Mudanças climáticas: Fraca circulação de reviravolta do Atlântico aumenta vulnerabilidade das florestas do norte da Amazônia

Ilustração mostra o padrão da Atlantic Meridional Overturning Circulation (AMOC) — Foto: NOAA

https://www.nature.com/articles/s41561-024-01578-z

TK Akabane; CM Chiessi, Sr. Hirota, I. Bouimetarhan, Sr. Prange, S. Mulitza, DJ Bertassoli Jr, C. Häggi, A. Staal, G. Lohmann, N. Boers, AL Daniau, RS Oliveira, MC Campos, X. Shi e PE De Oliveira  – Nature Geoscience (2024)

01 de novembro de 2024

[NOTA DO WEBSITE: Publicação com imagens e mesmo uma matéria com um documentário para que o leitor possa ter mais bases para concluir o que viemos, há anos, trazendo sobre a importância de cuidarmos, globalmente, também das correntes marítimas. Pelo que a ciência mostra, a colapso parece inevitável já que, planetariamente, não estamos fazendo nada. E as consequências não serão sobre os velhos de hoje que decidem politicamente e continuam mantendo essa visão de mundo antropocêntrica, mas pior ainda, suicida. Serão nossos ‘amados’ filhos e filhas que, no mundo cristão ocidental, dizemos, cinicamente, que os amamos!].

Resumo

A circulação meridional de reviravolta do Atlântico (AMOC/Atlantic Meridional Overturning Circulation) e a floresta amazônica são vistas como elementos de inflexão conectados em um sistema climático de aquecimento. Se o aquecimento global exceder um limite crítico, a AMOC pode desacelerar substancialmente, alterando a circulação atmosférica e levando a Amazônia a se tornar mais seca no norte e mais úmida no sul. No entanto, o impacto de uma desaceleração da AMOC na vegetação amazônica ainda não está bem limitado. Aqui, usamos dados de pólen e microcarvão de um núcleo de sedimento marinho para avaliar mudanças na vegetação amazônica de 25.000 a 12.500 anos atrás. Além disso, modelamos as respostas da vegetação a uma desaceleração da AMOC sob condições glaciais e pré-industriais. Durante uma desaceleração passada da AMOC (Heinrich Stadial 1–18.000 a 14.800 anos atrás), os dados de pólen evidenciam um declínio nos elementos de afinidade ao frio e à umidade, juntamente com um aumento na vegetação tropical sazonal. Este padrão é consistente com o declínio na adequação das florestas úmidas do norte da Amazônia em um modelo com um enfraquecimento imposto de 50% da AMOC sob condições glaciais. Nossos resultados de modelagem sugerem mudanças semelhantes para uma desaceleração comparável da AMOC sob condições pré-industriais. Combinado com distúrbios atuais, como desmatamento e incêndios florestais em outros lugares da bacia, uma desaceleração da AMOC pode exercer um impacto sistêmico na floresta amazônica.

Autores e Afiliações

  1. Instituto de Geociências, Universidade de São Paulo, São Paulo, Brasil – TK Akabane, DJ Bertassoli Jr, MC Campos e PE De Oliveira
  2. Escola de Artes, Ciências e Humanidades, Universidade de São Paulo, São Paulo, Brasil – CM Chiessi
  3. Departamento de Física, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, Brasil – Sr. Hirota
  4. Faculté des Sciences Appliquées, Universidade UIZ-Ibn Zohr de Agadir, Agadir, Marrocos – I. Bouimetarhan
  5. MARUM–Centro de Ciências Ambientais Marinhas, Universidade de Bremen, Bremen, Alemanha – M. Prange e S. Mulitza
  6. Departamento de Ciências da Terra e Planetárias, Instituto Geológico, ETH Zurique, Zurique, Suíça – C. Häggi
  7. Laboratório Intercantonal, Schaffhausen, Suíça – C. Häggi
  8. Instituto Copérnico de Desenvolvimento Sustentável, Universidade de Utrecht, Utrecht, Holanda – A. Staal
  9. AWI–Instituto Alfred Wegener, Centro Helmholtz de Pesquisa Polar e Marinha, Bremerhaven, Alemanha – G. Lohmann
  10. Modelagem do Sistema Terrestre, Escola de Engenharia e Design, Universidade Técnica de Munique, Munique, Alemanha – N. Boers
  11. Instituto Potsdam para Pesquisa de Impacto Climático, Potsdam, Alemanha – N. Boers
  12. Departamento de Matemática e Instituto de Sistemas Globais, Universidade de Exeter, Exeter, Reino Unido – N. Boers
  13. UMR 5805 EPOC, Université de Bordeaux, CNRS, Bordeaux INP, Pessac, França – AL Daniau
  14. Departamento de Biologia Vegetal, Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), Campinas, Brasil – RS Oliveira
  15. Instituto de Geociências, Universidade Estadual de Campinas, Campinas, Brasil – MC Campos
  16. Laboratório de Ciência e Engenharia Marinha do Sul de Guangdong (Zhuhai), Zhuhai, China – X. Shi
  17. Keller Science Action Center, Museu Field de História Natural, Chicago, IL, EUA – PE De Oliveira

