ILUSTRAÇÕES DE PHIL HACKETT PARA A REVISTA SUNDAY TIMES
06 de outubro de 2024
[NOTA DO WEBSITE: É incrível! Se todos os mais informados, incluindo países do chamado primeiro mundo, reguladores, políticos, partidos políticos, ecologistas, todos da área da saúde e tantos outros, já sabem quem são os ‘forever chemicals’, como ‘isso’ ainda está entre nós, os seres planetários, incluindo os humanos? Aqui se constata como a tida sociedade ocidental é autofágica, supremacista antropocêntrica e criminosa. É o mínimo que possamos concluir, ao se ver uma situação como esta vigendo inclusive no Reino Unido, um dos berços desta visão de mundo arrogante, imperialista e voraz. Está claro que as moléculas sintéticas são ‘eficazmente’ tóxicas. Não foi a Vida que as criou! Como ainda se imagina que outras, da mesma estirpe, poderão não ser? Parece que somos nós, os consumidores ingênuos e desavisados, os estúpidos e eles, os das corporações meritocratas, os cínicos?].
Os produtos químicos em seus utensílios de cozinha podem estar deixando você doente? Conecte com as panelas seguras que os chefs usam.
Uma amiga me mandou uma mensagem outro dia: “Preciso trocar todas as minhas panelas por aço inoxidável?” Ela tinha visto um vídeo curto que estava circulando nas redes sociais recentemente. Uma mulher segura uma frigideira antiaderente para a câmera, com o revestimento arranhado e visivelmente descascando. “Se sua panela está assim, provavelmente está mexendo com seus hormônios”, ela avisa.
Uma busca rápida no TikTok mostra vídeos semelhantes, cada um falando sobre os perigos dos revestimentos antiaderentes “tóxicos” e pedindo aos espectadores que substituam suas panelas por outras novas e mais seguras. Claro que o TikTok pode não ser o lugar mais comedido para obter conselhos sobre saúde, mas há alguma verdade nesses medos?
A maioria das panelas antiaderentes em circulação hoje em dia são revestidas com um produto químico sintético chamado politetrafluoretileno (PTFE/PFAS/’forever chemicals‘), que as pessoas conhecem pela marca Teflon (nt.: nunca ignorar as francesas Tefal). É um dos mais de 10.000 produtos químicos artificiais que pertencem a uma categoria conhecida como PFAS (substâncias perfluoroalquílicas e polifluoroalquílicas). Feitos de átomos de carbono e flúor, eles foram descobertos na década de 1930 e agora são usados em um grande número de produtos, de capas de chuva a rímel à prova d’água, carpetes e embalagens de alimentos.
O uso de alguns tipos de PFAS foi fortemente restringido no Reino Unido e na Europa depois que foi demonstrado que eles causam câncer em humanos. Há preocupações crescentes sobre os produtos químicos PFAS que ainda são permitidos para uso depois que estudos recentes encontraram evidências de que eles podem prejudicar o sistema imunológico e interferir nos hormônios reprodutivos, reduzindo a fertilidade em mulheres (nt.: nunca esquecer o documentário ‘Amanhã, seremos todos cretinos?‘. Isso que dizer que ao flúor interferir na tiroxina da mãe, o embrião/feto poderá nascer com retardo mental).
A razão pela qual os PFAS são tão amplamente usados é que eles são incrivelmente úteis, explica Crispin Halsall, professor de química ambiental na Universidade de Lancaster. “Eles são tolerantes a temperaturas muito altas e baixas, geralmente repelem água, óleos e gorduras e resistem à degradação.”
Eles também apresentam um problema ambiental: esses chamados “químicos eternos/forever chemicals” não ocorrem naturalmente e a natureza não encontrou uma maneira de se livrar deles. “Eles são muito difíceis de destruir”, diz Halsall. “Eles são recalcitrantes e são produzidos em volumes incrivelmente altos — dezenas a centenas de milhares de toneladas globalmente.”
Um relatório governamental não publicado no mês passado afirmou que o custo de remoção de PFAS de até 10.000 locais contaminados no Reino Unido poderia chegar a £ 121 bilhões de libras esterlinas (nt.: algo em torno de 900 bilhões de reais! Quem vai pagar por esta ‘limpeza’ tanto no UK como no resto do planeta??).
De volta às nossas cozinhas. A Teflon, fabricante do revestimento em panelas antiaderentes, diz que o PTFE é uma substância inerte que não oferece riscos à saúde — mesmo que você acidentalmente coma pedaços que tenham se soltado na comida (que delícia). “Dados indicam que não há efeitos à saúde por ingestão acidental”, diz a Teflon. O produto químico PFOA, um tipo de PFAS agora proibido no Reino Unido, era usado anteriormente em produtos de Teflon, mas foi eliminado em 2012 após ser associado a câncer, problemas de fertilidade e outros problemas de saúde.
