As toutinegras do salgueiro dispersam sementes da Europa na África subsaariana, mas agora passam menos tempo no sul. Fotografia: Imagebroker/Rex/Shutterstock
13 de janeiro de 2022
Aquecimento e perda de habitat levam aves e mamíferos a áreas mais frias onde as plantas não podem se desenvolver, mostra estudo
O declínio de animais dispersores de sementes está prejudicando a capacidade das plantas de se adaptarem ao colapso climático, descobriu um estudo.
Quase metade de todas as espécies de plantas dependem de animais para espalharem suas sementes, mas os cientistas temem que essas plantas possam estar em risco de extinção quando os animais são levados a migrar para áreas mais frias, pois as plantas não podem ali se desenvolver facilmente.
Os pesquisadores usaram um sistema de mais de 400 redes de dispersão de sementes em todo o mundo para examinarem o que aconteceria quando os animais deixassem áreas afetadas pelo aquecimento global.
Eles descobriram que a capacidade dessas plantas de se adaptarem às mudanças climáticas já caiu 60% globalmente. Os pesquisadores alertam que isso pode levar à perda permanente de algumas espécies.
“O objetivo deste projeto é entender o que estamos perdendo quando removemos espécies de seus ecossistemas e os papéis que essas espécies estão desempenhando e que serão perdidos quando desaparecerem”, disse Evan C Fricke, ecologista da Rice University em Texas e principal autor do artigo publicado na revista Science.
“Por exemplo, aves e mamíferos são frequentemente atingidos pela perda de habitat e exploração direta, mas desempenham um papel importante como dispersores de sementes. Queríamos entender o que o declínio de aves e mamíferos significa para a capacidade das plantas de acompanharem as mudanças climáticas”.
“As mudanças climáticas e o declínio global da biodiversidade de aves e mamíferos [estão] intimamente ligados”, disse Fricke. “Primeiro, os dispersores de sementes ajudam a capacidade das plantas de rastrear as mudanças climáticas. Mas esse processo é realmente interrompido, tanto que as espécies vegetais não podem mais persistir sob um clima alterado. O estudo mostra que o declínio dessa biodiversidade, em escala global, coloca em risco nossa resiliência climática – a resiliência global das florestas e outras comunidades vegetais para lidarem com as mudanças climáticas”.
A pesquisa examinou como a dispersão de sementes é crucial para a sobrevivência das plantas.
“As plantas, por definição, permanecem paradas, assim sempre dependeram de animais para o transporte de sementes e pólen”, disse o professor Carlos Peres, da Universidade de East Anglia, que não esteve envolvido no estudo. “No entanto, os seres humanos levaram sistematicamente à extinção dispersores de sementes de grande porte, tanto na história quanto na pré-história, e continuamos a dizimar suas populações até hoje, particularmente nos trópicos.
“Este estudo mostra que essas funções de dispersão de linha de base encolheram drasticamente desde que os humanos conquistaram todas as ilhas e continentes, deixando as plantas com pouca resiliência adaptativa contra os atuais estragos das mudanças climáticas”.
O relatório também ofereceu soluções, incluindo que mais espaço deva ser dado aos habitats que são úteis para as plantas e a biodiversidade, a fim de restaurarem a comunidade vegetal.
Tradução livre, parcial, de Luiz Jacques Saldanha, janeiro de 2022.