Os segredos corporativos e os perigos do Teflon

 
 
 
 
 

 

 

 

Resumo da História

  • A substância artificial PFOA (nt.: sigla em inglês – perfluorooctanoic acid) foi durante décadas um ingrediente essencial nos utensílios de cozinha da DuPont. Também se utilizou em centenas de outros produtos antiaderentes e antimanchas. Atualmente, o PFOA é o sujeito de 3.500 de processos judiciais contra a DuPont, por lesões.
  • As substâncias poli e perfluoroalquil substâncias (nt.: PFAS – sigla em inglês) utilizadas para produzir superfícies antiaderentes, antimanchas e contra água são tóxicas e altamente persistentes, tanto em corpo humano como no ambiente.
  • A Declaração de Madrid, firmada por mais de 200 pesquisadores de 40 países, representa o consenso científico sobre os danos dos químicos PFAS, tanto antigos como novos.

 

Criança contaminada pelo perfluorado que se emprega para produzir o anti-aderente do teflon

 

 

By Dr. Mercola

Se ainda utilizarmos utensílios de cozinha antiaderentes (non-stick cookware), o ideal será que reconsideremos este fato muito seriamente. Igualmente será se estivermos utilizando roupas antimanchas ou à prova d’água e se tivermos optado por travesseiros e tecidos à prova de manchas.

Todos estes produtos, e muitos mais, contêm ácido perfluorooctanoico (perfluorooctanoic acid/PFOA, sigla em inglês, também conhecido como C8) que, segundo agora revelado, é muito mais perigoso do que se acreditava.

Durante 50 anos, a DuPont utilizou o PFOA para produzir o teflon. Ao longo do tempo, a corporação sempre vinha defendendo a segurança do PFOA e, até agora, ainda resiste a aceitar os problemas à saúde ocasionados por tal exposição. Por fim, a verdade veio à luz.

Faz mais de 15 anos que venho advertindo os leitores e a todas as pessoas sobre os perigos potenciais do teflon. Como resultado, a DuPont me ameaçou judicialmente muitas vezes.

Para evitar a onerosa ação judicial de parte deste litígio, tive que me abster de utilizar a palavra “teflon” em qualquer artigo sem antes ter recebido uma carta do departamento jurídico da companhia, assim que a evitei durante vários anos quando escrevi sobre os perigos do PFOA.

A evidência agora tornou-se absolutamente clara para o conhecimento de todos, exatamente  como vinha advertindo durante uma década e meia. Os perigos tornam-se indiscutíveis e a conexão da DuPont com este veneno prejudicial à saúde, começa a despertar a atenção dos meios de comunicação.

O New York Times publicou recentemente um artigo detalhado1  (nt.: este artigo será prontamente traduzido) sobre a batalha judicial contra a DuPont durante os últimos 15 anos, a respeito da contaminação do PFOA e seus efeitos tóxicos. Recomendo fortemente que se leia este material por completo. É leitura excelente e imprescindível.

No ano passado, a publicação online The Intercept também publicou um documento 2  em três partes intitulado “The Teflon Toxin: Dupont and the Chemistry of Deception” (O veneno Teflon: Dupont e a química da trapaça”), no qual é detalhada a história que a DuPont utilizou para ocultar os fatos.

Um Advogado Corporativo de Defesa de Substâncias Químicas Torna-se o Pior Inimigo da DuPont

Durante os últimos 15 anos, Rob Bilott, advogado ambiental e sócio do escritório Taft Stettinius & Hollister, travou uma batalha judicial contra a DuPont. Ele é um inimigo inacreditável de uma corporação de substâncias químicas, já que seu escritório havia se especializado em defender clientes corporativos, como as indústrias petroquímicas.

O artigo mencionado do New York Times vai aos detalhes sobre como chegou ao enfrentamento com a DuPont ao representar um agricultor de West Virginia.

No início da década de 80, o agricultor com relutância vendeu 26 hectares de terra para DuPont, para que a corporação instalasse um aterro de lixo.

Na extensão de terra que vendeu à DuPont havia um arroio que corria através dela, e que serpenteava até à área onde o agricultor levava suas vacas para pastar.

Não muito depois da venda, seu gado começou a “agir como enlouquecido” e outros males misteriosos também surgiram. Mais de 150 cabeças já haviam morrido quando o agricultor, Wilbur Tennant, contatou Bilott.

