Resumo da história.
- Nosso microbioma é muito mais do que uma impressão digital—é algo exclusivo de cada um. Alguns pesquisadores têm mesmo sugerido que poderíamos pertencer a um dos poucos “tipos de microflora”, de maneira similar aos tipos sanguíneos;
- A atividade de nosso microbioma intestinal influencia em nossas respostas imunológicas, no funcionamento do sistema nervoso e desempenha um papel no desenvolvimento de alguns tipos de doenças, incluindo a obesidade, câncer e esclerose múltipla;
- As preferências nutricionais de nossas bactérias intestinais podem influenciar nossos desejos alimentares pela liberação de sinais químicos através do nervo vago que conecta nosso intestino ao nosso cérebro;
- Adicionando a análise microbioma a outros conhecidos fatores de risco para câncer colorretal, resultou numa melhora de cinco vezes na habilidade de predizer o câncer;
- A melhor maneira de otimizar nossa flora intestinal é através de nossa dieta. Uma dieta saudável aos intestinos é livre de açúcares processados e rica em alimentos integrais, não processados e não açucarados juntamente com alimentos culturais e fermentados.
http://articles.mercola.com/sites/articles/archive/2014/08/28/microbiome-gut-health.aspx
By Dr. Mercola
A verdade de um velho adágio de que “somos aquilo que comemos” tornou-se incrivelmente claro, quanto mais aprendemos sobre o microbioma—colônias de microrganismos que vivem em nossos intestinos e, na verdade, sobre todo o nosso corpo.
Já está bem estabelecido de que nosso intestino é um segundo cérebro que fornece mais entradas ao nosso cérebro do que próprio cérebro para si mesmo. Isso é porque a saúde dos intestinos se reflete enormemente sobre a flora intestinal, incluindo nossa saúde mental e bem estar emocional (mental health and emotional well-being).
Nosso microbioma é essencialmente uma composição acumulativa histórica de onde estivemos, quem são os nossos pais, com quem mantemos nossa intimidade, o que comemos, como vivemos e se interagimos ou não com a terra (jardinagem, por exemplo) e muito mais.
Como observado por Pat Schloss (uma microbiologista do The Human Microbiome Project) no vídeo acima, nosso microbioma é mais do uma impressão digital—é algo exclusivo de cada um de nós. O pesquisador Jeroen Raes sugeriu também que nós pertencemos a um dos poucos “tipos de microflora (microflora types)”, de forma similar aos tipos sanguíneos.
A atividade do microbioma intestinal influencia em nossas respostas imunológicas, no funcionamento do sistema nervoso e também desempenha um papel no desenvolvimento de uma série de doenças, incluindo a obesidade, o câncer e a esclerose múltipla, só para nominar um pouco daquilo que eu quero dirigir neste artigo.
Como as Bactérias Intestinais Podem Induzir o Desejo Alimentar.
As bactérias em nosso corpo excedem em muito nossas células numa relação de 100 para 1, sendo que diferentes bactérias têm diferentes necessidades nutricionais.
De acordo com pesquisa recente,1, 2 as preferências nutricionais de nossas bactérias intestinais podem influenciar nossos anseios alimentares pelos sinais químicos levados através do nervo vago que conecta nossos intestinos ao nosso cérebro. De acordo com um dos co-autores do estudo, Carlo Maley, PhD:3
“As bactérias dentro do intestino são manipulativas… Existe uma diversidade de interesses representados no microbioma, alguns alinhados com nossos objetivos dietéticos próprios e outros não…
Nossas dietas têm um imenso impacto nas populações microbianas dos intestinos. Eles são um ecossistema total e estão em evolução na escala de tempo de minutos”.
Isso já está bem documentado de que os indivíduos obesos têm diferentes bactérias (different bacteria) dominando seus microbioma quando comparados com os individuais magros.
A pesquisa 4 também sugere que mais do que 20% da perda substancial de peso adquirida do ‘bypass’ gástrico, a popular cirurgia de perda de peso, é devida a alterações no equilíbrio das bactérias no nosso trato digestivo. Com relação à pesquisa em tela, o Forbes 5 reporta:
“‘Microrganismos têm a capacidade de manipular comportamento e humor através da alteração dos sinais neurais no nervo vago, mudanças nos receptores gustativos, produzindo toxinas para fazer-nos sentir mal e liberar recompensas químicas para nos fazer sentir bem’, disse a co-autora do estudo Athena Aktipis, PhD.
As boas novas, dizem-nos os pesquisadores, são que nós podemos influenciar mudanças em nossos habitantes intestinais através de escolhas dietéticas.
