Quando Nos Mudamos de Casa, Nosso Microbioma se Muda Também.

Enquanto digito estas palavras na minha escrivaninha, estou semeando minha casa com bactérias. Ao tocar a mesa, o interruptor da luz, a xícara do café, os micróbios das minhas mãos cobrem estes objetos. Meio desligado vou arrastando meus pés pelo assoalho e deixando micróbios por ai também. Ao coçar minha cabeça, lanço uma nuvem de microrganismos pelo ar. Tu fazes isso também. Todos nós fazemos. Constantemente, demarcamos os lugares onde estamos com estas microscópicas partes de nós mesmos.

 

 

http://phenomena.nationalgeographic.com/2014/08/28/we-constantly-imprint-our-homes-with-our-microbes/

 

 

Doorknob

Credit: RPG Master

 

Nossos corpos são o lar de trilhões de microrganismos, que superam nossas próprias células em pelo menos um fator de três. Eles e os genes que contêm são conhecidos coletivamente como e eles influenciam nossas vidas, saúde, mentes e muito mais. Mas o microbioma não está restrito a nossas peles. Ele se estende, englobando o mundo a nossa volta.

“Todos nós temos esta extensão contínua de nosso corpo em direção ao ambiente ao nosso redor”, diz Jack Gilbert da Universidade de Chicago. “Estamos vertendo microrganismos pela atmosfera. Será a primeira coisa que alguém irá interagir conosco e em nós”.

Gilbert vem estudando este Self estendido através do Home Microbiome Project (nt.: Projeto Microbioma Doméstico)—uma iniciativa para mapear o caráter microbiano de nossas casas. Os primeiros resultados estão disponíveis agora e eles mostram exatamente como rapidamente os microrganismos colonizam os espaço em torno de nós. Eles também mostram que estes traços podem ser usados como ferramentas forense, para mostrar se estivemos em algum lugar e quanto tempo faz que o deixamos.

“Este trabalho contribui maravilhosamente para o crescimento das provas de que estamos intimamente conectados às nossas casas de formas que nem podemos ver – através de nossos microrganismos”, diz Jessica Green da Universidade de Oregon. “O próximo passo é entender como criar e cuidar dos espaços onde vivemos, trabalhamos e nos divertimos no sentido de gerar sistemas microbianos saudáveis”.

A equipe incluindo Simon Lax e Daniel Smith, recrutou sete famílias norte americanas de diferentes etnias via Twitter e outras redes sociais. Eles queriam variedade. Havia um casal jovem; um jovem casal com um inquilino; alguém que vivia só; uma família de três; uma família de quatro (que era o Gilbert) e assim por diante. Alguns tinham animais domésticos e outros não.

A equipe treinou membros destas famílias para coletar os microrganismos de suas casas todos os dias durante seis semanas. Coletavam dos pisos da cozinha e dos quartos de dormir, dos interruptores de luz, das maçanetas e de suas próprias mãos, pés e narizes. A equipe enviava para cada família um kit de amostras, diários e um freezer para estocagem de suas amostras. “As pessoas ficam nervosas quanto a contato com os grupos envolvidos com a ciência, mas este estudo mostrou que todos estiveram de acordo para seguir as instruções”, diz Gilbert.

Quando os pesquisadores analisaram os dados, rapidamente tornou-se claro que cada casa tem um microbioma distinta que é originário vem fortemente das pessoas que vivem nestas residências. Os interruptores de luz e as maçanetas se mostram como mãos. Os pisos parecem pés. E as prateleiras e balcões da cozinha parecem pele. Tornamos então nossos lares num reflexo de nos mesmos.

Isso acontece rapidamente. Tão logo nos mudamos para um lugar, lançamos microrganismos nele e estes organismos colonizam a área em 24 horas. Um dos jovens casais demonstrou isso de uma maneira muito dramática. No início do estudo, eles estavam morando num hotel. Depois eles se mudaram e sua nova casa estava com uma microvida indiferenciada do quarto do hotel. “As pessoas sempre dizem: ‘Ewwwww, mais alguém esteve neste quarto e está cheiro de sua microvida por todo o lugar’. Isso é irrelevante”, diz Gilbert. Estamos constantemente reescrevendo os microrganismos no mundo ao nosso redor com nosso próprio microbioma. Quando nos mudamos de casa, nossa névoa microbiana se muda também.

A equipe pode discernir a direção deste fluxo de micróbios porque eles coletaram de tantas amostras ao longo de um período bem extenso. Eles puderam mostrar que uma bactéria da mão de uma pessoa aparecia mais tarde no balcão da cozinha e mesmo depois na mão de outra pessoa.