Muitos tipos modernos de PFAS são semelhantes em estrutura àqueles que foram proibidos, diz o Dr. Shubhi Sharma, pesquisador da CHEM Trust, uma instituição sem fins lucrativos que pressiona por alternativas mais seguras aos produtos químicos sintéticos. “Podemos não entender completamente o que esses produtos químicos estão fazendo conosco, mas mais e mais evidências estão surgindo sobre os riscos à nossa saúde.” Sharma sugere que há evidências científicas de que alguns PFAS podem perturbar nossos hormônios. A Chemours (nt.: vale relembrar de que foi uma empresa criada pela DuPont, a verdadeira criadora do ‘teflon’ para despistar a sociedade e a justiça, face as demandas que surge e surgirão quanto aos ‘forever chemicals’, gerados por esta corporação) , a empresa química dona do Teflon, optou por não fornecer comentários quando contatada pelo The Sunday Times.
Sharma argumenta que simplesmente não há dados suficientes para concluir que o PTFE no Teflon pode ser ingerido com segurança. Muitos ativistas defendem o “princípio da precaução” — proibir uma substância se houver dúvidas sobre sua toxicidade em vez de esperar para ver se ela faz mal às pessoas.
Halsall ressalta que, embora as panelas revestidas de Teflon de hoje possam ser seguras na “fase de uso” — ou seja, ao fazer sua omelete — a produção de PTFE depende de grandes quantidades de outros produtos químicos tóxicos, que podem vazar para o meio ambiente, afetar a vida selvagem e voltar para nós.
“Esses produtos químicos podem aderir às partículas do solo, acabar em corpos d’água, entrar na atmosfera e ser eliminados pela chuva, entrando na cadeia alimentar”, diz Halsall.
Muitos grupos estão fazendo campanha pela remoção de produtos químicos de cosméticos, embalagens de alimentos e roupas. A Dinamarca proibiu o uso de PFAS em papel ou papelão que entre em contato com alimentos, e a UE está propondo uma proibição de até 10.000 tipos de PFAS.
Onde isso deixa os britânicos e nossos ovos fritos? “Cozinhamos sem panelas antiaderentes durante a maior parte da nossa existência”, diz Sharma. “Foi somente nos últimos 50 ou 60 anos que passamos a depender delas. Não recomendo que as pessoas comprem panelas com esse revestimento.”
Halsall diz que se trata de avaliar o risco. “Pense no uso essencial e não essencial. Quando se trata de panelas ou cosméticos, há alternativas que não contêm PFAS, que eu recomendaria que as pessoas optassem.”
Produtos que contêm PFAS, em sua definição mais ampla, que podem ser considerados essenciais incluem certos antibióticos e antidepressivos.
Felizmente, os cientistas estão no caso encontrando alternativas ao PFAS. A Xampla, sediada em Silicon Fen, em Cambridgeshire, foi pioneira na produção de polímeros à base de plantas com a missão de eliminar para sempre os produtos químicos das embalagens, e outros pesquisadores estão tentando aproveitar o poder da natureza, na forma de luz ultravioleta e micro-organismos fúngicos, para quebrá-los e se livrar deles para sempre. Enquanto isso, muitas empresas emergentes de utensílios de cozinha promovem orgulhosamente suas alternativas livres de toxinas, algumas das quais são projetadas usando um revestimento cerâmico feito de areia.
Halsall acha que uma revolução química está chegando. “Eventualmente, o poder do consumidor levará a indústria a mudar.”
Panelas atóxicas que os chefs adoram
Revestido de cerâmica
Nigella Lawson é fã da Always Pan da Our Place. Esta panela antiaderente de alumínio é coberta com um revestimento cerâmico não tóxico feito de “derivado de areia”, que a empresa afirma durar 50 por cento mais do que os revestimentos antiaderentes tradicionais.
Aço inoxidável
Panelas de aço inoxidável são duráveis, mas os alimentos podem grudar na superfície. O chef Theo Randall tem um truque para torná-las antiaderentes. “Aqueça a panela com um pouco de sal de cozinha fino e cozinhe o sal no fogo por dez minutos. Retire do fogo e, usando uma luva de forno, esfregue o sal quente no interior da panela por alguns minutos. O sal limpará profundamente a panela. Em seguida, adicione uma colher de sopa de óleo de cozinha e esfregue com um pano de prato no interior da panela. A panela agora será antiaderente.”
Ferro fundido esmaltado
O ferro fundido em utensílios de cozinha como Le Creuset garante um cozimento uniforme em configurações de calor mais baixas — e o revestimento de esmalte é o sonho de qualquer lavador de panelas. É o que Jamie Shears, o chef executivo do Mount St Restaurant em Mayfair, usa em casa. “Não há nada melhor do que uma panela de ferro fundido clássica para selar carne.”
Titânio
O chef italiano Francesco Mazzei gosta de usar panelas de titânio, que são leves, fortes e podem suportar temperaturas realmente altas. Mazzei recomenda os utensílios de cozinha Ondine: “Eles vão durar a vida toda.”
Tradução livre, parcial, de Luiz Jacques Saldanha, outubro de 2024