
Pesquisadores encontraram mais de 3.600 produtos químicos sintéticos usados no preparo e embalagem de alimentos em corpos humanos. Fotografia: Yola Watrucka/Alamy
06 ago 2025
[Nota do Website: Está aí. A matéria da mídia inglesa, The Guardian, defendendo que se deve evitar os produtos sintéticos. E mais, recomenda no final, o consumo de alimentos orgânicos como opção mais inteligente e que pode preservar a saúde de todos. Infelizmente, as corporações e os órgãos oficiais que nos representam e que sustentamos não farão nada em nosso favor].
Mais de 100 milhões de substâncias químicas de “novas entidades” estão em circulação, com impacto na saúde não amplamente reconhecido.
A poluição química é “uma ameaça ao desenvolvimento dos humanos e da natureza de uma ordem semelhante à mudança climática”, mas está décadas atrás do aquecimento global em termos de conscientização e ação pública, alertou um relatório.
A economia industrial criou mais de 100 milhões de “novas entidades”, ou substâncias químicas não encontradas na natureza, com algo entre 40.000 e 350.000 em uso e produção comercial, afirma o relatório. Mas os efeitos ambientais e na saúde humana dessa contaminação generalizada da biosfera não são amplamente compreendidos, apesar de um crescente conjunto de evidências que relacionam a toxicidade química a efeitos que vão do TDAH à infertilidade e ao câncer.
“Suponho que essa seja a maior surpresa para algumas pessoas”, disse ao Guardian Harry Macpherson, associado sênior de clima da Deep Science Ventures (DSV), que realizou a pesquisa .
Talvez as pessoas pensem que, quando você anda pela rua, respira o ar, bebe água, come, usa produtos de higiene pessoal, xampu, produtos de limpeza para a casa, os móveis da casa, muitas pessoas presumem que existe um grande conhecimento e uma enorme diligência sobre a segurança química dessas coisas. Mas não é bem assim.
Durante oito meses, como parte de um projeto financiado pela Grantham Foundation, Macpherson e colegas conversaram com dezenas de pesquisadores, líderes de organizações sem fins lucrativos, empreendedores e investidores, e analisaram centenas de artigos científicos.
De acordo com o relatório da DSV, mais de 3.600 produtos químicos sintéticos provenientes de materiais em contato com alimentos – os materiais utilizados na preparação e embalagem de alimentos – são encontrados no corpo humano, sendo 80 deles motivo de preocupação significativa. PFAS, os “químicos eternos/forever chemicals“, por exemplo, foram encontrados em quase todos os humanos testados e estão tão presentes que, em muitos locais, até mesmo a água da chuva contém níveis considerados impróprios para consumo. Enquanto isso, mais de 90% da população mundial respira ar que viola as diretrizes de poluição da Organização Mundial da Saúde (OMS).
Quando esses produtos químicos contaminam nossos corpos, os resultados podem ser desastrosos. O relatório constatou a existência de dados correlacionais ou causais que ligam produtos químicos amplamente utilizados a ameaças aos sistemas reprodutivo, imunológico, neurológico, cardiovascular, respiratório, hepático, renal e metabólico humano (nt.: destaque em negrito para que se tenha ideia onde, em nosso corpo, essas moléculas sintéticas ameaçam. OU SEJA, TODO NOSSO CORPO!).
“Um dos principais pontos que se destacaram com bastante força foram as ligações entre a exposição a agrotóxicos e problemas reprodutivos” (nt.: MAS ISSO É ÓBVIO, POIS ESSAS MOLÉCULAS NÃO PARA MATAR?), disse Macpherson. “Observamos ligações bastante fortes – correlação e causalidade – entre aborto espontâneo e pessoas com dificuldades básicas para engravidar.”
A pesquisa da DSV complementa as descobertas anteriores do Instituto Potsdam de Pesquisa de Impacto Climático, de que já ultrapassamos em muito o limite planetário seguro para poluentes ambientais, incluindo plásticos. No domingo, outro relatório alertou que o mundo enfrenta uma “crise do plástico”, que está causando doenças e mortes desde a infância até a velhice, em meio a uma enorme aceleração da produção de plástico.
O relatório também destaca deficiências críticas nos métodos atuais de avaliação de toxicidade, pesquisa e testes, expondo as maneiras pelas quais os atuais freios e contrapesos estão falhando em proteger a saúde humana e planetária.
“A forma como geralmente realizamos os testes fez com que muitos efeitos não fossem detectados”, disse Macpherson. Ele destacou a avaliação de substâncias químicas disruptoras endócrinas, que interferem nos hormônios, causando problemas que vão da infertilidade ao câncer. Descobriu-se que essas substâncias contradizem a suposição tradicional de que doses mais baixas invariavelmente terão efeitos menores (nt.: sempre destacando as matérias: “Como hormônios sintéticos, em baixas doses, feminizam os machos, idiotizam os seres e agridem as fêmeas” e “Realmente é ‘a dose que faz o veneno’?“).
Um dos problemas é que, quando há uma substância química interferindo no sistema endócrino, ela às vezes tem uma resposta não linear. Então, você verá que haverá uma resposta com uma dose muito baixa, que não seria possível prever a partir do comportamento dela com uma dose alta (nt.: IMPORTANTÍSSIMA DECLARAÇÃO, PELA PRIMEIRA VEZ NESTES ANOS TODOS, VEMOS NUMA MÍDIA POPULAR A OBSERVAÇÃO DE QUE HÁ, COMO DIZEMOS, UMA DIFERENÇA ENTRE A ‘DOSE TOXICOLÓGICA‘ E A ‘DOSE FISIOLÓGICA‘, MAS INFELIZMENTE A CIÊNCIA CONVENCIONAL, OU SEJA, DAS CORPORAÇÕES SÓ CONHECE A DOSE TOXICOLÓGICA‘).
A DSV se descreve como uma “criadora de empreendimentos” que cria empresas voltadas para o enfrentamento de grandes problemas ambientais e de saúde humana. Parte do objetivo do relatório é identificar áreas problemáticas que podem ser abordadas pela inovação.
Atualmente, a toxicidade química como questão ambiental recebe apenas uma fração do financiamento destinado às mudanças climáticas, uma desproporcionalidade que, segundo Macpherson, deveria mudar. “Obviamente, não queremos menos financiamento para o clima e a atmosfera”, disse ele. “Mas acreditamos que isso – na verdade, proporcionalmente – precisa de mais atenção.”
No entanto, havia características do problema que o tornavam mais fácil de ser solucionado. “O lado bom é que isso pode ser facilmente influenciado pelo consumidor, se as pessoas começarem a se preocupar com as coisas que estão comprando pessoalmente” (nt.: a importância de cada um de nós, com conhecimento, saber o que estamos optando em consumir), disse Macpherson.
“Não há necessariamente que haja uma ação coletiva massiva; pode haver apenas uma demanda por produtos mais seguros, porque as pessoas assim o querem.”
Por sua vez, desde o início da pesquisa, Macpherson é cuidadoso com o que entra em contato com sua comida. Ele cozinha em uma frigideira de ferro fundido. Evita, principalmente, aquecer alimentos em plástico.
Infelizmente, a recomendação é consumir mais alimentos orgânicos, mas eles são mais caros em geral (nt.: mas isso é um equívoco como há 30 anos a feira dos agricultores ecologistas, todos os sábados, mostram em Porto Alegre/RS). Então, pelo menos lave frutas e vegetais antes de comê-los, mas orgânicos se você puder pagar.
Tradução livre, parcial, de Luiz Jacques Saldanha, agosto de 2025