Perto de 500 maneiras de fazer do colchonete de Yoga, um sanduíche.

Se você se estira num colchonete de ioga, escorrega numa sandália de dedo, extrai a proteção acolchoada de um celular ou alinha num sótão um isolamento de espuma, as chances são de que houve uma pincelada que seja nestes produtos com um químico industrial chamado azodicarbonamida (azodicarbonamide), também conhecido pela sigla ADA. Na indústria de plásticos (plastics industry), o ADA é a escolha de um “agente químico de espuma” (“chemical foaming agent”). No processo é misturado ao gel do polímero plástico para gerar pequenas bolhas de gás, como se fosse como um vinho espumante para plásticos. Os resultados são materiais fortes, leves, esponjosos e maleáveis.

http://www.ewg.org/research/nearly-500-ways-make-yoga-mat-sandwich?inlist=Y&utm_source=201403adaemailgmail&utm_medium=email&utm_content=first-link&utm_campaign=food

By David Andrews, Ph.D.,  cientista sênior, e Elaine Shannon, Editora-chefe e editora.

Como poucos norte americanos perceberam até que – a ativista por uma alimentação saudável, orgânica e livre de transgênicos – Vani Hari (Vani Hari, creator of FoodBabe.com) tivesse alardeado, há poucos dias no início deste ano, ainda estaríamos provavelmente ingerindo o químico “ADA/azodicarbonamida” (nt.: ver http://culinaria.terra.com.br/substancia-quimica-usada-em-sola-de-sapato-e-encontrada-em-fast-food,70c28e43f0c14410VgnVCM4000009bcceb0aRCRD.html). Esta substância química da indústria de resinas plásticas, encontrada em muitos produtos comerciais de panificação como um “condicionador de massa de panificação”, processa grandes lotes de massa facilitando o manuseio e tornando os produtos acabados mais fofos e resistentes o suficiente para suportarem o transporte e o armazenamento. De acordo com o novo banco de dados do EWG sobre alimentos quanto aos ingredientes em mais de 80 mil alimentos, e agora em desenvolvimento, mostra que o ADA aparece em quase 500 itens e em mais de 130 marcas (ADA turns up in nearly 500 items and in more than 130 brands ) de pães, recheios de pães e petiscos/aperitivos/salgadinhos, sendo que alguns são propagandeados como “saudáveis”.

Os pesquisadores do EWG que estão formando este banco de dados, detectaram que a ADA está citada como ingrediente em rótulos de muitos produtos de marcas conhecidas de pães, torradas, sanduíches pré-elaborados e petiscos como as “Ball Park, Butternut, Country Hearth, Fleischman’s, Food Club, Harvest Pride, Healthy Life, Jimmy Dean, Joseph Campione, Kroger, Little Debbie, Mariano’s, Marie Callendar’s, Martin’s, Mother’s, Pillsbury, Roman Meal, Sara Lee, Schmidt, Shoprite, Safeway, Smucker’s, Sunbeam, Turano, Tyson, Village Hearth e Wonder” (nt.: marcas norte americanas que poderão estar sendo importadas e vendidas entre nós).

Este aditivo sintético foi fortemente ignorado porque não é reconhecido como tóxico para pessoas na concentração aprovada pela agência federal que administra fármacos e alimentos (nt.: em inglês – Food and Drug Administration) – 45 partes por milhão. De acordo com a Organização Mundial da Saúde/OMS (nt.: em inglês – World Health Organization), trabalhadores que manuseiam grandes volumes têm reportado sintomas respiratórios e sensibilização na pele, mas a ADA não foi submetida a testes extensivos de seu potencial danoso à saúde humana.

Uma coisa está clara: a ADA não é alimento, como ele vem sendo considerado e conceituado na maior parte da história humana.  É um químico industrial acrescido à massa de pão por uma questão de conveniência da indústria panificadora. Em séculos passados, a farinha fresca que vinda do moinho, ficava vários meses ‘repousando’ antes de ser amassada e sovada para então ser levada para crescer no forno. Mas em 1956, uma firma de engenharia química e farmacêutica de New Jersey nos EUA (New Jersey chemical, pharmaceuticals and engineering firm) chamada Wallace & Tiernan, mais conhecida pela invenção do processo de clorificação massificada da água, descobriu que a ADA levava a farinha a “realizar a ação de maturação sem longa estocagem”. Resulta, com a aplicação da patente da firma, que o pão comercial tornava-se “leve, macio e adequadamente úmido, ainda adequadamente firme ou resiliente, mantendo a casca crocante e as propriedades internas de uma natureza de prazer e de sabor”.  A FDA aprovou a ADA como um aditivo alimentar em 1962.  Mas não tem esta aprovação tanto para a Austrália como para a União Europeia.

No início dos anos 90, a ADA tornou-se o condicionador de massa preferido de muitos panificadores comerciais norte americanos como resultado da lei sobre água potável e produtos tóxicos da Califórnia (California’s Proposition 65), que começou a ter efeito em 1987. Esta lei exige das autoridades da Califórnia (California authorities) que listem certos químicos em alimentos como “possivelmente perigosos à saúde humana”. O bromato de potássio, então um comum condicionador de massa, foi detectado como sendo carcinogênico (carcinogenic) em testes com animais e fez com que a lei californiana listasse a partir de 1991. A ADA foi adotado como um substituto seguro.

