O Fórum Econômico Mundial, um museu como Versailles?

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O autodenominado Fórum Econômico Mundial (FEM) se reunirá novamente em Davos, na Suíça, entre os dias 25 e 29 deste mês. Espera-se que uma nova série de conselhos gratuitos emane desse encontro. Contudo, seus participantes foram completamente incapazes de compreender as manifestações da crise econômica mundial quando se reuniram em setembro de 2008. Assim, é lógico perguntar do que falarão agora.

 

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24/01/2012

 

por Johan Galtung*

logo forum social mundial2 300x217 O Fórum Econômico Mundial, um museu como Versailles?

Alfaz del Pi, Espanha, janeiro/2012 – Lee Howell, diretor-gerente do FEM, nos deu uma amostra no Fracasso da governança em um mundo hiperinterligado (International Herald Tribune, IHT, 11/1/2012). A dúvida geral que apresenta é: “quais riscos deveriam ser abordados pelos líderes mundiais durante os próximos dez anos?”. Deveríamos esperar, naturalmente, o sofrimento e a humilhação maciças nos setores de baixa renda da sociedade mundial: “quase a metade dos indianos com menos de cinco anos estão desnutridos” (IHT, 12/1/12). Que vergonha! Deveríamos esperar, naturalmente, que a mundial se apoderasse de parte da economia financeira, com recorrentes e cada vez piores crises, causadoras e causadas por uma flagrante desigualdade, mais e calamidades ambientais em geral devido à atividade econômica.

O informe Riscos Globais 2012 (a cargo de Howell) apresenta três casos de riscos com um tema comum, o “fracasso da governança em um mundo hiperinterligado”, a saber, 1) há “sementes de distopia”, a preocupação de que a não esteja cumprindo suas promessas; 2) surge a dúvida de “quanto são seguras nossas salvaguardas”, de que a governança esteja ficando atrás de uma acelerada complexidade; 3) o “lado escuro” da conectividade por meio da internet, “o potencial do terrorismo, do crime e da guerra” no mundo virtual.

Em que mundo vivem os autores desse tipo de informe? No mundo do 1% com maior riqueza! Naturalmente que poderia haver uma bela globalização com os dois gêneros, as três gerações (idosos, pessoas de idade média e jovens), as quatro classes (econômica, militar, cultural e política), as cinco raças (branca, amarela, parda, negra e vermelha), caminhando juntos para uma vida digna para todos, com meios de subsistência sustentáveis para a vida humana e a natureza em geral.

Porém, sabemos que “globalização” é de, por e para os homens, os de idade média, a classe economicamente alta e os brancos. E dificilmente poderíamos esperar que se preocupassem com algo além de seus próprios interesses.

Mas há uma salvaguarda. Agora, o quanto é segura é outra questão. A salvaguarda são as pessoas; a governança é chamada de, por e para os 99% de baixo, a Primavera Árabe, os indignados, os Ocupe Wall Street e movimentos semelhantes. Naturalmente, eles foram vigiados pelo 1% de cima por meio da CIA, do FBI e seus clones ao redor do mundo. Mas é destacável que não tenha havido um só contato com o Movimento Ocupe Wall Street por parte de algum alto dirigente político norte-americano. Nem pelos autores do informe Riscos Globais 2012 que aborda as ameaças no mundo virtual.

O terrorismo é um problema. Entretanto, onde está o terrorismo de Estado nesta fórmula? Os Estados ainda consideram que a guerra é uma opção que constitui seu direito, talvez guiados por uma pervertida .

Hoje em dia, as nuvens sobre o mundo real são mais escuras do que nunca.

Portanto, como fará o 1% de cima para controlar os Estados Unidos, o país que atacou outras nações e povos mais do que nenhum outro, principalmente em defesa do hipercapitalismo? Washington ainda tem o monopólio da moeda mundial de reserva exercido por um clube de bancos privados, entre eles o pior culpado pelo golpe da economia financeira, o Federal Reserve. Com eles farão para manejar a posição dos Estados Unidos nas agências qualificadoras? E a crescente desigualdade, sentados confortavelmente lá em cima?

Resposta: o farão do mesmo modo que a aristocracia feudal da França no Século 18: não a manejando. Talvez, venham a lamentar a falta de propostas concretas desde baixo, incluindo o Fórum Social Mundial. E não será que a complexidade demande soluções complexas e pluralistas, com o devido respeito à imensa diversidade do mundo, não uma manipulação de slogans pegajosos? Pode ser que o mundo também seja a soma de uma miríade de mundos diversos, locais, autônomos? Pode ser inclusive que Davos se converta em um deles e não em um museu, como Versailles? Envolverde/IPS

* Johan Galtung é reitor da Transcend Peace University e autor de The Fall of the US Empire-And Then Wath?

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