Em resposta à demanda inicial de Bilott, ajuizada em 1999, a DuPont ofereceu assumir uma pesquisa da propriedade de Tennant, com a ajuda da Agência de Proteção Ambiental dos EUA (USEPA, conforme sua sigla em inglês). Três veterinários escolhidos pela DuPont e três da EPA realizaram esta pesquisa.

Segundo relata o artigo mencionado:

“O resultado não detctou de que a DuPont fosse a responsável pelos problemas de sanidade do gado. Ao contrário, o culpado foi o mal manejo do agricultor: “má nutrição, cuidado veterinário inadequado e falta de controle sobre as moscas”.

Em outras palavras, a família do senhor Tennant não sabia como criar seus animais; se as vacas estavam morrendo, era por sua própria culpa”.

Em uma carta que a DuPont enviou à EPA mencionava uma substância que se encontrava no lixão e sobre a qual Bilott nunca havia ouvido falar dela anteriormente, mesmo com toda sua experiência na indústria química. Essa substância era o “PFOA”.

O especialista da área da química contratado para o caso recordou haver lido acerca dos “PFOS” em uma revista especializada, que eram utilizados na produção do ‘Scotchgard’.

Em razão de não poder encontrar nenhuma informação sobre o PFOA, Bilott solicitou à DuPont que compartilhasse aquilo que sabia sobre esta substância. Quando a companhia negou, ele requisitou através de uma ordem judicial para obrigá-la a publicar a documentação, que lhe foi entregue.

Documentos Internos Revelaram a Culpa da DuPont

No final dos anos 2000, ele recebeu mais de 110 mil páginas de material relacionado ao PFOA, alguns deles tinham mais de 50 anos. Entre os documentos havia notas internas privadas, relatórios médicos e estudos confidenciais realizados pelos cientistas da DuPont. Como relatou o artigo mencionado:

“Comecei a se conectar com toda a a historia”, disse Bilott. “É possível que eu tenha sido a primeira pessoa que os revisou em sua totalidade. Pareceu-me evidente o que estava acontecendo: Há muito tempo já sabiam que essa substância era prejudicial”… A história que Bilott começou a conhecer… tinha uma amplitude, uma especificidade e um deslavado descaramento, surpreendentes.

“Fiquei em choque”, disse… Bilott não podia acreditar a escala de material incriminador que a DuPont havia lhe enviado. A companhia parecia não se dar conta do que acabara de lhe entregar. “Esta foi uma destas vezes em que não podes crer naquilo que estás lendo”, disse. “Aquilo que realmente estava ali escrito…

No entanto, a descoberta mais fundamental do caso da família Tennant foi este: no final da década dos anos 80… [a DuPont] decidiu que precisava encontrar um espaço para um aterro para depositar as águas residuais tóxicas… Felizmente, haviam comprado há pouco tempo. 26 hectares… que seriam perfeitos para este fim.

Em 1990, a DuPont havia descartado 7.100 toneladas de águas residuais com PFOA no aterro de “Dry Run”. Os cientistas da DuPont sabiam que do aterro estes escorriam para o resto da propriedade da família Tennant e analisaram a água do arroio “Dry Run“. Continha uma concentração extraordinariamente alta de PFOA.

A DuPont não informou à família Tennant neste momento, nem revelou este fato em seu relatório quando avaliou a questão do gado do que foi encarregado no caso de Tennant, uma década depois: o relatório em que responsabilizava ao mau manejo as mortes das vacas. Bilott então tinha o que necessitava…

Em agosto de 2000, Bilott requisitou o advogado da DuPont, Bernard Reilly e lhe explicou que sabia o que estava se passando. Foi um diálogo breve. A família Tennant tinha a solução…”.

Outras Descobertas Impactantes

De acordo com os documentos, as recomendações dos despejos da DuPont especificavam que o PFOA não deveria se descartado na água de superfície nem nos esgotos.

No entanto, durante décadas a companhia eliminou centenas de milhares de toneladas de pó de PFOA no rio Ohio.

As águas residuais contaminadas com PFOA que chegaram ao aterro da propriedade que compraram da família Tennant, também chegaram ao lençol freático que fornecia água potável de mais de 100 mil moradores das localidades de Parkersburg, Vienna, Little Hocking e Lubeck.

Os documentos demonstraram ainda que durante quatro décadas, as corporações 3M e DuPont realizaram pesquisas médicos secretas com o PFOA, as quais, desde 1961, revelaram problemas potenciais de saúde em ratos e coelhos.

Na década seguinte, a DuPont descobriu que os trabalhadores de suas fábricas tinham altos níveis de PFOA no sangue, mas não informaram à USEPA sobre isso.

