Os ricos reclamam porque não gostamos deles.

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O êxito da ação do movimento popular do Ocupa Wall Street repercutiu no mundo todo, razão pela qual os ricos estão contra-atacando. F. Scott Fitzferald disse a famosa frase “os ricos são diferentes de você e de mim”, pronunciada na época em que, nos primeiros anos do século XX, os ricos estavam sujeitos ao escrutínio público e, de modo geral, eram alvo de inveja, não de ressentimento.

 

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por Roberto Sávio*

 

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Roberto Savio. Foto: Arquivo/ Carta Maior

O êxito da ação do movimento popular do Ocupa Wall Street repercutiu no mundo todo, razão pela qual os ricos estão contra-atacando.

F. Scott Fitzferald disse a famosa frase “os ricos são diferentes de você e de mim”, pronunciada na época em que, nos primeiros anos do século XX, os ricos estavam sujeitos ao escrutínio público e, de modo geral, eram alvo de inveja, não de ressentimento.

Avancemos rapidamente até o século XXI, ao movimento Occupy Wall Street que, para denunciar a crescente desigualdade social foi às ruas em setembro de 2011 no distrito financeiro de Wall Street de Nova York em nome dos 99% de norte-americanos que possuem 60% da riqueza nacional enquanto 1% possui os 40% restantes. O êxito da ação do movimento popular repercutiu no mundo todo, razão pela qual os ricos estão contra-atacando. Seu líder é Tom Perkins, de 82 anos de idade, com um patrimônio de oito bilhões de dólares. Ele é dono de um ático de 1.600 metros quadrados em São Francisco e acaba de comprar um iate de 110 milhões de dólares. Em uma carta ao Wall Street Journal em janeiro deste ano, Perkins comparou a “guerra progressiva contra o um por cento americano” dos norte-americanos mais ricos ao Holocausto. Equiparou a “demonização dos ricos” feita pelo movimento de ocupação de Wall Street com o antissemitismo da Alemanha nazista.

Um mês mais tarde, Perkins declarou publicamente que, nas eleições, o número de votos que uma pessoa pode emitir deve ser proporcional à quantidade de impostos que essa pessoa paga. E assim está convocando seus companheiros a “saírem do armário”.

Bud Konheim, CEO da companhia de moda de luxo Nicole Miller, fez exatamente isso com sua mensagem aos 99%: parem de reclamar. “Nosso 99% são o 1% no resto do mundo… A pessoa está ganhando, ó meu Deus, 35 mil dólares por ano. E por que não falamos disso na Índia ou em alguns países que sequer podemos nomear? China, em qualquer lugar onde a pessoa seja rica”.

Juan Marcos, ex-diretor executivo da Mortan Stanley, que foi resgatado com fundos públicos, está defendendo os salários extravagantes dos executivos da corporação. Acaba de fazer uma declaração a James Dimon, o CEO da JP Morgan Chase, que recebeu 20 milhões de dólares no momento em que seu banco tinha perdido vários milhões de dólares em investimentos equivocados em fundos soberanos e uma multa de 12 bilhões por práticas fraudulentas.

Segundo fontes financeiras, Wall Street gastou 600 milhões de dólares em grupos de pressão para tentar impedir a ação do regulador na aplicação das normas aprovada pelo Congresso dos para um estrito controle, com a esperança de evitar uma crise financeira como a de 2008 que, junto da crise europeia dos fundos soberanos, mandou gerações jovens de todas as partes para o desemprego.

Para aqueles que pensam que, na verdade, o voto de um multimilionário é igual ao de um desempregado, o contra-ataque do 1% é legítimo. O único problema é que, de seu diferente peso na política, me pergunto se essas mesmas pessoas ingênuas acreditam que ricos e pobres pagam impostos nas mesmas proporções.

Segundo a Tax Justice Network (TJN) – organização que faz campanha para frear a evasão fiscal—nos paraísos fiscais estão 8% do PIB mundial (os Estados Unidos têm um PIB próximo da metade disso). E a TJN destaca como o grande capital estimula a corrupção.

