Analysis by Dr. Joseph Mercola
March 03, 2021
Resumo da história
- A exposição a ftalatos pode prejudicar o desenvolvimento cerebral de crianças, aumentando o risco de aprendizagem, atenção e distúrbios comportamentais ;
- A exposição pré-natal a ftalatos tem sido associada a comportamentos problemáticos, como um aumento da probabilidade de comportamentos delinquentes e agressivos, juntamente com reduções no raciocínio perceptivo da criança, QI reduzido, ansiedade e memória de trabalho mais fraca;
- Nos EUA, a regulamentação dos produtos químicos permanece frouxa e a FDA/Food and Drugs Adminstration aprovou o uso de 28 ftalatos para uso como aditivos alimentares em produtos em contato com alimentos;
- A dieta continua a ser uma rota significativa de exposição aos ftalatos, uma vez que os produtos químicos podem se infiltrar nos alimentos, não apenas das embalagens de alimentos comumente usadas em fast food e restaurantes de comida para viagem/delivery, mas também de equipamentos de plástico usados na produção de alimentos;
- Como as pessoas estão expostas a vários ftalatos simultaneamente, os especialistas estão pedindo a regulamentação dos produtos químicos como uma classe e reformas políticas para eliminarem os produtos químicos que levam à exposição em mulheres grávidas, mulheres em idade reprodutiva, bebês e crianças.
A exposição onipresente a ftalatos, encontrados em tudo, desde embalagens de alimentos a produtos de higiene pessoal, está colocando em risco o desenvolvimento do cérebro das crianças, de acordo com o Projeto TENDR/Targeting Environmental Neuro-Development Risks), um movimento de integração entre cientistas, profissionais de saúde e defensores infantis e ambiental. 1
O grupo foi formado em 2015 devido à preocupação de que produtos químicos ambientais tóxicos estivessem desempenhando um papel nos distúrbios do neurodesenvolvimento, incluindo autismo, déficit de atenção, hiperatividade, deficiência intelectual e distúrbios de aprendizagem.
Recentemente, eles se concentraram nos ftalatos, descobrindo que existem evidências suficientes para exigirem ação imediata para proteger o cérebro das crianças da exposição a esta classe prejudicial de produtos químicos. 2
Vários distúrbios comportamentais ligados a ftalatos
Os ftalatos são produtos químicos de alto volume de produção, usados com frequência como plastificantes em cloreto de polivinila/PVC (nt.: infelizmente resina plástica que praticamente precisa desses plastificantes para ser um produto comercial como os filmes de pvc. Além desses produtos as sandálias Havaianas, há uns dois ou três, começaram a ser recusadas na Europa por terem esse plastificante. Será que ainda têm? Se para exportar não, as que ficam no Brasil, teriam?) e outros plásticos.
Estima-se que 8,4 milhões de toneladas métricas de plastificantes, incluindo ftalatos, são usadas em todo o mundo a cada ano, 3 com a produção de ftalatos chegando a cerca de 4,9 milhões de toneladas métricas anualmente. 4 O Instituto Norueguês de Saúde Pública descobriu que 90% dos testados de 2016 a 2017 tinham oito plastificantes diferentes na urina. 5
Em um artigo revisado por pares publicado no American Journal of Public Health, membros do Projeto TENDR chegaram à conclusão de que a exposição a orto-ftalatos pode prejudicar o desenvolvimento do cérebro, aumentando o risco de aprendizagem, atenção e distúrbios comportamentais das crianças.
Eles citam dados de estudos longitudinais de coorte de nascimentos que mostram associações entre a exposição a ftalatos no útero e as seguintes condições de saúde: 6
Transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH) | Outros problemas comportamentais |
Desenvolvimento cognitivo adverso | QI inferior |
Pobre desenvolvimento psicomotor | Comunicação social prejudicada |
De acordo com o relatório, mais de 30 estudos publicados em 11 países diferentes mediram a exposição pré-natal ao ftalato com as crianças sendo acompanhadas por alterações no comportamento neonatal, desenvolvimento cognitivo, função executiva, comportamento social e muito mais.
