
https://chemsec.org/why-the-french-PFAS-ban-isnt-the-victory-it-seems/
Chemsec
07 mar 2025
[NOTA DO WEBSITE: Texto que nos mostra como as autoridades públicas estão em conluio com as corporações. Sempre ficam dando passinhos enganatórios, buscando ludibriar a população, mas sempre submissos aos interesses econômicos. E se a população não estiver desperta e na espreita, será efetivamente enganada e ela é que, diferente das corporações, quem colherá os resultados amargos e prejudiciais dessas decisões, já que os que têm os poderes públicos ou econômicos ficarão com os ‘lucros’. No entanto, tanto uns como os outros sempre parecem esquecer que são tão humanos quanto aos efeitos negativos, como qualquer outro ser planetário!].
Proibir “químicos eternos” apenas em produtos de uso diário corre o risco de dar cobertura para que a indústria continue usando esses venenos em grande escala.
Não há erro maior do que tentar saltar um abismo em pequenos saltos, observou o Primeiro Ministro Britânico David Lloyd George. Ele tinha em mente a relutância dos Liberais em forçar jovens a entrarem para o exército durante a Primeira Guerra Mundial.
Mas Lloyd George poderia igualmente estar comentando a decisão do parlamento francês, há 10 dias, de proibir os infames “químicos eternos/forever chemicals” para sempre” PFAS de uma gama limitada de bens de consumo.
A França não está sozinha. Legislação semelhante já existe na Dinamarca, enquanto nos EUA, mais de uma dúzia de estados introduziram recentemente restrições de PFAS cobrindo bens de consumo como produtos de cuidados pessoais, têxteis e embalagens de alimentos.
A decisão francesa de proibir esses produtos químicos foi tomada em meio a um grande alarde entre ambientalistas. Mas a França corre o risco de estabelecer um mau precedente para a UE como um todo, mergulhando assim o continente em um abismo de poluição contínua.
Uma proibição parcial e específica de um setor pode ser pior do que nenhuma proibição
Os problemas franceses
À primeira vista, proibir esses produtos químicos tóxicos e altamente persistentes de itens do dia a dia parece ser apenas uma coisa boa, um primeiro passo necessário em direção a restrições mais extensas. De fato, a votação francesa reflete o alto nível de preocupação pública com PFAS, compartilhado por outras nações europeias onde os escândalos de PFAS viraram notícia de primeira página.
Mas para que este seja o primeiro passo em direção a uma redução real e duradoura desses produtos químicos, uma medida muito mais ousada é essencial.
Primeiro, a proibição francesa é extremamente limitada, cobrindo apenas cosméticos, calçados, tecidos e cera de esqui. A pressão da Tefal significou que até mesmo algo tão simples quanto frigideiras – onde a substituição de alternativas não-PFAS é tecnicamente simples e economicamente eficiente – é excluída da lei.
Segundo, proibir PFAS de produtos de consumo não protege o público, que é exposto por várias vias. Não impedirá que as pessoas bebam PFAS com sua água, comam-nos com seus alimentos e os respirem do ar. A maioria dos franceses é exposta a essas substâncias por meio de sua água potável; na maioria dos casos, os níveis excedem os limites de segurança.
É uma gota no oceano
Terceiro, ninguém parou para perguntar quanto da crise dos PFAS pode ser atribuída aos produtos de consumo.
A proibição francesa, se implementada em escala da UE, significaria uma redução de emissões de PFAS de apenas 20,2%, de acordo com cálculos dos toxicologistas internos da ChemSec com base em dados disponíveis publicamente e usando suposições conservadoras que tenderiam a superestimar o total. Muitos desses usos são parte de uma transição de mercado em andamento, onde alternativas já foram implementadas. Em outras palavras, proibir esses usos é trancar a porta do estábulo depois que o cavalo fugiu.

Isso significa que a proibição francesa permitirá que cerca de 80% das emissões continuem. Os PFAS são muito mais amplamente usados em produtos e processos industriais do que no setor de consumo, enquanto a proibição proposta não cobre categorias importantes focadas no consumidor que contribuem para as emissões de PFAS. Como os PFAS se acumulam e permanecem indefinidamente no ambiente, os níveis continuarão a aumentar. Uma proibição de 20% nem começa a mover o dial.
Consequentemente, os custos de limpeza de PFAS da água, do solo e de aterros sanitários permanecerão inalterados. O custo de limpeza da poluição pode chegar a mais de € 2 trilhões na Europa e no Reino Unido em um período de 20 anos, foi revelado recentemente .
Um precedente perigoso
Finalmente, a proibição parcial francesa chega no momento perfeito para a Comissão Europeia, que está buscando forçar uma proibição limitada de produtos de consumo para mostrar que está fazendo algo sobre a crise. “O que sabemos que estamos buscando é uma proibição [de PFAS] em produtos de consumo”, disse o comissário de meio ambiente da UE à Reuters em janeiro, explicitando uma ideia que vem circulando em Bruxelas há algum tempo.
Os formuladores de políticas podem ver isso como um expediente político que apaziguará o público enquanto agrada a indústria, que está relutante em inovar. Além de não proteger o público, tal atalho burocrático também causaria um curto-circuito nos preparativos em andamento na Europa para uma proibição universal de PFAS, adiando a data indefinidamente.
Proibições parciais de produtos químicos permanentes apenas fornecem cobertura para partes não inovadoras da indústria continuarem usando essas substâncias. Uma proibição abrangente que trabalhe com a indústria para eliminar gradualmente todos os PFAS é a única maneira eficaz e responsável de seguir em frente.
Uma proibição parcial e específica de um setor pode ser pior do que nenhuma proibição – um salto fadado ao abismo.
Tradução livre, parcial, de Luiz Jacques Saldanha, março de 2025