Programa da TV Globo é contestado.

“A Rede Globo poderia então abertamente publicar quanto recebe em publicidades do governo para produzir informações falaciosas”, afirma Edilberto Sena, padre, membro da Comissão Justiça e Paz da Diocese de Santarém e coordenador da Rádio Rural AM de Santarém.

 

http://www.ihu.unisinos.br/noticias/527513-rede-globo-fere-a-etica-na-comunicacao

 

Eis o artigo.

Ao ver o programete embutido no tal Jornal Nacional da Rede Globo na última sexta feira, fiquei indignado. Uma pergunta me veio imediata à mente: quanto custou ao governo federal essa propaganda enganosa? Que interesse tem a Globo ao produzir tais informações falaciosas?

Quem vive lá em Altamira, no Pará e na Amazônia, especialmente os que já sofrem as desgraças provocadas pelas hidroelétricas empurradas goela abaixo pelo governo federal, será que aplaudiram as mentiras do programete da Globo? Por que será que o povo Munduruku está resistindo aos projetos no rio Tapajós e o governo envia batalhão da Força Nacional para Jacareacanga? Por que será que o projeto já teve tantas paralizações, ocupações de indígenas e tem carca de 16 processos encalhados na Justiça Federal?

O programete do Jornal Nacional só apresentou maravilhas produzidas pelo consórcio construtor de Belo Monte. Omitiu os prejuízos causados aos produtores rurais que perderam suas terras e não foram indenizados com justiça, como as famílias da comunidade Santo Antônio e tantos outros; o repórter não entrevistou militantes do Movimento Xingu Vivo, nem o bispo Dom Erwin Krautler, que vivem na região e conhecem a realidade cruel da maioria dos moradores de Altamira, Vitória do Xingu e da Volta Grande; não entrevistou os povos indígenas para saber por que eles ocuparam mais de uma vez os canteiros de obras.

Marcelo Salazar, militante do Instituto Sócio ambiental, ISA, que foi entrevistado pelo repórter da Globo, ao ver a falta de ética da produção reagiu indignado. Diz textualmente na internet: “A matéria (da TV GLOBO) foi mesmo canalha, pelo conteúdo e pela postura falsa do repórter em campo. O Marcos Losekan mostrou-se revoltado com a situação da cidade e veio com um discurso de fazer uma matéria sobre o não cumprimento de condicionantes, porém, o que vimos foi o oposto. Mostrou de forma rápida e quase sem importância problemas graves de saúde, saneamento, de impactos aos povos indígenas, inchaço populacional fazendo cortes maldosos da minha fala e da fala da procuradora. Quase não dá para ouvir a fala de um médico do hospital municipal e do sr. Agostinho da Aldeia Muratu da Volta Grande. O repórter colocou o microfone na mesa e pediu para gravar a conversa preliminar antes da entrevista. Depois de explicar o processo de licenciamento, diversas irregularidades, mostrar dados das barbaridades que estão ocorrendo no local, atrasos enormes na implantação das condicionantes, ele perguntou se não havia nada de bom com a usina. Caí na armadilha e falei que alguns dos direitos das populações locais só estão chegando por conta de Belo Monte, que estão começando a ser cumpridos com a vinda desses projetos, o que é um absurdo, pois são políticas públicas de direito dos cidadãos. Então o repórter fez um corte maldoso de uma fala introdutória, que desfigurou o contexto que estava falando e não colocou as falas mais substanciais”.

Nossa indignação com tal falta de ética da Globo é que faz um jogo farsante do Consórcio construtor de Belo Monte e certamente do governo federal. Estes deveriam ser honestos em dizer abertamente à sociedade brasileira, que as obras do PAC, entre elas as hidroelétricas na Amazônia serão feitas a qualquer custo, violando preceitos constitucionais, ignorando vidas dos povos da Amazônia e da natureza, porque o governo está a serviço da ditadura do capital.

A Rede Globo poderia então abertamente publicar quanto recebe em publicidades do governo para produzir informações falaciosas. Aí a presidente poderia dizer claramente que desafetou milhares de hectares de floresta das Unidades de Conservação, como os Parques, o Nacional da Amazônia e o do Jamanxin, para poder inundar todas as áreas, pelas barragens no rio Tapajós. Por esta via os militares da ditadura de 1964 foram mais coerentes. Embora também desonestos.

O programete do Jornal Nacional da Globo da semana passada só faz a emissora perder cada dia mais credibilidade e, com certeza perde mais audiência. Isto porque informação não pode ser mercadoria e, ética é uma condição básica de credibilidade em tudo e mais ainda na comunicação.