https://www.ehn.org/dupont-teflon-cover-up-PFAS-2614570951/public-pressure-exposes-poisoned-water
Kristin Lazure e Stephanie Soechtig
Filme de 2018, expõe um escândalo corporativo de décadas em torno de um químico perfluorado, também conhecido como ‘forever chemical‘ -químico para sempre-, de onde se origina o ‘teflon‘, ‘scotchgard‘, ‘goretex‘, dentre outros produtos de consumo cotidiano – e o poder de algumas pessoas determinadas a mudar o mundo.
Ao fazer nosso filme mais recente, O Diabo que Conhecemos , pensamos ter entendido o papel difuso e insidioso que os produtos químicos tóxicos desempenham em nossas vidas coletivas.
Afinal, essa jornada profissional e pessoal havia começado para nós, quase uma década antes, com o primeiro documentário de longa-metragem de Stephanie, Tapped , sobre a indústria de água engarrafada. Naquela época, os riscos à saúde do bisfenol-A – um produto químico amplamente usado em plásticos, papel de recibo e revestimentos de alimentos enlatados – estavam começando a aparecer, e o impulso estava crescendo para que os fabricantes, especialmente os de mamadeiras e copos com canudinho, parassem de empregar esse produto químico.
Como consumidores, era irritante saber que não era apenas o BPA: mas, há dezenas de milhares de produtos químicos industriais aprovados para uso nos Estados Unidos, com pouco ou nenhum teste independente para verificar seus efeitos na saúde humana ou no meio ambiente. Em outras palavras, os americanos não podem absolutamente presumir que os produtos comercializados e vendidos a eles, sejam seguros.
Mas foi só em The Devil We Know que percebemos as profundezas perturbadoras a que a indústria química se rebaixará para proteger seus resultados financeiros e até que ponto os cidadãos devem ir em busca de justiça ambiental.
Pressão pública expõe água envenenada
O filme traça o perfil da comunidade ao redor de Parkersburg, West Virginia, onde fica a fábrica da DuPont, em Washington Works, onde um dos produtos mais lucrativos da empresa – o Teflon – é fabricado há décadas. Parkersburg, situada no Chemical Valley (nt.: Vale Químico) do sul rural, é uma cidade da classe trabalhadora que depende muito dos empregos da DuPont e da benevolência dos bolsos fundos da empresa.
Quando um punhado de residentes de Parkersburg, liderados por um fazendeiro e um professor de ginástica, enfrentaram a DuPont, foram difamados pelos vizinhos (nt.: nunca podemos esquecer, no Brasil, as realidades de Mariana e Brumadinho em Minas Gerais, nas contra-posições às corporações Vale e Samarco e todas as que formam seus tentáculos, e mesmo às administrações públicas nos três níveis de poder). Mas foi a persistência deles, e a de um advogado de Cincinnati chamado Rob Bilott, que trouxe à luz os fatos duros e frios.
Por décadas, a comunidade não desconfiou de que o PFOA, um composto químico sintético –perfluorado– usado como auxiliar de processamento na fabricação de Teflon, estava chegando ao abastecimento de água potável de dezenas de milhares de residentes que viviam perto da fábrica. Um dos produtos químicos da temida classe PFAS, a exposição ao PFOA (mesmo em níveis muito baixos) tem sido associada a certas doenças, incluindo câncer testicular e renal.
Não muito tempo atrás, os CDCs (nt.: Centros de Controle de Doenças dos EUA) disseram que a substância química agora é tão prevalente que pode ser encontrada no sangue de 99,7% dos americanos. E os bebês nascem já pré-poluídos.
Este é o mesmo produto químico no cerne de um estudo federal de saúde que a administração Trump tentou enterrar com a preocupação de que causaria um “pesadelo de relações públicas”.
Mas a camuflagem que envolve esse produto químico começou há muitos e muitos anos antes.
O encobrimento corporativo
Documentos internos que surgiram durante o litígio de Parkersburg mostram que a empresa, décadas atrás, estava enviando trabalhadores para coletarem amostras de água de empresas locais e de suas próprias casas para determinar até onde a contaminação havia se espalhado.
Em 1984, a DuPont realizou uma reunião em sua sede corporativa em Delaware. As atas dessa reunião confirmam que os executivos estavam bem cientes -mas não divulgaram à comunidade- que o PFOA estava na água potável. Além disso, o documento também deixa claro que as emissões de PFOA no ar e no rio Ohio estavam aumentando, mas a empresa não tinha planos de fazer nada a respeito.
Esta é apenas a ponta do iceberg.
Sabemos por um ex-engenheiro químico da DuPont entrevistado para o filme, que esteve na empresa por mais de 20 anos, que existia a tecnologia para fazer Teflon sem PFOA, mas renovar a infraestrutura necessária para acomodar um produto químico novo e mais seguro também teria sido caro para justificar a mudança.
A história que contamos em O diabo que conhecemos tem todos os ingredientes de um thriller de Hollywood: um encobrimento que se estende por décadas, um David e Golias por excelência colocando executivos traiçoeiros e insensíveis contra pessoas normais, uma batalha legal prolongada e amarga e a apatia do governo que faz fronteira com a conspiração.
É uma narrativa angustiante e ultrajante, mas também é incrivelmente inspiradora porque mostra, contra todas as probabilidades, o poder de algumas pessoas determinadas para mudarem esse mundo que nos imposto.
THE DEVIL WE KNOW agora está disponível no iTunes , Amazon e Google Play . Visite o site do filme para se inscrever no Desafio de Desintoxicação Química e obter dicas sobre como reduzir sua exposição a produtos químicos tóxicos ou para fazer uma exibição do filme.
Tradução livre, parcial, de Luiz Jacques Saldanha, fevereiro de 2021.