Muitas instituições, incluindo a ONU e o FMI, reconhecem que a desigualdade de renda é alta e vem aumentando no mundo. O tema ganhou especial atenção com o sucesso do novo livro do francês Thomas Piketty – O Capital no Século XXI. Alguns economistas apontam, porém, que a concentração de renda é ainda maior do que os dados oficiais revelam.
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A reportagem é de Marcelo Justo, publicada por BBC Brasil, 14-05-2014.
Segundo James S. Henry, professor do Centro de Investimento Internacional Sustentável na Universidade de Columbia, tantos os cálculos de Piketty como os dos organismos internacionais subestimam a verdadeira desigualdade mundial, pois não levam em conta o dinheiro oculto em paraísos fiscais.
“Há cerca US$ 21 trilhões escondidos em paraísos fiscais. Esta riqueza está nas mãos de uma pequena parte da elite e não entra nas medições”, disse Henry.
Medindo a desigualdade
As estimativas de desigualdade são feitas fundamentalmente a partir de pesquisas domiciliares em que as pessoas informam livremente sua renda ou, no melhor dos casos, das declarações de impostos de renda.
Em 2006, a ONU constatou que o 1% mais rico do planeta possuía 39,9% da riqueza global. Em 2011, o instituto de pesquisa do banco Credit Suisse calculou que os 10% mais ricos tinham 84% tinham da renda global, enquanto a metade mais pobre apenas 1% .
O estudo de Henry sobre a riqueza oculta (The Price off shore revisited) mostra as limitações desta comparação, quando somente os dados visíveis são levados em conta.
O economista estima que um terço de riqueza financeira privada e metade do dinheiro em paraísos fiscais está na mão de 91 mil pessoas, o que representa apenas 0,001% da população mundial.
“Isso nos permite calcular também que cerca de 8,4 milhões de pessoas, ou seja, 0,14% da população, têm 51% da riqueza global”, disse à BBC Mundo.
O estudo de Henry se baseia em fontes oficias nacionais, como os bancos centrais, além de dados de FMI e BancoMundial, para analisar 139 países. América Latina é a região com maior desigualdade do mundo, estima ele.
Os dez com maior fuga de capitais são China, Rússia, México, Arábia Saudita, Malásia, Emirados Árabes Unidos, Kuwait, Venezuela, Catar e Nigéria.
Queda neutralizada
O impacto concreto no cálculo da desigualdade é claramente visível em um estudo específico sobre a Argentina, que analisou a fuga de capitais entre 2002 e 2012. Ele aponta uma elevação do coeficiente de Gini de 0,42 para 0,49 uma vez que são registrados no cálculo do índice os recursos enviados para paraísos. O coeficiente de Gini é uma fora de medir a desigualdade – quanto mais perto de 1, maior a concentração de renda.
A estimativa dos autores é de que haja US$ 400 bilhões de argentinos em paraísos fiscais, o equivalente a 15 vezes asreservas internacionais do Banco Central.
Um dos autores da pesquisa, o economista Jorge Gaggero, explicou à BBC o impacto econômico e social desse processo:
“Mas, mesmo se tomarmos um número mais conservador, de cerca de US$ 200 bilhões, vemos que a desigualdade salta de 0,42 para 0,48 no país. Esse aumento neutraliza todos os avanços de melhora da distribuição de renda devido ao crescimento econômico e às fortes políticas de sociais do período 2003-2010”
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