Referências

  1. Feldpausch, T. R. et al. Tree height integrated into pantropical forest biomass estimates. Biogeosciences 9, 3381–3403 (2012). Article Google Scholar 
  2. Kern, A. K. et al. A 1.8 million year history of Amazon vegetation. Quat. Sci. Rev. 299, 107867 (2023). Article Google Scholar 

E mais 91 outras referências.

Tradução livre, parcial, de Luiz Jacques Saldanha, novembro de 2024

Material agregado pela tradução

Imagem mostra as correntes do Atlântico Norte, com cores diferentes para indicar águas mais quentes em laranja e águas mais frias em verde e azul. Em cinza, estão representados os continentes. — Foto: NASA GODDARD SPACE FLIGHT CENTER

Impacto global: principal corrente do Atlântico pode entrar em colapso mais cedo

https://olhardigital.com.br/2024/10/22/ciencia-e-espaco/impacto-global-principal-corrente-do-atlantico-pode-entrar-em-colapso-mais-cedo/

Gabriel Sérvio  

22/10/2024

Cientistas climáticos alertam sobre colapso da corrente do Oceano Atlântico em carta aberta.

Os principais cientistas climáticos do mundo estão em alerta sobre o colapso  potencialmente “devastador” das principais correntes do Oceano Atlântico. Em carta aberta, o climatologista Michael Mann, da Universidade da Pensilvânia, afirma que os riscos do enfraquecimento da circulação oceânica foram subestimados e justificam uma ação urgente.

As correntes em questão são aquelas que formam a Atlantic Meridional Overturning Circulation (AMOC, na sigla em inglês), uma gigante que inclui a Corrente do Golfo e transporta calor vital para o Hemisfério Norte.

Pesquisas mostram que a AMOC está desacelerando e pode em breve atingir um ponto crítico devido ao aquecimento global, transformando o clima da Terra em um verdadeiro caos.

O que acontece se a principal corrente do Atlântico entrar em colapso?

Um trecho da carta diz que a mudança “teria impactos devastadores e irreversíveis, especialmente para os países nórdicos (Dinamarca, Islândia, Noruega, Finlândia e Suécia), mas também para outras partes do mundo”.

  • Um colapso da AMOC causaria um grande resfriamento e clima extremo nos países nórdicos, segundo a carta;
  • Isso aumentaria e aprofundaria uma estranha “mancha fria” sobre o Atlântico Norte oriental devido à desaceleração das correntes transportadoras de calor;
  • As correntes oceânicas em colapso também provavelmente precipitarão impactos climáticos em todo o Hemisfério Norte, ameaçando a agricultura no noroeste da Europa;
  • Outras regiões também sentiriam os efeitos, disseram os cientistas. Se a AMOC parasse, isso desencadearia uma mudança para o sul nos sistemas de monções tropicais — com consequências catastróficas para a agricultura e ecossistemas;
  • Correntes oceânicas interrompidas também poderiam aumentar ainda mais os níveis do mar ao longo da costa atlântica americana.

Sem uma ação climática urgente, a AMOC pode entrar em colapso já nas próximas décadas, embora haja uma enorme incerteza na previsão dos prazos, acrescenta carta. O último relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) afirma que “há uma confiança média de que a Circulação Meridional do Atlântico não entrará em colapso” antes de 2100, mas os cientistas dizem a estimativa não é apenas imprecisa, mas também preocupante.

Leia mais:

A carta foi endereçada ao Conselho Nórdico de Ministros, um fórum intergovernamental que promove cooperação entre os países nórdicos. Os pesquisadores pediram que as autoridades considerem os riscos impostos por um colapso da AMOC e aumentem a pressão sobre parceiros internacionais para manter o aumento médio da temperatura global em 1,5 graus Celsius — uma das metas do Acordo de Paris de 2015.

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