‘Em função de ser a microbiota facilmente manipulável pelos pré-bióticos, pró-bióticos, antibióticos…e mudanças dietéticas, alteranm nossa microbiota oferecendo uma abordagem maleável para problemas de outra forma intratáveis para a obesidade e maus hábitos alimentares.’”
A Dieta Pode Alterar Rapidamente as Bactérias Intestinais.
De fato, outro estudo recente 6, 7 destaca a velocidade com que podemos alterar o equilíbrio de nossas bactérias dos intestinos. Aqui, os pesquisadores do Massachusetts Institute of Technology (MIT) monitoraram duas pessoas durante o curso de um ano; coletando diariamente amostras de fezes e correlacionando as bactérias dos intestinos, dia a dia, com dietas e outros fatores de estilo de vida como sono, humor e exercícios.
Um dos participantes desenvolveu diarreia durante uma viagem de duas semanas a outro país que resultou em mudanças significativas no equilíbrio das bactérias intestinais.
Um caso de envenenamento pela bactéria Salmonella estucou outro participante que resultou em uma drástica mudança nas bactérias intestinais. A bactéria Salmonella cresceu de 10% a quase 30 enquanto as benéficas foram quase dizimadas.
Uma vez recuperado, as bactérias benéficas rapidamente recobraram-se para mais ou menos 40% do total do microbioma, mas a maioria das cepas foram diferentes das originais. De acordo com o experiente autor Eric Alm:8
“Em qualquer dia dado, a quantidade de uma espécie pode mudar variadas vezes, mas depois de um ano, as espécies podem ainda estar no mesmo nível médio. Em larga escala, o fator principal que nós detectamos que explicou uma série destas variações, foi a dieta”.
As mudanças mais proeminentes estão correlacionadas com a ingestão individual de fibra. As maiores quantidades de fibra afetaram em torno de 15% da flora intestinal, resultando em maior proliferação delas.
A Flora Intestinal Pode Revelar o Câncer de Cólon e Desempenhar Papel na Esclerose Múltipla.
Nosso microbioma pode mesmo revelar nosso risco quanto a presença de câncer de cólon. Um total de 90 pessoas participaram deste estudo; 9, 10 trinta era saudáveis; 30 apresentavam pólipos intestinais pré-cancerosos; e 30 foram diagnosticados com câncer de cólon avançado ou câncer retal. Depois de avaliar a composição do microbioma de cada pessoa, tornou-se visível que a análise do microbioma (usando o teste fecal) poderia ser meio viável para triagem para os pólipos pré-cancerosos e o câncer colo-retal.
De acordo com estas descobertas, adicionar a análise do microbioma a outros riscos conhecidos como pólipos pré-cancerosos resultou em 4,5 vezes na melhora na previsão para esta condição. Agregar uma análise do microbioma ao fator de risco para o câncer invasivo colo-retal resultou em cinco vezes na melhora nesta habilidade para prever o câncer.
Em notícias relacionadas, os pesquisadores têm também conectado certos microrganismos para o desenvolvimento da esclerose múltipla e/ou melhora da condição. O trabalho, publicado no periódico Journal of Interferon and Cytokine Research,11descreve três fatores imunológicos associados com o microbioma intestinal que se relaciona a respostas inflamatória em pacientes de esclerose múltipla:
- Polarização da célula linfócito (nt.: células do sistema de proteção) T auxiliar (nt.: em inglês-T helper cell);
- Função da célula linfócito T reguladora (nt.: em inglês-T regulatory cell);
- A atividade da célula B.
Pesquisa sugeriu que alterando o microbioma intestinal pela adição de bactérias como Lactobacillus e/ou organismos tipo verme como Schistosoma e Trichura poderia ser útil na redução dos sintomas da esclerose múltipla. Aparentemente, estes microrganismos têm efeito benéfico na produção de citocinas através do corpo, reduzindo assim a inflamação sistêmica. As citocinas são mensageiros celulares que regulam as respostas inflamatórias. De acordo com os autores: “Se abordagens terapêuticas futuras para esclerose múltipla irão empregar produtos baseados em comensais depende das nuances da compreensão destes mecanismos subjacentes”.
Quando se Trata de Inflamação, Nosso Microbioma Governa.
