Plástico: Um oceano sem plástico? É possível

A plástica nos oceanos multiplicou-se dez vezes desde 1980. Foto de Nelly Georgina Quijano Duarte/Climate Visuals

https://www.nationalobserver.com/2024/04/22/opinion/ocean-without-plastic-it-possible

Steven Guilbeault e Teresa Ribera 

22 de abril de 2024.

[NOTA DO WEBSITE: Duas autoridades, uma do Canadá e outra da Espanha, tratando do tema que mobilizou o Dia da Terra, de 2024: os plásticos! E parece que de palavras e boas intenções estamos todos concordes. Ironicamente até nos materiais produzidos pelas arrasadoras transnacionais, as corporações petroagroquímicas, as grandes ‘mães’ dessas moléculas tão versáteis como venenosas que estão inviabilizando o futuro de todos os seres vivos do planeta. Sim, vamos ficcionalmente concordar que tudo será estancado na produção criminosa e desenfreada de plástico de origem fóssil. Certo! Mas e o que já está ‘por aí’, como vai se fazer? E o pulsar da ‘vida’ da sociedade moderna, capitalista cruel e indigna, como viverá sem seu ‘dinheirinho’ que tudo isso gera e mobiliza globalmente? Só quando mudarmos a ideologia que movimenta a sociedade ocidental, autofágica e excludente, a do supremacismo branco eurocêntrico é que poderemos começar a imaginar que algo poderá ser feito. Caso contrário, no nosso triste e solitário entendimento, tudo ficará como exatamente é agora: palavras, palavras e mais palavras].

Vivemos rodeados de plástico. Sendo um material versátil, derivado em grande parte de combustíveis fósseis, o plástico tem inúmeras aplicações benéficas. Desde dispositivos médicos até à preservação de alimentos para evitar desperdícios, o plástico é o desenvolvimento industrial recente mais influente que impactou as famílias em todo o mundo.

Mas nas últimas décadas abusamos dele, estendendo seu uso a funções desnecessárias. O consumo de plástico cresceu exponencialmente: a produção global aumentou de dois milhões de toneladas em 1950 para quase 500 milhões em 2023.

Em todo o mundo, empregamos materiais que demoram mais de 500 anos a degradar-se para utilizações que duram apenas cinco minutos. Embalamos e envolvemos itens de uso diário como água, frutas, carne e peixe em plástico. Inclusive acondicionamos recipientes plásticos em plásticos (nt.: infelizmente, os autores usam uma expressão que pde gerar uma tremenda desinformação: insistem, como outros, em dizer que a molécula das resinas plásticas ‘degradam-se’. Isso tecnicamente até pode ocorrer, mas não corresponde à realidade da resina sintética, da mesma forma como com, por exemplo, uma resina natural. Essa ao se ‘degradar’ ou se ‘decompor’, chega a um ponto molecular e/ou elementar de gerar a possibilidade de formação de substâncias novas, completamente diferentes das originais. Já com as resinas sintéticas não ocorre o mesmo porque se assim fosse, as resinas não se transformariam em ‘micro e nanoplásticos’ perceptíveis inclusive como em cirurgias cardíacas de se saber qual o microfragmento que está ali, como ser PVC ou polietileno etc. Por isso para a sociedade, imaginamos que o melhor quando se tratar de resinas sintéticas, ou os plásticos como conhecemos, sempre informar que elas se FRAGMENTAM, e não se degradam como entendemos no senso comum!).

Existe plástico na estrutura das nossas casas, nas molduras dos nossos carros, nas fibras das nossas roupas. Adicionamos produtos químicos que podem ser perigosos e os combinamos com polímeros não recicláveis, impossibilitando a sua reutilização e reciclagem (nt.: aqui os autores estão se referindo aos ‘plastificantes’ que em sua maioria são ‘disruptores endócrinos‘ e são omitidos dos consumidores na descrição dos ingredientes que formam o produto de consumo). A pegada ecológica global é permanente e o seu impacto acumulado é grave para a vida dos ecossistemas e para a saúde humana.

A poluição plástica nos oceanos multiplicou-se dez vezes desde 1980. Oitenta e cinco por cento dos resíduos no mar são plásticos, ameaçando a conservação das espécies. Baleias, golfinhos e botos, aves marinhas e tartarugas confundem lixo plástico com comida ou ficam enredados nele.

Mesmo os habitats mais inacessíveis do planeta — desde a Antártica até à Fossa das Marianas — já estão afetados pela degradação do plástico. Através da cadeia alimentar, os microplásticos também são encontrados no nosso corpo, com consequências pouco compreendidas para a saúde humana.

A maioria dos plásticos não recebe tratamento no final da sua curta vida útil, pelo que o problema da acumulação de resíduos está a aumentar. Se não tomarmos medidas urgentes, os 11 milhões de toneladas de plástico que entram anualmente no oceano triplicarão nos próximos 20 anos.

Enfrentando um problema crescente

O problema global da poluição por plásticos está piorando, mas temos o que é preciso para responder a este desafio. Estamos vendo a sociedade civil organizar campanhas de limpeza em grande escala para se remover plásticos da terra, dos rios e dos oceanos.