Em 1981, a 3M detectou que a ingestão de PFOA ocasionava defeitos de nascimento nas ratas, depois do qual a DuPont analisou as crianças das empregadas grávidas em seu departamento do Teflon. Dois de sete meninos tinham defeitos oculares.

A DuPont novamente decidiu não compartilhar a informação de maneira pública. Em 1984, ela se deu conta de que o PFOA estava nas estações de fornecimento local de água. Em 1991, um dos distritos locais de água tinha níveis de PFOA três vezes mais altos que aquele que a DuPont havia estabelecido internamente como o limite seguro para a água para beber que era de uma parte por bilhão (ppb). Ainda assim, a companhia ficou em silêncio.

Segundo relata o periódico The New York Times:

“Bilott descobriu que, na década dos anos 90, a DuPont entendia que o PFOA causava tumores cancerosos de testículos, pâncreas e fígado nos animais de laboratório. Uma pesquisa de laboratório sugeriu um possível dano do DNA devido à exposição ao PFOA e outra sobre os trabalhadores, relacionou sua exposição com o câncer de próstata”.

Neste momento, a DuPont decidiu desenvolver uma alternativa ao PFOA. Em 1993, haviam encontrado um “candidato viável” que parecia ser menos tóxico. Infelizmente, a companhia tomou uma decisão contrária à troca, pois isso haveria de impactar seus lucros.

Bilott Segue Acionando a DuPont em Nome do Público

Depois de resolver o caso da família Tennant, Bilott decidiu acionar a DuPont por outros danos. Depois de tudo isso aí, se a água potável envenenada com PFOA poderia danificar e matar as vacas, o que poderia estar ocasionando a todas as pessoas que bebem esta água contaminada?

Bilott escreveu um informe de 972 páginas contra a DuPont, ao qual seus colegas se referiam como a “Famosa Carta de Rob”, e que, em março de 2001, foi enviado ao diretor de cada autoridade reguladora relevante, como a USEPA e ao procurador geral dos Estados Unidos.

Em resposta, a DuPont requereu uma ordem de não divulgação deste material para evitar que Bilott compartilhasse a informação que obteve no caso Tennant. A solicitação foi negada e Bilott enviou tudo o que tinha à USEPA.

De acordo com The New York Times:

“Com a famosa Carta, Bilott cruzou uma linha… Havia se convertido em uma ameaça, não só para a DuPont, como também, nas palavras de uma circular interna, “de toda a indústria dos fluorpolímeros”: uma indústria responsável pelos plásticos de alto rendimento que se utilizam em muitos utensílios modernos, entre os quais se encontram produtos de cozinha, cabos de computadores, dispositivos de implante médico, rolamentos e vedações utilizados em autos e aviões.

O PFOA foi só um de mais de 60 mil substâncias químicas que as companhias produziam e lançavam no planeta sem a devida supervisão regulatória.

“A Carta de Rob desnudou um novo panorama”, disse Harry Deitzler, advogado atuante que vive na Virginia Ocidental e que trabalha com Bilott. Antes dessa carta, as corporações podiam  invocar a má percepção pública de que, se um produto químico fosse perigoso, estaria realmente regulamentado’.

Sob a Lei de Controle de Substâncias Tóxicas de 1976, a USEPA pode analisar as substâncias químicas unicamente se tem evidência que assinala que é prejudicial.

Este acordo, que geralmente permite que as companhias químicas se regulem a si mesmas, é a razão pela qual, durante os últimos 40 anos, a USEPA limitou somente cinco substâncias de dezenas de milhares que se encontram no mercado”.[O grifo é meu].

Logo, Bilott ajuizou uma ação coletiva contra a DuPont em nome de todas as pessoas que haviam ingerido a água envenenada com PFOA: cerca de 70 mil pessoas em seis departamento de água, mais dezenas de poços privados. A EPA também começou sua própria investigação sobre o PFOA, com base na informação compartilhada por Bilott.

Em 2001, a EPA anunciou que o PFOA poderia apresentar riscos sobre a saúde do público em geral, através da água contaminada E dos utensílios de cozinha com Teflon. A própria investigação da DuPont mostra que quando seus utensílios antiaderentes se aquecem, descompõem-se em, não menos do que 15 gases e partículas tóxicas, a maioria delas à base de flúor. 3,4

As Calamidades Legais da DuPont Seguem Piorando

Em 2005, a EPA multou a DuPont em 16,5 milhões de dólares devido à violação da Lei de Controle de Substâncias Tóxicas ao reter por décadas informações valiosas sobre os prejuízos à saúde relacionados com o PFOA.