A esclerose múltipla não é só uma doença causada pela inflamação crônica em nosso organismo. De fato, a maioria das doenças crônicas tem a inflamação como um fator subjacente. É importante para percebermos que nossos intestinos são o ponto inicial da inflamação (inflammation)—na verdade eles são os guardiões para nossas respostas inflamatórias. Como sugerido acima, vários microrganismos intestinais podem tanto provocar como dominar a produção de citocinas inflamatórias. A maioria dos sinais entre nossos intestinos e nosso cérebro viajam ao longo do nosso nervo vago—em torno de 90% deles.12 (Vagus significa em latim “errante”, apropriadamente nomeado já que este longo nervo viaja de nosso crânio descendo, através de nosso peito e abdômen, ramificando-se em múltiplos órgãoes.13)
Os mensageiros de citocinas produzem em nosso intestino um cruzeiro acima em direção ao nosso cérebro ao longo da “auto-estrada do nervo vago”. Uma vez no cérebro, as citocinas informem nossa microglia (as células do sistema imunológico em nosso cérebro) para executar determinadas funções, tais como neurotransmissores produtores. Além de influenciar nossa fome e vontade de comer certos alimentos, como discutido anteriormente, essas mensagens químicas também podem afetar nossas mitocôndrias, afetando a produção de energia e apoptose (morte celular). Eles também podem afetar o sistema de realimentação muito sensível que controla os hormônios do estresse, como o cortisol, para melhor ou para pior.
Assim, uma resposta inflamatória pode começar em nosso intestino, viajando ao nosso cérebro que então construir, ao enviar sinais para o resto de nosso organismo, um ciclo complexo de realimentação. É importante que entendamos tudo aqui sobre a fisiologia, mas o que se ganha é de que nossa flora intestinal afeta significativamente, controlando a saúde de todo o nosso corpo.
Nossa Flora Intestinal Perpetuamente Sob Ataque.
Nosso microbioma—e portanto nossa saúde física e mental—é continuamente afetado pelo nosso ambiente, pela dieta e pelas escolhas de nosso estilo de vida. Se nossa flora intestinal foi danificada e colocada fora de equilíbrio (disbiose), toda a sorte de enfermidades pode resultar, tanto aguda como cronicamente. Infelizmente, este nosso frágil ecossistema interno está, nos dias de hoje, sob permanente agressões. Alguns dos fatores que colocam o mais grave perigo ao nosso microbioma, estão alinhados na tabela seguinte.
Açúcar refinado (sugar), especialmente o xarope processado de milho com alta frutose (high fructose corn syrup/HFCS) Alimentos geneticamente modificados (Genetically engineered (GE) foods) (extremamente abundante em alimentos processados e bebidas em geral) Agrotóxicos, tais como herbicidas e inseticidas (herbicides and pesticides). O glifosato (Glyphosate) aparece entre os piores Carnes de criatórios convencionais e outros produtos animais; os animais criados em confinamentos (CAFO) são rotineiramente alimentados com baixas doses de antibióticos e alimentos transgênicos Glúten Antibióticos (Antibiotics) (usar só se absolutamente necessário e ter certeza de ressemear nossos intestinos com alimentos fermentados e/ou bons suplementos probióticos) Os medicamentos anti-inflamatórios não hormonais (NSAIDS-Nonsteroidal anti-inflammatory drugs) danifica as membranas celulares e geram desfunção na produção de energia pela mitocôndia Inibidores da bomba de próton (Proton pump inhibitors) (medicamentos que bloqueiam a produção de ácido no nosso estômago, descrito normalmente para a doença do refluxo gastroesofágico -em inglês GERD-como Prilosec, Prevacid e Nexium) Sabão antibacteriano Água clorada e/ou fluorada Estresse (Stress) Poluição
Nossa Dieta É a Maneira Mais Efetiva de Alterar Nosso Microbioma.
A melhor maneira de otimizar nossa flora intestinal é através de nossa dieta. O melhor lugar para começar é pela redução dramática de ingerir grãos e açúcar além de evitar os ingredientes geneticamente modificados, alimentos processados (processed foods), pasteurizados e água encanada clorada. Alimentos pasteurizados podem danificar nossa flora benéfica e o açúcar promover o crescimento de leveduras e outros fungos. Os grãos contêm glúten e são particularmente danosos para nossa flora e para a saúde em geral.14, 15 Uma dieta saudável para os intestinos deve ser rica em alimentos integrais, não processados e sem açúcar, juntamente com alimentos tradicionalmente fermentados ou de culturas tradicionais. Cloro na nossa água encanada não só mata as bactérias patogênicas, mas também as bactérias benéficas em nossos intestinos.