A poluição plástica nos oceanos multiplicou-se dez vezes desde 1980, escrevem @s_guilbeault e @Teresaribera #INC4 #PlasticPollution #BeatPlasticPollution #ClimateAction #EarthDay2024

Empresas de sucesso foram estabelecidas em parceria com comunidades pesqueiras com base na coleta e reutilização de plásticos marinhos. Através da investigação e desenvolvimento, o ecodesign evita a geração de resíduos e ajuda a melhorar a sua gestão.

Os governos estão desenvolvendo regras para o transporte marítimo seguro de pellets de plástico. A cooperação entre todos estes intervenientes empenhados é parte da solução. Mas não acabaremos com o problema da poluição por plásticos se não pensarmos em soluções que permitam levar a sua produção e consumo em grande escala a níveis sustentáveis. Para problemas globais, soluções globais (nt.: nosso website não é tão otimista como os autores, ao se crer que se possa usar as resinas plásticas da forma como são geradas e manipuladas. Jamais esquecer que muitas são formadas por monômeros cancerígenos. Casos inquestionáveis e definidos pela IARC/International Agency for Reaserch on Cancer da OMS/ONU, são o cloreto de vinil que forma o polímero PVC e o estireno que forma o ‘isopor/EPC’. Além disso, devemos sempre contar com os aditivos, conhecidos como plastificantes que são, em sua maioria, disruptores endócrinos. Perguntamos: como poderiam haver ‘produção e consumo em escalas sustentáveis’? Não são eles, os plásticos em si mesmo, ‘insustentáveis’ e, principalmente, ‘insalubres’?).

Na frente multilateral, o Tratado do Alto Mar adotado em 2023 é histórico e nos ajudará a proteger a biodiversidade marinha em águas internacionais. Em dezembro passado, a cúpula climática de Dubai foi concluída com uma decisão que lançou as bases para a transição dos combustíveis fósseis.

Nas negociações em curso sobre a exploração dos recursos dos fundos marinhos, damos prioridade ao princípio da precaução para preservar o nosso patrimônio mundial. Em consonância com estes avanços, é também a hora de agir com a urgência e a ambição necessárias para proteger os oceanos e o nosso ambiente em geral, da poluição plástica.

Concordando em acabar com a poluição plástica

Há dois anos, na Assembleia das Nações Unidas para o Ambiente, chefes de estado e ministros de 175 países chegaram a uma resolução histórica para forjar um acordo internacional juridicamente vinculativo para acabar com a poluição plástica. Este mandato, resultado da cooperação multilateral ao mais alto nível, insta-nos a concluir as negociações em 2024.

A comunidade global saudou esta decisão, uma vez que este tratado será o mais significativo desde a assinatura do Acordo de Paris.

Não podemos decepcioná-los.

Este é o contexto em que hoje, no Dia da Terra, os ministros e outros representantes de alto nível estão reunidos em Ottawa antes da quarta rodada de negociações. A comunidade cintífica acaba de realizar em Barcelona a Conferência da Década dos Oceanos. Renovamos, na Conferência Our Ocean, em Atenas, os compromissos do nosso governo com a proteção das reservas marinhas e da biodiversidade.

Em junho de 2025, estamos programados para nos reunirmos em Nice para a próxima Conferência das Nações Unidas sobre o Oceano, com o objetivo de aumentar a ambição na proteção. Esse é o nosso roteiro coletivo.

É hora de demonstrar o nosso compromisso e colocar sobre a mesa todo o capital político necessário para a reunião de Ottawa. Nas próximas semanas, os nossos negociadores terão de avançar significativamente no texto sobre o âmbito, as medidas, os mecanismos de financiamento e os prazos para acabar com o desperdício do plástico em escala global. O seu mandato é preparar o caminho para que, neste mês de dezembro, o mundo possa celebrar a chegada de 2025 como o primeiro ano da era dos oceanos sem plástico.

A Espanha e o Canadá comprometem-se a ser defensores e parceiros inabaláveis ​​neste esforço e esperam aproveitar esta oportunidade para trabalhar com parceiros, a sociedade civil, os povos indígenas e a indústria (nt.: pensamos ser uma ‘doce ilusão’. Por que? Basta ver como a 3M e a DuPont, bem como sua ‘corporação laranja’ Chemours, estão agindo quanto ao seu famigerado PFAS pelos estragos que vêm causando em todo o planeta. E mais, mudam os governos do Canadá e da Esapnha, vindo um Trump qualquer, e tudo ficará como?) para concretizar este acordo histórico para acabar com a poluição plástica.

Mais tarde é tarde demais.

Steven Guilbeault é ministro do Meio Ambiente e Mudanças Climáticas do Canadá e chefe da delegação do Canadá como país anfitrião da sessão de negociação do tratado sobre resíduos plásticos INC-4.

Teresa Ribera é vice-presidente do Governo de Espanha e ministra da transição ecológica e do desafio demográfico.

Tradução livre, parcial, de Luiz Jacques Saldanha, abril de 2024.