No Instituto de Química de São Carlos (IQSC) da USP, a química Fernanda de Lourdes Souza desenvolveu um projeto de doutorado sobre um método de degradação de dimetil ftalato utilizando tecnologias eletroquímicas. A substância, usada em indústrias, é contaminante e pode estar associada a ocorrência de câncer e desregulação hormonal. O estudo propõe que os métodos eletroquímicos venham a ser utilizados no tratamento de efluentes industriais (nota do site.: sem dúvida importante para tratar o que já está contaminado, mas não como justificativa para se continuar usando este disruptor endócrino porque a contaminação é por contato do consumidor com os produtos que têm o ftalato e não só dos resíduos que saem das fábricas!!!).
http://www.ecodebate.com.br/2013/05/29/tecnologia-eletroquimica-de-oxidacao-pode-tratar-aguas-contaminadas-com-ftalatos/
Tecnologia eletroquímica de oxidação poderá ser utilizada no tratamento de efluentes industriais
A pesquisa aplicou e investigou o aprimoramento da tecnologia eletroquímica de oxidação para o tratamento de águas contaminadas com ésteres de ftalatos (como o dimetil ftalato) em diferentes materiais eletródicos e com o acoplamento de processos. “Eles são usados na fabricação de PVC para garantir a flexibilidade e durabilidade dos polímeros. Também são empregados na fabricação de tintas, colas, pisos vinílicos e plásticos em geral”, afirma a química. “As substâncias presentes nesses produtos podem ser liberadas no meio ambiente, atingindo o ar, o solo e as águas dos rios”.
Segundo Fernanda, os ésteres de ftalatos são conhecidos como “contaminantes emergentes”, pois sua presença e efeitos no ambiente foi detectada há poucos anos em baixíssimas concentrações. “No entanto, já existem alguns estudos que apontam efeitos cancerígenos e de desregulação do sistema endócrino”, ressalta. “Os compostos interferem na produção e liberação de hormônios essenciais para o desenvolvimento celular, podendo provocar desenvolvimento sexual anormal, infertilidade e até disfunções comportamentais”.
Por meio de um sistema de fluxo, o efluente contaminado é bombeado até um reator eletroquímico. “Em contato com a superfície de um material eletrolítico que recebe uma corrente elétrica, o contaminante passa por reações de oxidação e redução, sendo eliminado da água”, descreve a química. “Foram testados diversos materiais para o processo, como ânodos dimensionalmente estáveis, óxidos de chumbo e diamante dopado com boro, com diferentes capacidades de realização de reações oxidativas”.
Tratamento de efluentes
Após a pesquisa ter comprovado a eficácia do processo de tratamento, Fernanda aponta que a ideia é que os métodos eletroquímicos venham a ser utilizados no tratamento de efluentes das indústrias. “As empresas que utilizam ésteres de ftalatos, como fábricas de plásticos ou tintas, poderiam implantar o sistema”, ressalta. “Outra aplicação seria no tratamento das águas de rios ou de esgotos”.
Os testes com o método foram feitos em escala de bancada e em planta piloto, envolvendo pequenos volumes de efluentes no tratamento. “O sistema apresentou eficiência de 100% e mostrou ser viável mesmo quando são aplicadas cargas elétricas de baixa intensidade”, explica a química.
Fernanda destaca que no Brasil não existe uma legislação específica que determine a remoção dos ésteres de ftalatos. “Entretanto, é possível que dentro de alguns anos se estabeleçam limites para a contaminação, como acontece atualmente na Europa”, avalia. Existem evidências que levam a associar estas substâncias orgânicas com a ocorrência de cânceres e desregulação hormonal. Devido a estes efeitos, estas substâncias são classificadas como desreguladores endócrinos, ou seja, que causam alterações no sistema endócrino de seres vivos.
A pesquisa é descrita na tese de doutorado Processos eletro-oxidativos aplicados à degradação de dimetil ftalato, defendida no último dia 22 de maio no IQSC. O trabalho foi orientado pelo professor titular Artur de Jesus Motheo, com orientação co-tutela de Manuel Andrés Rodrigo Rodrigo, professor catedrático da Universidad de Castilla La Mancha, em Ciudad Real (Espanha) onde Fernanda realizou parte dos estudos durante 10 meses.
Reportagem de Júlio Bernardes, da Agência USP de Notícias.