Alimentos fermentados (Fermented foods) também são componente chave do protocolo chamado GAPS (nt.: para saber o que é este protocolo – Gut and Psychology Sydrome – ver o link-https://nossofuturoroubado.com.br/entrevista-especial-com-a-dra-natasha-campbell-mcbride-feita-pelo-dr-joseph-mercola/), uma dieta desenhada para curar e proteger nossos intestinos. Nosso objetivo deveria ser consumir 1/4 a uma metade de uma xícara de vegetais fermentados (fermented veggies) com cada comida, mas precisamos trabalhar para isso. Talvez podemos considerar o início com uma colher de chá ou duas a poucas vezes durante o dia e aumentar assim que for tolerando, caso tenha alguma dificuldade de ingestão. Se esta porção for demais (pode ser que nosso organismo esteja severamente comprometido), podemos mesmo começar por ingerir uma colher de chá de salmoura destes vegetais fermentados por ser rico nos mesmos microrganismos benéficos.
Devemos também considerar a suplementação com probióticos de alta potencialidade, mas perceber que nada substitui o alimento real. Um artigo prévio no periódico Journal of Physiological Anthropology16 mostra o caso de que fermentação propriamente controlada amplifica o nutriente específico e o conteúdo fitoquímico dos alimentos, melhorando assim a saúde do cérebro, tanto física como mentalmente. De acordo com os autores:
“O consumo de alimentos fermentados pode ser particularmente relevante para a pesquisa emergente conectando práticas tradicionais dietéticas e saúde mental positiva. A medida para a qual os itens dietéticos tradicionais podem mitigar inflamação e o estresse oxidativo podem ser controlados, pelo menos em algum grau, pela microbiota”.
Eles vão dizer que os micróbios associados com alimentos fermentados (por exemplo, as espécies Lactobacillus e Bifidobacteria) também podem influenciar a saúde do cérebro por vias diretas e indiretas, o que abre o caminho para novas investigações científicas na área de “psiquiatria nutricional”.
Nosso Organismo É um Conglomerado de Colônias Bacterianas.
Nós não estamos só cercados por bactérias em nosso ambiente; de uma forma muito real, nós somos elas. Nosso corpo é na verdade um ecossistema complexo formado por mais de 100 trilhões de microrganismos que devem ser devidamente equilibrados e cuidados se quisermos ser saudáveis. Pamela Weintraub descreve habilmente a relação simbiótica entre humanos e microrganismos em seu artigo de junho de 2013, no periódico Experience Life magazine.17 Este sistema de bactérias, fungos, vírus e protozoários estão em nossa pele e boca, nariz, garganta, pulmões, intestinos e no trato urogenital, é exclusivamente nosso.
Isso varia de pessoa para pessoa em razão de fatores como dieta, estilo de vida, histórico de saúde, localização geográfica e até mesmo ancestrais. O microbioma é um dos ecossistemas mais complexos do planeta já que para cada bactéria que temos, existem 10 bacteriófagos ou vírus. Assim, não só temos 100 trilhões de bactérias, mas um quatrilhão de bacteriófagos.
Todos esses organismos realizam uma multiplicidade de funções em sistemas biológicos fundamentais, desde o fornecimento de vitaminas essenciais para a luta contra patógenos, modulando peso, metabolismo e muito mais. E quando nosso microbioma ficar fora do equilíbrio, podemos ficar doentes. O microbioma também ajuda a controlar como os genes se auto expressam. Então, otimizando nossa flora nativa, na verdade, estaremos controlando nossos genes! Tudo isso é uma grande notícia, porque enquanto nosso microbioma pode controlar nossa saúde, podemos controlar de que as bactérias tenham uma ação mais elevada—tanto na promoção da saúde como da doença—através de nossa dieta e de nosso estilo de vida.
Fontes e Referências
- 1 Bioessays August 8, 2014 [Epub ahead of print]
- 2 New York Times August 14, 2014
- 3 Forbes August 17, 2014
- 4 Science of Translational Medicine 2013 Mar 27;5(178):178ra41
- 5 Forbes August 17, 2014
- 6 Genome Biology 2014, 15:R89
- 7 WebMD July 25, 2014
- 8 WebMD July 25, 2014
- 9 Cancer Prevention Research August 7, 2014 [Epub ahead of print]
- 10 WebMD August 7, 2014
- 11 Journal of Interferon and Cytokine Research August 1, 2014: 34(8)
- 12 American Journal of Physiology December 2002
- 13 WiseGeek Vagus Nerve
- 14 GreenMedInfo “The Dark Side of Wheat”
- 15 Huffington Post November 12, 2013
- 16 J Physiol Anthropol January 15, 2014
- 17 Experience Life June 2013
Tradução livre de Luiz Jacques Saldanha, outubro de 2014.