Um limão embalado individualmente em plástico. A embalagem plástica ao redor dos alimentos pode introduzir produtos químicos nocivos no corpo. (Carl Court/Getty Images)
16 de setembro de 2024
[NOTA DO WEBSITE: Apesar de tudo o que se sabe, cientificamente, sobre a ação indiscriminada das moléculas químicas sintéticas nos organismos vivos, incluindo os nossos dos humanos, ainda continuamos permitindo que sejamos todos ludibriados pela ‘praticidade’ e ‘resolutividade’ de nossas vidas frenéticas e perdidas, incrementadas pelas indústrias petroagroquímicas. Temos que ser empáticos de sabermos que elas têm sobre nós, efeitos muito menores do que terão sobre nossos descendentes. E mesmo assim continuamos inertes?].
Um novo estudo detalha os produtos químicos que chegam ao corpo humano através do contato com alimentos.
Envoltório de plástico selado em volta de um pedaço de carne crua. Recipientes para viagem (nt.: ‘delivery’) cheios de sobras de restaurantes. Garrafas plásticas cheias de refrigerantes.
Esses são apenas alguns tipos de embalagens de alimentos que cercam os humanos todos os dias. E um novo estudo divulgado na segunda-feira mostra o custo químico de todas essas embalagens — e como elas podem afetar o corpo humano.
Pesquisadores da Suíça e de outros países descobriram que, dos cerca de 14.000 produtos químicos conhecidos em embalagens de alimentos, 3.601 — ou cerca de 25% — foram encontrados no corpo humano, seja em amostras de sangue, cabelo ou leite materno.
Esses produtos químicos incluem metais, compostos orgânicos voláteis, substâncias perfluoroalquílicas e polifluoroalquílicas ou PFAS, ftalatos e muitos outros conhecidos por perturbar o sistema endócrino e causar câncer ou outras doenças. O estudo, publicado no Journal of Exposure Science and Environmental Epidemiology, não examinou diretamente a ligação com essas doenças. Mas os pesquisadores dizem que seu inventário de produtos químicos pode ajudar em pesquisas futuras sobre riscos à saúde.
Cientistas sabem há muitos anos que produtos químicos podem vazar da embalagem de alimentos para dentro do próprio alimento. A quantidade de produtos químicos — e em que quantidades — depende do tipo de embalagem e do tipo de alimento.
Altas temperaturas podem fazer com que produtos químicos vazem mais rapidamente para os alimentos, e é por isso que os cientistas recomendam evitar aquecer alimentos no micro-ondas em recipientes para viagem. Alimentos ricos em gordura ou acidez também tendem a absorver mais produtos químicos de suas embalagens, assim como alimentos que são colocados em recipientes menores — quanto mais apertado o recipiente, mais contato ele tem com o alimento dentro.
Muncke lembrou de um voo recente em que lhe deram um pequeno recipiente de molho para salada. “Eles serviram a salada com uma pequena garrafa de plástico de 15 mililitros com azeite de oliva e vinagre que você podia despejar sobre ela”, disse ela. “Eu pensei, ‘Bem, eu não vou fazer isso.’”
Para conduzir a análise, os cientistas fizeram um inventário dos produtos químicos conhecidos por estarem em embalagens de alimentos ou equipamentos de processamento de alimentos e, então, pesquisaram bancos de dados de tecidos globais em busca de evidências de que os produtos químicos haviam sido encontrados no corpo humano.
“Não pensamos em como as embalagens (principalmente) de plástico adicionam produtos químicos aos nossos alimentos, mas são uma fonte importante de exposições humanas”, disse R. Thomas Zoeller, professor emérito de biologia na Universidade de Massachusetts em Amherst, que não estava envolvido na pesquisa, em um e-mail. “Esta é uma indicação precoce de que produtos químicos nocivos — em grande parte não regulamentados — estão chegando à população humana.”
A maioria dos produtos químicos que vazam das embalagens de alimentos vêm de plásticos, mas não todos. “Provavelmente o pior é papel e papelão reciclados”, disse Muncke. “E eu sei que é difícil de engolir.” Reciclar papel, papelão ou plástico para embalagens de alimentos leva a tintas não alimentícias misturadas ao lado dos alimentos, ela explicou, aumentando os riscos químicos.
Em uma declaração respondendo ao estudo, Erich Shea, um porta-voz do American Chemistry Council, um grupo de lobby químico, observou que seus membros fazem análises científicas extensivas para verificar a segurança de seus materiais. “O relatório faz referência a categorias amplas de produtos químicos, cada um com usos e perfis exclusivos, então é problemático agrupá-los todos juntos”, ele acrescentou.
Cientistas dizem que há necessidade de melhores testes de embalagens de alimentos e mais regulamentações sobre o que é considerado seguro para colocar alimentos. “Precisamos pensar em maneiras construtivas de seguir em frente, como podemos garantir a segurança desses materiais”, disse Muncke. “O que me preocupa muito é que isso não está acontecendo.”
Tradução livre, parcial, de Luiz Jacques Saldanha, setembro de 2024