Neste tempo, essa multa era a mais alta que havia sido definida pela EPA. Representava, realmente, menos de dois por cento dos lucros que a DuPont obteve com o PFOA só neste ano, assim que teve um pífio efeito dissuasivo.

Nesse mesmo ano, também se reuniu um painel de cientistas para determinar o efeito do PFOA sobre a saúde humana. Depois de sete anos de investigações, cujos resultados estão detalhados em mais de três dezenas de publicações revisadas em pares, 5 o C8 Science Panel relacionou o PFOA com:

  • Colite ulcerosa
  • Colesterol alto
  • Hipertensão induzida pela gravidez
  • Enfermidade da tireoide
  • Câncer testicular e renal

Até agora, aproximadamente 3.500 pessoas acionaram a DuPont por danos. O primeiro caso que chegou a juízo foi o de uma mulher de Ohio chamada Carla Bartlett, que afirmou que a água potável contaminada com PFOA ocasionou o desenvolvimento de câncer de rins. 6

O caso foi a juízo em setembro de 2015. A DuPont/Chemours demostrou ser responsável por negligência neste caso 7 e o juiz decidiu a favor de Bartlett um valor total de 1,6 milhão de dólares pelo prejuízo. Presume-se que a DuPont apelará. Segundo o The New York Times:

“A negativa continua da DuPont de aceitar sua responsabilidade é exasperante para Bilott. ‘Ao pensar que tenhas negociado de boa fé um acordo que todos acataram e que neste fato se trabalhou durante sete anos, chega-se a um ponto onde algumas coisas deveriam se resolver facilmente, no entanto, seguem sem resposta’, disse.

‘Penso naqueles clientes que esperaram por isso, muitos dos quais estão enfermos ou até já faleceram nesta espera. É para enlouquecer qualquer um’.”

Sua Água Potável Está Contaminada com PFOA?

Em agosto de 2015, a ONG norte americana EWG/Envionmental Working Group revelou num relatório sobre o Teflon, 8,9,10  afirmando de que havia encontrado PFOA em 94 estações de fornecimento d’água, em 27 estados dos EUA.

O EWG também ressalta uma investigação recente em que mostra que o PFOA é perigoso em níveis 1300 vezes menores do aqueles reconhecidos anteriormente pela EPA! Segundo o artigo:

“… [D]ois destacados cientistas ligados à saúde ambiental publicaram pesquisas com implicações alarmantes… [I]nclusive concentrações diminutas de PFOA, abaixo do limite relatado e exigido pelas análises da EPA das estações de fornecimento d’água pública, são prejudiciais.

Isto significa que o nível de advertência para a saúde da EPA é centenas ou milhares de vezes demasiado débil para proteger completamente a saúde humana com uma margem adequada de segurança”.

As áreas de maior concentração de PFOA são: Issaquah, Washington; Wilmington, Delaware; Colorado Springs; Nassau County em Long Island; e Parkersburg, em West Virginia. 11 Com exceção de Parkersburg, estes setores foram incluídos na ação judicial coletiva de Bilott contra a DuPont.

As análises também revelaram que o PFOA se encontra no sangue de praticamente todas as pessoas nos Estados Unidos, como os bebês, já que se transfere da mãe para o filho através do cordão umbilical e do leite materno.

O PFOA, que é muito resistente à degradação, também foi detectado nos animais silvestres de todo o mundo. Inclusive os albatrozes de Sand Island, um refúgio da vida silvestre, no meio do Oceano Pacífico Norte, apresentam esta substância química em seu sistema.

Como afirmou o periódico The Intercept:12

“Ainda que a DuPont já não utilize mais o C8, é atualmente impossível eliminar esta substância de todos os corpos d’água e correntes sanguíneas que estão contaminados com ela. E, já que é tão estável quimicamente (de fato, segundo o que os cientistas podem determinar, nunca se descompõe) espera-se que o C8 permaneça no planeta muito tempo depois de que os seres humanos já não se encontram nele”.

