Sob o domínio do marketing infantil.

Diante de tanta publicidade dirigida à infância, proteger os filhos da sedução mercadológica tornou-se uma aventura digna de filme, com destaque para o eletrizante papel de pais e mães divididos entre o desejo de ver os filhos felizes e o de ajudá-los a construir uma identidade genuína. Nesse suspense diário, a cena se repete: de um lado, os pais tentando estabelecer limites e transmitir valores essenciais às crianças e, do outro, o marketing lhes pressionando, como se dissesse: “Vocês vão atender aos pedidos dos pequenos ou preferem que eles se sintam excluídos de seus grupos?(Nota do site – para ver um material muito rico sobre este tema, acesse: https://nossofuturoroubado.com.br/corporacoes/crianca-alma-do-negocio  e  https://nossofuturoroubado.com.br/arquivos/agosto_11/25.html).

 

 

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por Maria Helena Masquetti*

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Confrontados pela avalanche de apelos de “Sim, você pode”, “Sim, você merece” que as crianças recebem ininterruptamente, os pais são colocados injustamente como os vilões que negam os desejos dos filhos. No entanto, vale lembrar que raramente alguém se revela traumatizado pelas palavras do vizinho ou de um parente não responsável por sua criação mas, sim, pelas palavras dos pais. Vinha daí, inclusive, o antigo bordão: “Praga de mãe pega!”. E se as palavras duras dos pais podem marcar, o que dizer das construtivas? O segredo é que os “nãos”, quando necessários, sejam ditos com convicção e firmeza, envolvidos porém pela afetividade protetora.

“Mas, mãe, porque só eu não posso ter uma festa de princesa?”. Como explicar, sem desfazer a fantasia das crianças, que, por traz da maioria dos filmes infantis, está a exploração milionária das fábulas, envolvendo produtos como roupas, bonecos e outros brinquedos, além de acessórios para festas e até alimentos? Neste ponto, outro lembrete simples pode ajudar: qual de nós, leigos em aviação, não se acalma ao olhar para a expressão tranquila da aeromoça durante uma turbulência num voo? De forma semelhante, somos as mais credenciadas referências para nossos filhos. Assim, mesmo cedendo a alguns apelos, nossa recusa própria em consumir por impulso e nossa convicção de que ser é mais importante do que ter são sinais cotidianos que se juntarão a outros, ajudando as crianças a desenvolver, gradativamente, sua capacidade critica.

Rechear a rotina dos filhos com oportunidades de um brincar espontâneo e longe das telas, também ajuda a reduzir a quantidade de “nãos” a serem ditos até que eles cresçam para entender a intenção comercial das mensagens. Fora isso, os pais devem lembrar que não estão sozinhos e que podem se unir a muitos outros igualmente acuados pela astúcia do marketing, criando cenários onde suas crianças possam conviver de forma incluída, porém saudável.

Apesar de o Conanda (Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente) reconhecer recentemente como abusiva a publicidade dirigida às crianças, os argumentos do marketing para seguir explorando a ingenuidade infantil parecem coisa de cinema de tão perversos. Por isso, o final feliz depende agora da transformação de cada figurante dessa trama em atores brilhantes no papel de denunciar os abusos e exigir condições para que as crianças possam brincar e se desenvolver livremente.

Maria Helena Masquetti é graduada em psicologia pela Faculdade Paulistana de Ciências e Letras. Possui especialização em Psicoterapia Breve e de Emergência e realiza atendimento clínico em consultório desde 1993. Graduada também em Comunicação Social pela Fundação Armando Álvares Penteado, em 1982, exerceu a função de redatora publicitária durante 12 anos em várias agências de propaganda e hoje é psicóloga na área de Comunicação do Instituto Alana.