Enquanto o Brasil se dilacera no debate sobre a mineração em terras indígenas – onde estão algumas das maiores reservas de nióbio do planeta, sem qualquer benefício para essa gente -, amplos trechos das últimas áreas até agora intocadas do norte da Finlândia, da Noruega e da Suécia começam a ser alvo da mineração de urânio, ferro, níquel, fósforo e terras-raras de alto valor , cuja demanda mundial cresce rapidamente. Até a presente data, 349 requerimentos de licenças para mineração nessa região já foram feitos, 243 dos quais na Finlândia, que já definiu as áreas que serão abertas a esse tipo de atividade (correpondendo a 1/8 da área total do país).
http://www.portaldomeioambiente.org.br/luiz-prado/9380-mineracao-destruicao-e-recuperacao-de-areas-muito-degradadas
Crédito da imagem: tmacea.blogspot.com
Por Luiz Prado
Enquanto o Brasil se dilacera no debate sobre a mineração em terras indígenas – onde estão algumas das maiores reservas de nióbio do planeta, sem qualquer benefício para essa gente -, amplos trechos das últimas áreas até agora intocadas do norte da Finlândia, da Noruega e da Suécia começam a ser alvo da mineração de urânio, ferro, níquel, fósforo e terras-raras de alto valor , cuja demanda mundial cresce rapidamente. Até a presente data, 349 requerimentos de licenças para mineração nessa região já foram feitos, 243 dos quais na Finlândia, que já definiu as áreas que serão abertas a esse tipo de atividade (correpondendo a 1/8 da área total do país).
Ao que tudo indica, serão inúteis as alegações – justificadas – de grupos conservacionistas de que o licenciamento dessas atividades de mineração colocará em risco rios, lagos e montanhas onde se encontram comunidades nativas que ainda sobrevivem da caça e da pesca, além de serem o habitat natural de grandes mamíferos como o lince, lobos, ursos e wolverines (denominação em inglês para uma família de mamíferos na qual se encontram a lontra, a doninha e o texugo.
As informações são de artigo assinado por John Vidal, editor de meio ambiente do jornal inglês The Guardian.
A Constituição brasileira de 1988 permite a mineração em terras indígenas desde que haja regulamentação pelo Congresso, mas os grupos indigenistas e conservacionistas continuam fazendo um grande esforço para que o Congresso não cumpra a sua função de fazer essa regulamentação, sem consultarem os indios sobre as compensações que possam advir dessa regulamentação (ainda que tenham sempre aplaudido as assim chamadas “compensações ambientais”).
A mineração envolve, sem dúvida, grandes problemas e riscos ambientais. Mas há exemplos bem sucedidos da devastação provocada pela mineração. O mais recente deles é a criação de uma região (distrito) de lagos na região de Lusatia, na Alemanha onde a mineração de linhito, um tipo de carvão com alto teor de carbono, iniciou-se em 1844. Pouco a pouco a mineração se expandiu, até que em 1975 a Alemanha já liderava a produção mundial de carvão e, em poucos anos, 136 pequenas e médias cidades foram totalmente demolidas para continuar ampliando essa mineração na região, com o reassentamento ou a remoção de cerca de 25.000 pessoas.
Os conflitos se intensificaram, já que antes da mineração a região de Lusatia era extremamente pobre. Com a reunificação da Alemanha, essas minas foram simplesmente fechadas. Para resolver o problema das imensas cicatrizes por elas deixadas, o governo criou uma unidade especial da administração pública em 1994, e depois de um cuidadoso planejamento iniciou-se o processo de inundação das maiores áreas de escavação. Até o presente, 24 lagos artificiais foram criados com uma área total de 140 km² que já são utilizados para esportes aquáticos, incluindo a natação (aqui chamada de “recreação de contato primário). Nesses lagos, mesmo a vida aquática já está reaparecendo, com espécies de peixes se reproduzindo.
Essa mesma autoridade administrativa do governo também trata a água poluída pelas minas, replanta florestas, vende áreas para a implantação de centrais de geração fotovoltaica e eólica, incentiva a agricultura.
A reportagem sobre o tema, publicada pelo mesmo The Guardian inclui algumas imagens bem interessantes sobre o processo de recuperação anda em andamento.
No Brasil, para que se iniciasse a recuperação de uma das maiores áreas degradadas pela mineração de carvão – na região de Criciúma, em Santa Catarina – foi necessária a longa tramitação e o julgamento final de uma Ação Civil Pública – ACP. Mas alguns resultados já se fazem sentir e o acesso às informações ou a imagens pode ser obtido utilizando as palavras “ACP mineração Criciuma”. Além disso, a sentença original da Justiça Federal também encontra-se disponível para download.
Luiz Prado é jornalista, economista, pós graduado em Biologia e Ecologia Humana pela Faculdade de Medicina da Universidade de Paris V e em Geografia e Ciências da Sociedade pela Universidade de Paris VII. É membro do Conselho Editorial da REBIA – Rede Brasileira de Informação Ambiental (Revista e Portal do Meio Ambiente). Foi presidente da FEEMA, Secretário de Estado de Desenvolvimento Sustentável do Espírito Santo, consultor de longa duração do Banco Mundial com trabalhos em toda a América Latina e países da Ásia, consultor do BID, e de diversas empresas de engenharia e financeiras norte-americanas.