Centenas de Cientistas Emitem uma Advertência Contra os PFAS

Em maio passado, mais de 200 cientistas de 40 países firmaram a chamada Declaração de Madrid, 13,14 que adverte contra os danos de todos os fluorquímicos (PFAS), tanto velhos como novos. Menciona muitos dos efeitos documentados para a saúde relacionados com os velhos PFAS de cadeia longa, como os seguintes: 15

 

Toxicidade hepática Interrupção do metabolismo lipídico e os sistemas imunológico e endócrino
Efeitos de condutas neurológicos adversos Toxicidade e morte neonatal
Tumores em múltiplos sistemas de órgãos Câncer testicular e renal
Disfunção hepática Hipotiroidismo (Hypothyroidism)
Colesterol alto (High cholesterol) Colite ulcerosa
Menor tamanho e peso ao nascer Obesidade (Obesity)
Menor resposta imunológica às vacinas Menores níveis de hormônios e puberdade tardia

 

A Declaração também destaca que:

    1. Apesar de que alguns PFAS de cadeia longa serem regulados ou eliminados gradualmente, comumente se sucedem com os PFAS de cadeia curta com estruturas similares ou compostos com segmentos fluorados vinculados por uniões de éter.
    2. Enquanto que algumas alternativas fluoradas de cadeia curta parecem ser menos bioacumulativas, permanecem ainda como ambientalmente persistentes como substâncias de cadeia longa ou têm metabólitos persistentes.

Além disso, a troca para alternativas de cadeia curta ou outras substâncias fluoradas poderiam não reduzir as quantidades de PFAS no ambiente. Isso porque alguns PFAS de cadeia curta são menos efetivos, podendo exigir maiores quantidades para atingirem o mesmo desempenho.

  1. Embora se comercialize muitas alternativas fluoradas, há muito pouca informação pública disponível acerca de sua estrutura química, propriedades, usos e perfil toxicológico.
  2. Aumentar o uso das alternativas fluoradas ocasionará o aumento no ambiente dos níveis de produtos de degradação estáveis e possivelmente também na biota e nos seres humanos. Isso aumentaria os riscos de efeitos adversos na saúde humana e no ambiente.

Uma Nova Reforma da Lei Poderia Anular as Normas Estatais Sobre as Substâncias Químicas Perigosas

Enquanto é cada vez mais claro que necessitamos regras muito mais restritivas para as substâncias químicas, as atualizações propostas para a Lei de Controle de Substâncias Tóxicas de 1976 poderiam dificultar os esforços para proteger as pessoas nos Estados Unidos contra as substâncias químicas perigosas, ao anular as regras químicas estabelecidas pelos estados individualmente.

A lei do Senado (a Lei de Frank R. Lautenberg para a Seguridade Química do Século XXI), que foi aprovada em dezembro de 2015, faz que seja mais difícil para que os estados regulem as substâncias químicas uma vez que a EPA as analisou. Também proíbe os estados de tomarem qualquer ação contra as substâncias químicas que a EPA esteja investigando atualmente.

A versão da Câmara (a Lei de Modernização da TSCA), que evita que os estados regulem novas substâncias químicas, e que é apoiada por mais de 100 grupos da indústria, foi aprovada em junho de 2015. Por agora, estão tentando combinar ambas as leis, já que contêm várias diferenças. Segundo relatou The Intercept: 16

“Apesar de a lei TSCA do Senado deixar intactas algumas restrições estaduais existentes sobre certas substâncias químicas, as cláusulas da lei evitariam que os estados estabelecessem regulamentações no futuro, anulando os esforços que já estão em processo. Tomemos por exemplo a legislação pendente do estado de Washington para proibir as substâncias químicas retardadoras de chamas que se utiliza em móveis e produtos para crianças.  

Os defensores têm trabalhado por anos para se proibir estes disruptores endócrinos e possíveis cancerígenos humanos… Se a EPA puser estas substâncias retardadoras de chamas em sua lista de prioridades… esta lei bloquearia os novos esforços do estado por restringi-los.

Além de limitar as regulamentações estaduais, os projetos da reforma TSCA estão se combinando em uma lei que contenha cláusulas que farão com que seja mais difícil interceptar as importações de substâncias químicas perigosas nas fronteiras dos Estados Unidos, exigem que a EPA designe algumas substâncias químicas como de “baixa prioridade” sem avaliá-las completamente. Nenhuma das versões aborda o grande problema de que as companhias tenham permissão para  lançarem substâncias químicas novas no mercado, sem haver a análise prévia de sua segurança”.

Como Evitar Estas Perigosas Substâncias Químicas

Está bastante claro que não se pode confiar de que a indústria química se regulará a si mesma, e a DuPont é um grande exemplo disso.