“O padrão mais consistente em vários estudos é a associação com comportamentos comumente associados ao TDAH (incluindo hiperatividade, agressão/desafio e reatividade emocional), déficits nas funções executivas ou diagnóstico clínico de TDAH”, observaram os pesquisadores. 7
Em um exemplo, crianças nascidas de mães que estavam no quintil (nt.: 80% das amostras) mais alto dos níveis de ftalato urinário (especificamente, metabólitos DEHP) durante o segundo trimestre da gravidez tinham quase três vezes mais probabilidade de serem diagnosticadas com TDAH em comparação com crianças nascidas de mães com níveis mais baixos quintil (nt.: 20% das amostras). 8
A exposição pré-natal a ftalatos, especialmente metabólitos de DBP e DEHP, também foi associada a uma série de comportamentos problemáticos adicionais, como uma maior probabilidade de comportamentos delinquentes e comportamentos mais agressivos, 9 junto com reduções no raciocínio perceptivo da criança, QI reduzido em sete pontos , ansiedade e memória de trabalho mais fraca. 10
Exposições pré-natais através da puberdade particularmente problemáticas
Existem várias janelas sensíveis de exposição aos ftalatos, incluindo pré-natal e pós-natal na adolescência e potencialmente na idade adulta. O desenvolvimento contínuo do cérebro, incluindo o córtex pré-frontal, hipocampo e cerebelo, durante esses períodos, torna-o especialmente vulnerável a exposições a toxicidades de ftalatos.
Os mecanismos por trás dos danos dos ftalatos são variados, mas os produtos químicos são conhecidos por interromper a organização e a função do eixo hipotálamo-hipófise-gonadal, o sistema responsável pelo gerenciamento do estresse e envolvido na regulação da função imunológica e da homeostase metabólica. Eles também podem inibir a produção de testosterona fetal (nt.: destaque dado pela tradução, face a necessidade desse hormônio nos níveis naturais para que os fetos masculinos completem sua formação masculina, sob pena de nascerem feminizados, ou seja, com vestígios do sexo feminino) e também podem ter efeitos antiestrogênicos, 11 que podem ter repercussões na plasticidade cerebral. 12
“Acredita-se que o hipocampo e, consequentemente, os aspectos de plasticidade neural, flexibilidade cognitiva, comportamento semelhante à ansiedade, aprendizagem e memória sejam particularmente vulneráveis aos ftalatos”, observou a equipe, 13 acrescentando que os ftalatos também podem causar danos ao interromper o hormônio da tiroide e alterando o metabolismo lipídico e a homeostase de íons, incluindo sinalização de cálcio e ativação de receptores ativados por proliferadores de peroxissoma. Eles notaram: 14
“Dada a ampla exposição a ftalatos, inclusive entre mulheres e crianças, e as limitadas regulamentações existentes nos EUA, nenhuma das quais se concentra em mulheres grávidas, são necessárias ações regulatórias de proteção à saúde para eliminar essas exposições potencialmente prejudiciais.
Como você está exposto aos ftalatos?
Enquanto os EUA impõem restrições ao uso de oito ftalatos em brinquedos infantis e outros itens de puericultura, isso está sendo legalmente contestado pela National Association of Manufacturers, o American Chemistry Council e outros grupos da indústria. 15
A regulamentação federal dos produtos químicos continua frouxa e, de fato, a Food and Drug Administration dos EUA aprovou o uso de 28 ftalatos para uso como aditivos alimentares em produtos de contato com alimentos, como celofane (nt.: informação preocupante já que essa poderia ser a alternativa para os filmes de pvc que têm até 60% de sua composição de ftalato. E qual seria o percentual do celofane que é feito de celulose e não de plástico?), papel e papelão, agentes de revestimento e aglutinantes.
Organizações ambientais e de saúde pública enviaram petições pedindo à FDA para eliminar sua aprovação dos 28 ftalatos como aditivos alimentares, mas a agência não cumpriu o prazo legal para a decisão final. 16
Como resultado, a dieta continua a ser uma via significativa de exposição a esses plastificantes, uma vez que os produtos químicos podem se infiltrar nos alimentos, não apenas de suas embalagens, comumente usadas em fast food e restaurantes take-away/delivery, mas também de equipamentos plásticos usados na produção de alimentos, como laticínios comerciais, correias transportadoras e luvas de preparação de alimentos. 17
Outra rota comum de exposição é a partir de materiais de construção, incluindo pisos de vinil/vinílicos/PVC e revestimentos de parede, que permitem que os ftalatos migrem para a poeira doméstica e o ar interno. Eles também são amplamente utilizados em produtos de higiene pessoal e cosméticos, incluindo esmaltes, fragrâncias, loções e produtos para os cabelos.