E o que é a corrupção? Segundo o dicionário Oxford, a corrupção é “a falta de honra ou a conduta fraudulenta por parte daqueles que têm poder”. As instituições financeiras e o 1% são, sem dúvidas, o poder. De acordo com a TNJ, o montante obtido durante os últimos 15 anos alcança a assustadora cifra de 30 bilhões de dólares, os seja, a metade do Produto Interno Bruto mundial.

Na China, dos 4 bilhões de dólares que se acredita terem desaparecido entre 2000 e 2011, grande parte deles foram canalizados a paraísos fiscais. Na Rússia, a cifra está em torno de 1 bilhão de dólares, e na União Europeia, 1,2 bilhão.

Em todo o mundo, os bancos têm sido multados por fraude e corrupção em níveis sem precedentes. Ler o documento do Senado dos EUA (2009) sobre o nível de corrupção no UBS, o maior banco da Suíça é como adentrar no universo de uma narrativa criminal. O informativo, de 176 páginas, detalha em que grau o UBS ajudou os clientes norte-americanos a esconder milhares de milhões em ativos. O UBS pagou uma multa de 780 milhões de dólares e mais poderá vir.

Em um chamado para criar uma força policial de combate mundial à corrupção publicado feito no New York Times, Alexander Levedev denunciou o desvio de 5 bilhões de dólares do Banco de Moscou, 4 bilhões do BTA Bank e do Banco AMT, 4 milhões de Rosukrenergo, 3 bilhões do Globex e Sviaz Bank, 2 bilhões do Banco Agrícola Russo, 1 bilhão do VEFK Bank.

Segundo Levedev, um ex-alto funcionário da KGB e agora empresário, dono do London Evening Standard e do Independent, “se alguém rouba um bilhão de dólares e vai para um paraíso fiscal, é praticamente impossível empreender ações legais”. Como todos os oligarcas russos, certamente tem um grande conhecimento do interior!

De todos os modos, não é necessário que o 1% se preocupe. Apesar de suas reclamações, estão trabalhando melhor do que nunca.

Acabo de ler informe sobre a riqueza deste ano, o compêndio anual de todas as posses ricas de Knight Frank, a empresa de administração de propriedades. Durante a última década, os super-ricos aumentaram 59% e os multimilionários 80%, que agora chegam a 1682. Os que têm ativos de mais de 30 milhões de dólares são cerca de 167 mil, o que equivale a uma população de uma cidade de tamanho considerável. Em uma recente pesquisa, constatou-se que 75% do famoso 1% os extremamente super-ricos aumentaram sua riqueza no último ano.

Por volta de 2030, se espera que a China tenha 322 multimilionários, mais do que a Grã-Bretanha, a Suíça, a França juntas: por fim, a prova de que o socialismo, ainda que seja em sua versão chinesa, é superior ao .

Que os países soberanos tomem nota. Malta propõe oferecer seu passaporte aos que paguem 650 mil euros (900 mil dólares), sem requisito de residência. Malta faz parte da União Europeia, razão pela qual com seu passaporte é possível ir a toda parte. Espanha e Portugal estão oferecendo residência, inclusive com tempo limitado, se fizer investimentos significativos. Letônia e Estônia estão os seguindo. Em 2012, os Estados Unidos deram 7.641 vistos de investidores e imigrantes e 80% destes foram a investidores chineses.

Portanto, os ricos de verdade são diferentes de vocês e de mim e eles estão crescendo tanto, que seria uma lástima não nos unirmos a eles. O mercado é agora a base da . Qualquer um pode fazê-la.

Se continuarmos fazendo parte dos 99%, será por pura falta de vontade!

* Roberto Savio é fundador e presidente emérito da agência de notícias Inter Press Service (IPS) e editor de Other News./ Tradução: Daniella Cambaúva.

** Publicado originalmente no site Carta Maior.

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