Este fluxo tem destacadamente uma via. Devemos pensar isso como se fosse por osmose. O ambiente tem microrganismos nele, mas é como se fosse uma terra árida se comparada com as miríades de vidas que é o nosso corpo. A menos que seus próprios parceiros estejam exauridos, raramente captaríamos microrganismos do ambiente ao nosso redor. “Ao menos que tenhamos uma predisposição que suprima nossa microbiota, vai ser apagado de outra pessoa em um curto espaço de tempo”, diz Gilbert. “Temos um novo estudo com banheiros mostrando que isso acontece em menos de duas horas”.

Isso é também porque a maioria dos microrganismos em nossa casa estão mortos ou dormentes. Eles teriam muito pouca água ou nutrição para poderem atuar. Eles estão ali, sem fazer nada. Quando tocamos alguma coisa, de repente acabamos adicionando milhões—talvez bilhões—de vida, fluorescendo os microrganismos. Esta nova população cresce vertiginosamente porque também suprimos com água, óleos e outro nutrientes de nossa pele. E ela acaba com a velha guarda.

E estes microrganismo que imprimimos em nossos lares também carregam nossa identidade. Deste estudo e de muitos outros parece que todos temos uma única microbiota (everyone has a unique microbiota). Nós compartilhamos espécies e cepas, mas no sentido exato e  a relativa abundância de cada membro, comporta-se como um impressão digital. Quando meu dedo toca uma superfície, ele deixa uma espiral única de gordura e células, mas também uma comunidade única de microrganismos.

Existem aplicações forenses óbvias. Se criarmos um banco de dados de somente um perfil microbiano por indivíduo, poderemos ser capazes de pincelar uma maçaneta e descobrir quais pessoas tocaram nela e (desde a decaída dos microrganismos ao longo do tempo) quando foi tocada. Certamente, a equipe pode identificar cada uma das 18 pessoas no estudo nesta maneira. “Isso nunca foi ambíguo”, diz Gilbert.

Isso pode mudar se escalarmos toda a população de toda uma cidade-ou nação-, mas Gilbert pensa que um caráter único da comunidade microbiana de cada pessoa deve ainda torná-los identificáveis. “É altamente provável que nós sempre ser capazes de diferenciar isso”, informa Gilbert. “E lembrar que uma impressão digital declara-nos que alguém esteve ali. Uma impressão microbiana pode nos dizer há quanto tempo alguém esteve em um local ou o que esta pessoa esteve envolvida—se ela era um burocrata ou um criador de porcos”.

Isso provavelmente vai levar um tempo para que todas as aplicações forenses venham a acontecer.

Os cachorros sobrecarregam o fluxo de microrganismos entre pessoas e suas casas. Se duas pessoas compartilham uma casa, elas também tendem a compartilhar sua microbiota e casais fazem isso mais profundamente do que simples companheiros de quarto. No entanto, se tiver um cachorro por perto, o intercâmbio se avoluma. Eles também aumentam a diversidade microbiana de uma casa por trazerem bactérias do mundo lá fora. Num mundo onde a presença de bactérias é tido sujeira e miséria, algumas pessoas podem ver isso como uma coisa ruim. Gilbert vê isso como uma vantagem. Nós precisamos da microbiota para auxiliar a treinar nosso sistema imunológico e para assegurar que ele se desenvolva com propriedade. “Nós queremos ter certeza de que nossas crianças tenhma esta capacidade”, afirma ele.

Referências: Lax, Smith, Hampton-Marcell, Owens, Handley, Scott, Gibbons, Larsen, Shogan, Weiss, Metcalf, Ursell, Vazquz-Baeza, Van Treuren, Hasan, Gibson, Colwell, Dantas, Knight & Gilbert. 2014.  Longitudinal analysis of microbial interaction between humans and the indoor environment. Sciencehttp://dx.doi.org/10.1126/science.1254529

Tradução livre de Luiz Jacques Saldanha, setembro de 2014.

Close Button

Anversos da crença

Não vislumbro um futuro humano plástico, mas muito plástico no futuro desumano. E não falo de monturos, falo de montanhas de plástico impuro. Falo de futuro suástico, inseguro, iconoclástico. Plásticos grandes e pequenos, moles e duros, que se amontoam. Nanoplástico que se respira, que se bebe e se come, se adoece, se morre e se consome. Presente fantástico de futuro hiperplástico, plástico para sempre, para sempre espúrio, infértil e inseguro. Acuro todos os sentidos e arrepio em presságios. Agouros de agora, tempos adentro, mundo afora. Improvável um futuro fúlguro! Provavelmente escuro e obscuro. Assim, esconjuro e abjuro!

João Marino