Por anos, os ativistas da área da saúde que estavam preocupados quanto aos químicos sintéticos em alimentos, atacavam o uso generalizado da ADA, mas não havia atraído a atenção nacional dos EUA até a manchete feita pela blogueira Vani Hari do FoodBabe que fez circular uma petição ( circulated a petition) demandando que a Subway, uma das maiores rede mundiais de fast-food, parasse de utilizar esta substância química nos pães de seus sanduíches. A rede respondeu (Subway responded) que a ADA era segura, mas mesmo assim tinha, sem pressa, procurado um substituto no ano passado. A empresa salientou que a ADA “é encontrada nos pães da maioria das cadeias como Starbuck, Wendy, Arby, McDonalds, Burger King e Dunkin Donuts“. Esses outros gigantes do fast food juntaram-se à Subway na postura defensiva da ADA.

Os dados do EWG, que estão agora sendo testados, apesar de ainda estarem em desenvolvimento, mostram que a ADA está difundida em itens de supermercados tanto quanto no fast food. O projeto do EWG está sendo construído sobre os dados reunidos pelo website FoodEssentials, uma companhia que compila detalhes sobre os ingredientes nos alimentos vendidos nos supermercados norte americanos. A estes dados, o EWG acrescentou outras classes oriundas de sua pesquisa sobre danos originados, por exemplo, de resíduos de agrotóxicos, aditivos alimentares e de contaminantes como mercúrio. O banco de dados do EWG será o primeiro deste tipo – a observação profunda sobre o valor nutricional dos alimentos vendidos em supermercados tanto quanto seus riscos potenciais de dano e graus de processamento. Este projeto interativo é financiado pelo apoio da  GRACE Communications Foundation, da Brin Wojcicki Foundation e a comunidade online do EWG e seus parceiros. E já uma agenda para estar prontamente disponível para o público.

O banco de dados tem dois propósitos: empoderar os consumidores com as informações que eles precisam para fazerem escolhas de consumo mais saudáveis e para colocarem pressão sobre os industriais de alimentos no sentido de limparem o suprimento industrial alimentar da nação. Baseia-se tanto na competência como na experiência adquirida pelo EWG para o desenvolvimento deste banco online que tem afetado dramaticamente a política dos debates e a conscientização dos consumidores sobre tópicos como os subsídios do agronegócio, os contaminantes da água tratada, agrotóxicos na produção, ingredientes perigosos nos produtos de uso pessoal e produtos de limpeza, além dos danos provocados nos espaços e nas terras públicas gerados pela extração de petróleo, gás e urânio.

A informação detalhada neste relato sobre a substância química – ADA -, reunida e publicada pelo website FoodEssentials em 11 de fevereiro passado (nt.: ano de 2014), representa só um lampejo de todo o mercado de alimentos neste exato momento. O EWG reconhece que o mercado está mudando constantemente  como formula, interrompe e introduz produtos no processamento dos alimentos. A relação de produtos abaixo listados neste trabalho representa um extenso olhar sobre os ingredientes presentes nos alimentos atualmente disponíveis no comércio, mas ela pode ainda não ser totalmente abrangente. Os consumidores precisam aprender a ler os rótulos dos produtos para aprenderem se realmente a ADA e outras substâncias químicas usadas como aditivos estão nos itens destes produtos que se está pensando comprar.

A busca dos consumidores por alimentos saudáveis pode ser mais fácil no momento em que a tendência de um “rótulo claro” nos alimentos industrializados ganhe corpo. No início deste ano em curso, o periódico ligado ao setor Snack Food & Wholesale Bakery reportou que os industriais que produzem pães comerciais e salgadinhos estão em busca de novos e melhores ingredientes “principalmente devido à demanda do consumidor por melhores produtos para sua ingestão com rótulos mais claros e sem a presença de organismos geneticamente modificados (nt.: os transgênicos e tratados em inglês com genetically modified organisms/GMOs).”

“Rótulo claro,” significa “natural,” não tem uma precisa definição legal (nt.: destacamos que isso é nos EUA, no Brasil desconhecemos qualquer movimento neste sentido). Os fabricantes de alimentos muitas vezes usam o termo que significa saudável (often use the term to mean wholesome), ou seja, sem ingredientes sintéticos e não rotulados – notadamente o químico azodicarbonamida.

O EWG recomenda que os consumidores tomem algumas medidas para evitarem o aditivo industrial – ADA – em seus alimentos. É um ingredientes que além de desnecessário, seu uso tem aumentado as preocupações sobre sua exposição ocupacional e permanecem dúvidas quanto ao seu risco potencial para os consumidores.

O EWG também apela para que todos os fabricantes parem imediatamente com este emprego nos alimentos.

Perto de 500 alimentos contêm azodicarbonamida.

Relação de marcas e produtos nos EUA.

Fontes: Dados providos pelo website FoodEssentials em 27/2/2014.

* A versão original deste relato incluiu a firma Nature’s Own porque seus produtos de panificação normalmente contêm ADA. Em 28 de fevereiro de 2014, ela informou ao EWG que teria removido a ADA de seus produtos no outono de 2013 (nt.: no hemisfério norte) e começou a atualizar suas embalagens de forma a refletirem esta mudança.

Um porta voz da companhia disse: “em pouco e limitados mercados, algumas variedades ainda têm estas embalagens desatualizadas com a ADA mencionada em ‘uma ou mais’ listas. Entretanto, os produtos não mais contêm ADA.

** Ressalva. As conclusões e descobertas que aparecem nesta página refletem pesquisa do EWG quando da publicação acima referida. Tendo em conta evolução das condições de mercado, reformulações posteriores do produto e outros fatores, podem já não ser atuais. O EWG não está com representações ou mesmo com garantias sobre quaisquer destes produtos que podem aparecer nesta página. O EWG assim renuncia a todas as garantias no que diz respeito a qualquer um dos produtos que podem aparecer nesta página, incluindo garantias implícitas de comercialização expressas ou regulamentares ou mesmo adequação para um determinado uso.  

Tradução livre de Luiz Jacques Saldanha, março de 2014.