Poderia levar décadas antes de que as substancias químicas perigosas sejam reconhecidas como tal e daí, a companhia pode simplesmente trocar para outra que não haja sido analisada nem regulada, e assim continua o jogo de esconde-esconde (whack-a-mole game), já que as substâncias químicas não têm que demobstrar serem seguras antes de utilizá-las. Segundo relato do The New York Times:

“’Pensar que a DuPont tenha podido escapulir durante tanto tempo’, disse Bilott, seu tom demonstra uma mescla de surpresa e raiva, “que puderam seguir gerando lucros destas substâncias, logo obter o acordo das agências do governo para eliminá-las gradualmente, unicamente para trocá-las por uma alternativa de efeitos desconhecidos sobre os humanos; em 2001 informamos às agências sobre isso tudo e praticamente não fizeram nada.

Já são 14 anos de que esta substância segue sendo usada, de que siga presente na água potável de todo o país. A DuPont simplesmente muda em silêncio em direção à substância seguinte. E, enquanto isso, combate qualquer pessoa que tenha sido afetada”.

A Declaração de Madrid17 recomenda evitar qualquer produto que contenha, ou tenha sido fabricado, com as PFAS (nt.: poly-perfluoroalkyl substances – substâncias poli-perfluoralkil – matéria prima para o Teflon) e afirma que entre estas se encontram aquelas que estão os produtos comerciais antimanchas, à prova d’água e antiaderentes. Pode-se encontrar mais orientações úteis no Guide to Avoiding PFCS da ONG EWG.18

Além de enumerar uma variedade de marcas de calçado desportivo conhecidas que utilizam PFC em seus sapatos e roupas, o guia também informa que a Apple admite que a pulseira de seu novo modelo Apple Watch Sport é feito com PFC. Entre outras sugestões que auxiliariam o consumidor a evitar estas perigosas substâncias químicas, é manter-se longe dos seguintes produtos:

Artigos que tenham sido pré tratados com substâncias antimanchas e optar por produtos que evitam este tipo de procedimentos ao comprar móveis e almofadas novas.
Roupa à prova d’água ou antimanchas. Um exemplo é quando um elemento feito com fibras artificiais se descreve como “poroso ou respirável” Estes são tratados efetivamente com politetrafluoretileno (PTFE, sigla em inglês), um fluorpolímero sintético.
Produtos tratados com substâncias químicas retardadoras de chama (flame retardant chemicals),19 entre os quais encontramos uma ampla variedade de artigos para bebê, móveis acolchoados, colchões e almofadas. Opte por materiais que são naturalmente menos inflamáveis como couro, lã e algodão.
Fast food‘ e ‘delivery‘ (‘quentinha’), já que as embalagens e caixas normalmente são recobertas com PFC (nt..: substância chamada ‘perfluorcarbono’)
Pipocas de micro-ondas. O PFOA/perfluorooctanoic acid (nt.: ácido perfluooctanóicoperfluorinated chemicals/PFOAs) poderia não só estar presente no revestimento interior da embalagem como também poderia infiltrar-se da embalagem para o óleo durante o aquecimento. Em seu lugar, preparar a pipoca “na forma antiga”, na panela ou pipoqueira.
Utensílios de cozinha antiaderentes e outros utensílios de cozinha deste material. As opções mais saudáveis são a cerâmica e de ferro fundido esmaltado.Ambas são duráveis, fáceis de limpar (inclusive alimentos cozidos mais pegajosos podem ser eliminados depois de ficarem de molho em água quente) e são completamente inertes, o que significa que não liberarão produtos químicos nocivos.

 

Mesmo que algumas pessoas recomendem usar alumínio, aço inoxidável e utensílios de cobre, não faço, pelas seguintes razões:

Suspeita-se que o alumínio é um grande fator relacionado com a doença de Alzheimer e o aço inoxidável tem uma liga que contém níquel, cromo, molibdênio e carbono. Para aquelas pessoas com alergia ao níquel, isso poderia ser consideração bastante importante.

Tampouco se recomenda os utensílios de cobre porque a maioria das caçarolas deste material vem revestidas com outros metais, por isso geram as mesmas preocupações assinaladas acima. (Os utensílios de cobre devem ser recobertos em razão da possibilidade de envenenamento por ele).

Fio Dental Oral-B e outros produtos de higiene pessoal que contenham PTFE, “flúor” ou “ingredientes perfluorados”. A ONG EWG tem uma base de dados excelente chamada Skin Deep que se poderá acessar para se encontrar opções mais saudáveis.

Fontes e Referências

 

Tradução livre de Luiz Jacques Saldanha, abril de 2016.