Os últimos 30 anos de pesquisa de microbiomas exigem uma mudança radical em nosso modelo de saúde humana.
Durante séculos, a medicina ocidental travou uma guerra contra os micróbios. Ironicamente, esta guerra não está nos salvando. Isso está nos matando. Por que? Não somos contra a natureza. Somos o resultado da natureza. Nossa própria sobrevivência agora exige que aceitemos essa realidade – rápido. E há outra coisa que precisamos entender. A natureza é inteligente. A ciência descobriu que essa inteligência satura e conecta toda a vida por meio de um sistema natural que chamamos de microbioma. O microbioma expressa uma capacidade extraordinária de diversificação genética por meio dos mecanismos de transferência horizontal de genes, exossomos e vírus.
Durante o colapso mais extremo da história da saúde humana, fizemos uma descoberta surpreendente: as células humanas não estão no centro da saúde humana. Em vez disso, o microbioma, funcionando como o solo vitalizador em nosso intestino e órgãos internos, está no centro. O microbioma orienta a saúde humana. Esta nova ciência de bactérias, fungos, parasitas e vírus necessita de uma reestruturação de nossos modelos biológicos atuais – genômica, proteômica, inflamação, carcinogênese, imunidade e doenças infecciosas.
Nas últimas três décadas, a humanidade experimentou um aumento catastrófico de doenças crônicas na infância, infertilidade e colapso metabólico em adultos jovens. Além disso, agora estamos testemunhando o aumento de doenças neurodegenerativas epidêmicas e de câncer em adultos. A trajetória dessas curvas de doenças prediz o colapso da população humana e a probabilidade de nossa própria extinção dentro de um século. Pior ainda, a pesquisa do microbioma em nossos sistemas planetários de solo, água e ar mostra que o colapso da saúde e da sobrevivência humana é sintomático de um colapso fundamental da saúde e biologia planetárias.
Mas há esperança. Podemos corrigir nosso curso. Podemos acabar com nossas táticas de guerra biológica. E podemos abraçar a realidade da vida dentro e ao nosso redor. Se fizermos essas coisas imediatamente, a humanidade terá uma chance.
O microbioma e a notável via de comunicação do viroma devem ser entendidos como nossa salvação e não como nossos inimigos. Se mudarmos de direção rapidamente, podemos nos tornar parceiros co-criativos com a natureza e evitar nossa própria extinção. Se fizermos isso, teremos a oportunidade de produzir a mais rica biodiversidade e vitalidade que nosso planeta já viu.
Tradução livre, parcial, de Luiz Jacques Saldanha, fevereiro de 2021.