“No geral, as mulheres têm maior exposição aos ftalatos encontrados em produtos de cuidados pessoais do que os homens”, observou o relatório, o que é especialmente problemático, uma vez que “[f]talatos são facilmente transferidos da mãe para o feto durante a gravidez”. 18
Todos os ftalatos devem ser regulados, eliminados
Como as pessoas estão expostas a vários ftalatos simultaneamente, o relatório pede a regulamentação dos produtos químicos como classe e reformas de políticas para eliminar os produtos químicos que levam à exposição em mulheres grávidas, mulheres em idade reprodutiva, bebês e crianças.
“Estamos expostos a vários ftalatos, e essa mistura pode vir em um único produto, como também em vários outros aos quais as pessoas são expostas em um dia”, disse a autora principal Stephanie Engel à CNN. “A realidade é que precisamos pensar os ftalatos como uma classe porque é assim que as pessoas são expostas a eles.” 19
Rever os produtos químicos como uma classe também evitaria que os fabricantes simplesmente trocassem um ftalato por outro, semelhante ao que ocorreu com o bisfenol-A e o bisfenol-S. Linda Birnbaum, ex-diretora do Instituto Nacional de Ciências da Saúde Ambiental e do Programa Nacional de Toxicologia, disse à CNN: 20
“Esta é toda a história desses produtos químicos, quer você os chame pela imagem interminável do jogo de ‘golpeie uma toupeira’ ou vê-la como ‘correia transportadora química’, vindo um atrás do outro, ou mesmo pela simples’substituição infeliz’. Passamos de um produto químico com o qual temos preocupações para outro que ainda não estudamos, o que muitas vezes acaba sendo igualmente problemático.
Não podemos continuar testando essas coisas, uma de cada vez. Eu poderia argumentar que se um produto químico pode ser substituído por outro sem alterar o processo, então por que você pensaria que a biologia seria diferente? “
Embora os grupos da indústria tenham recuado devido aos “custos” associados à remoção dos produtos químicos, alguns varejistas e fabricantes já tomaram medidas voluntárias para substituí-los. A Home Depot introduziu uma política para restringir os ftalatos em pisos de vinil e carpetes de parede a parede, por exemplo, e a Apple removeu essa classe de produtos químicos de quase todos os seus produtos. 21
A poluição microplástica é outra crise para a saúde humana
Em um artigo de perspectiva publicado na revista Science, Dick Vethaak da Vrije Universiteit Amsterdam e Juliette Legler da Utrecht University na Holanda sugerem que a exposição onipresente a microplásticos, incluindo partículas de plástico menores que 5 milímetros e plásticos nanométricos menores que 1 µm, representam outro fator significativo risco para a saúde humana. 22, 23
A exposição ocorre por inalação e ingestão e é o resultado da quebra contínua de produtos plásticos, como pneus de automóveis, roupas, tintas e muito mais, que vêm em formas como esferas, fragmentos e fibras. Os plásticos contêm misturas de produtos químicos, incluindo aditivos e outros contaminantes ambientais.
“[Um] corpo crescente de evidências sugere ampla exposição a microplásticos de vários alimentos, água potável e ar”, observaram os pesquisadores, acrescentando que os microplásticos podem causar toxicidade física, química e microbiológica em humanos, com os efeitos tóxicos agindo cumulativamente.
Além disso, a toxicidade química também pode ocorrer, uma vez que os microplásticos podem agir como “vetores para transferir produtos químicos perigosos exógenos, proteínas e toxinas presentes nas partículas para dentro do corpo”. 24 Eles apontaram um perigo potencial pouco conhecido e pouco estudado também – a presença de um eco-ou biocornoa -, que são substâncias na superfície da partícula de plástico que podem interferir na absorção normal de partículas: 25
“Antes de cruzar as barreiras epiteliais do pulmão e do intestino, os microplásticos ficam presos na camada de muco que recobre as células, enquanto as partículas ingeridas precisam passar por condições ácidas no estômago e no lúmen intestinal.
O papel da alteração da composição do eco- ou biocorona adquirido pelas micropartículas, de fora para dentro do corpo, através das barreiras dos tecidos, e os mecanismos subjacentes na mediação da absorção e toxicidade são mal compreendidos e merecem mais estudos.”
