recuperação de peso, especialmente em mulheres, possivelmente explicada por uma regressão mais lenta dos níveis de taxa metabólica em repouso [resting metabolic rate/ RMR] .
Estes dados ilustram uma nova via potencial através da qual os PFAS interferem na regulação e metabolismo do peso corporal humano. O possível impacto de produtos químicos ambientais na epidemia da obesidade merece atenção.”
Um estudo de 2018 publicado no Environmental Research sobre a exposição de mulheres grávidas aos ftalatos também concluiu:21
“A exposição a certos ftalatos durante a gravidez pode estar associada com mudança a longo prazo no peso das mulheres. Mais estudos sobre os efeitos da exposição ao ftalato durante a gravidez sobre a saúde das mulheres, em longo prazo, precisam ser requeridos.”
Disruptores Endócrinos Conectados à Diabetes
Diabetes é a maior preocupação de saúde pública nos EUA e outros países e os disruptores endócrinos contribuem para este problema. Pesquisa publicada no periódico Environmental Health Perspective detectou “associação positiva entre o BPA e o BPS e a incidência da diabetes tipo 2, independente dos fatores de risco para diabetes.”22
Bisfenol A (bisphenol-A/BPA) e bisfenol S (bisphenol-S/BPS) são diruptores endócrinos comuns. O BPA is detectado nos plásticos policarbonato e na lâmina interna de muitos produtos enlatados (nt.: por serem feitas de policarbonato ou resina epóxi, ambas resinas surgem por reação química exatamente com o Bisfenol A) e ainda tampas metálicas por terem estes plastificantes nos materiais que se emprega para laminar as latas.23 O BPS, que é membro da família do BPA, sendo seu análogo, pensou-se ser mais seguro do que o BPA, mas pesquisa agora revela que os dois têm perfis de risco similares.24 Pesquisadores escreveram no periódico Environmental Health Perspectives:25
“Este estudo é um dos poucos prospectivos sobre a associação entre o BPA e o subsequente desenvolvimento da diabetes tipo 2 e o primeiro sobre diabetes que transmite em medidas de urina repetidas dos bisfenóis para se avaliar a exposição, sendo cruciais dada a curta meia-vida do BPA nos organismos.
De tudo o que sabemos, este é também o primeiro estudo a investigar a exposição ao BPS em relação ao risco de desenvolvimento de diabetes. Nossos resultados sugerem associações entre o risco de diabete tanto às concentrações do BPA e à detecção na urina de BPS.”
Pesquisa em ratos que foi publicado no Environmental Health Perspectives em 2017, aparentemente duplica os disruptores endócrinos e as descobertas de diabete.26
“Os resumos globais resumidos indicaram associações positivas significativas entre o BPA e o ganho de peso … Descobertas de nossa revisão sistemática que a exposição em tenra idade ao BPA pode incrementar a adiposidade e os níveis de circulação de lipídio em roedores …
É importante observar que embora esta revisão esteja focada sobre o BPA, outros químicos com efeitos obesogênicos putativos também foram identificados.
Por exemplo, o químico análogo ao BPA, o BPS (bisphenol S) e muitas outras classes de substâncias químicas; entre eles estão os ftalatos, os organo-estanhos, os ácidos alqui-perfluorados, os retardadores de chama bromados, os policloretos bifenilos tipo dioxinas (sem serem)(nt.: são os Polychorinated Biphenyls, mais conhecidos como PCBs) e vários agrotóxicos.”
A Sociedade de Endocrinologia Também Questiona a Segurança dos Disruptores Endócrinos
A Sociedade de Endocrinologia, a maior organização mundial de médicos endocrinologistas e cientistas, tem também pesquisado os riscos das substâncias chamadas disruptores endócrinos. Assim, diz ela:27
“define-se como um químico disruptor endócrino (nt.: em inglês – endocrine-disrupting chemical/EDC) como ‘uma substância química exógena ou uma mistura de químicos que podem interferir com qualquer ação de aspecto hormonal’ …
Os EDCs são encontrados em muitos diferentes produtos, incluindo os plastificantes, produtos de cuidado pessoal e agrotóxicos. Além disso, diruptores endócrinos como os policloretos bifenilos (PCBs) e as dioxinas são detectados em contaminantes ambientais.
Os seres humanos estão sendo constantemente expostos aos EDCs diariamente pela ingestão, inalação e pelo contato da pele e com esta exposição constante ocorrem efeitos deletérios sobre a saúde reprodutiva.
Os EDCs são conhecidos, especificamente, por diminuir a fertilidade em animais, tanto em fêmeas como em machos, e estão associados com a sub-fertilidade/infertilidade em seres humanos.
Estas substâncias químicas podem afetar a produção de esteroides (esteroidogênese), o desenvolvimento do folículo ovariano e seu crescimento (foliculogênese) e o desenvolvimento e a maturação dos espermatozoides (espermatogênese), levando a complicações com a reprodução.”
Substâncias Químicas Tóxicas Estão por Todos os Lugares
Químicos tóxicos estão por toda a parte; no nosso alimento, água e ar e em numerosos produtos e bens de uso comum. Este ataque violento está ocasionando um efeito definitivo — mesmo quando esta exposição é relativamente baixa.
Sim, os plásticos fizeram da vida moderna mais “conveniente”, mas o dano que eles causam não tem valido a pena. Os perigos são especialmente proeminentes durante a gravidez e na primeira infância.
A ideia de que os químicos afetam a nossa saúde não deveria nos surpreender. O que nos surpreende é a extensão de nossa exposição. A maioria de nós passa o dia tocando, comendo, bebendo e respirando sem a mínima preocupação quanto ao que nós, na verdade, estamos entrando em contato.
Como vimos acima, em diferentes estudos científicos, o efeito obesogênico dos disruptores endócrinos estão realmente claros, causando obesidade e outros problemas metabólicos. Obesidade, por sua vez, está conectada a outras doenças como diabetes, pressão sanguínea alta e certos cânceres.28
No entanto, estes danos tanto dos disruptores endócrinos como dos obesogênicos podem ser reduzidos através de escolhas de estilo de vida que sejam guiadas pelo bom senso.
Fontes e Referências
- 1, 2, 4, 6 Hormone Health Network 2020
- 3, 5 Tox Town 2019
- 7, 8, 9, 10, 11, 12 Medscape February 07, 2020
- 13, 14, 15, 16, 17, 18 Basic & Clinical Pharmacology & Toxicology February 24, 2019
- 19 Pediatric Research – Nature2017 Sep; 82(3): 405–415
- 20 PLoS Medicine 2018 Feb 13;15(2):e1002502
- 21 Environmental Research 2019 Feb; 169: 2632.
- 22, 25 Environmental Health Perspectives 30 October 2019
- 23 Safer Chemicals 2020
- 24 Scientific American August 11, 2014
- 26 Environmental Health Perspectives 2017 Oct; 125(10): 106001.
- 27 Endocrinology, Volume 160, Issue 6, June 2019, Pages 1421–1435
- 28 Mayo Clinic 2020
Tradução livre de Luiz Jacques Saldanha, março de 2020.