Em um estudo da University of Newcastle, Austrália, pesquisadores quantificaram o que a exposição ao microplástico pode significar para humanos, revelando uma descoberta chocante de que uma pessoa comum poderia comer cerca de 5 gramas de plástico por semana – aproximadamente a quantidade encontrada em um cartão de crédito. 26
Embora grupos ambientais tenham exigido metas nacionais de redução, reciclagem e gerenciamento de plástico, juntamente com um tratado internacional para impedir a poluição do plástico nos oceanos, não subestime o impacto que uma pessoa – você – pode ter fazendo ajustes simples em sua vida diária .
Ao evitar o uso de plásticos descartáveis como canudos, utensílios, sacolas e garrafas, e ao buscar comprar produtos que não sejam feitos ou embalados em plástico, você pode diminuir a quantidade de resíduos plásticos e a poluição produzida.
Como reduzir sua exposição ao ftalato
Você pode tomar medidas para reduzir sua exposição a ftalatos e outros plastificantes fazendo pequenas mudanças em sua rotina diária. Isso inclui:
Evite recipientes de plástico e embalagens de plástico para alimentos e produtos de higiene pessoal. Em vez disso, armazene alimentos e bebidas em recipientes de vidro. |
Evite brinquedos de plástico para crianças. Use brinquedos feitos de substâncias naturais, como madeira e materiais orgânicos. |
Leia os rótulos de seus cosméticos e evite aqueles que contenham ftalatos. |
Evite produtos rotulados com “fragrância/parfum/fragrance”, incluindo purificadores de ar, pois este termo abrangente pode incluir ftalatos comumente usados para estabilizar o cheiro e estender a vida útil do produto. |
Leia os rótulos à procura de produtos sem PVC, incluindo lancheiras, mochilas e recipientes de armazenamento infantis. |
Não leve ao microondas alimentos em recipientes de plástico ou cobertos com filme plástico. |
Freqüentemente, aspirar e tirar o pó de salas com cortinas de vinil (nt.: normalmente os chamados ‘blackout’ são de PVC/vinil/vinyl), papel de parede, pisos e móveis que podem conter ftalatos, pois o produto químico se acumula na poeira e é facilmente ingerido por crianças. |
Pergunte ao seu farmacêutico se os seus comprimidos prescritos são revestidos para controlar quando se dissolvem, uma vez que o revestimento pode conter ftalatos. |
Coma principalmente alimentos crus e frescos. As embalagens de alimentos costumam ser uma fonte de ftalatos. |
Use mamadeiras de vidro em vez de plástico. Amamente exclusivamente durante o primeiro ano, se puder, para evitar bicos e mamadeiras de plástico completamente. |
Retire as frutas e vegetais dos sacos plásticos imediatamente após voltar do supermercado para casa e lave-os antes de guardá-los; como alternativa, use sacolas de pano para levar seus produtos para casa. |
Os recibos da caixa registradora são impressos a quente e geralmente contêm BPA. Manuseie o recibo o menos possível e peça à loja para mudar para recibos sem BPA. |
Use produtos de limpeza naturais ou faça o seu próprio. |
Substitua os produtos de higiene feminina por alternativas mais seguras. |
Evite amaciantes de roupas e secadores; faça o seu próprio para reduzir a aderência estática. |
Verifique se há contaminantes na água da torneira de sua casa e filtre a água, se necessário. |
Ensine seus filhos a não beberem da mangueira do jardim, pois muitas mangueiras contêm plastificantes, como ftalatos. |
Use sacolas de compras reutilizáveis para mantimentos. |
Leve seu próprio recipiente de sobras de plástico para restaurantes. Evite utensílios e canudos descartáveis. |
Traga a sua própria caneca para um café e traga água potável de casa em garrafas de água em vez de comprar água engarrafada. |
Considere mudar para escovas de dente de bambu e escovar os dentes com óleo de coco e bicarbonato de sódio para evitar tubos de pasta de dente de plástico. |
Fontes e Referências
- 1 Project TENDR
- 2, 4, 6, 7, 9, 10, 11, 12, 13, 14, 16, 17 American Journal of Public Health February 18, 2021
- 3, 19, 20 CNN February 20, 2021
- 5 Science Norway, November 29, 2020
- 8 Environmental Health Perspectives May 10, 2018
- 15 American Journal of Public Health February 18, 2021, page e3
- 18, 21 American Journal of Public Health February 18, 2021
- 22, 24, 25 Science February 12, 2021
- 23 Science Alert February 21, 2021
- 26 WWF Analysis, No Plastic in Nature: Assessing Plastic Ingestion From Nature To People 2019
Tradução livre, parcial, de Luiz Jacques Saldanha, março de 2021.