Ex-chefe da PF na Amazonas aponta elo entre parlamentares e criminosos.

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CAMILA DA SILVA

14.06.2022

‘Boa parte dos políticos tem a região Norte no bolso’, destacou Alexandre Saraiva, superintendente da PF durante dez anos. ‘Teve senador junto com madeireiro me ameaçando’.

Afastado da Polícia Federal no ano passado por investigar o então ministro Ricardo Salles, o delegado Alexandre Saraiva, diz que uma das barreiras para a atuação de entidades como a Funai e o Ibama na proteção da , é o apoio dos políticos às organizações criminosas, sobretudo as madeireiras. 

“O que pega é a cobertura política dos criminosos […] boa parte dos políticos tem a região Norte no bolso”, destacou Saraiva em entrevista à GloboNews, nesta terça-feira 14. “Eu tenho aqui uma coleção de ofícios de senadores dos diversos estados da Amazônia que mandaram para o meu chefe dizendo que eu estava ultrapassando os limites da lei. Teve senador junto com madeireiro me ameaçando”. 

Para Saraiva, a criminalidade na Amazônia é protegida por parlamentares que compõem o chamado ‘centrão’. “Veja de onde saíram boa parte dos parlamentares do Centrão, financiados por esses grupos”, afirmou, citando nominalmente os parlamentares Zequinha Marinho (PL-PA), Mecias Pereira de Jesus (PSD-RR), Jorginho Mello (PL-SC) e Carla Zambelli (PSL-SP).

“Zequinha Marinho estava junto com Ricardo Salles, Mario Mota, Messias de Jesus, Jorginho Mello mandou ofício de Santa Catarina, Carla Zambelli foi lá defender madeireiro junto com Ricardo Salles. Ou seja, temos uma bancada do crime.”

Para Marinho, um dos parlamentares destacados na denúncia do delegado, os fiscais ambientais estão na lista de “servidores bandidos e malandros”. Ele faz parte da Frente da Defesa da Amazônia Legal, mas já foi acusado de promover supostos encontros entre lideranças do garimpo e ministros do governo Bolsonaro.

Carla Zambelli, presidente da Comissão de Meio Ambiente da Câmara, já participou de encontros com fazendeiros e grileiros durante a chefia de Ricardo Salles no Ministério do Meio Ambiente, em que reivindicavam menor ação da PF na extração ilegal de madeiras na região. O caso se referia a uma indignação dos fazendeiros com a atuação do delegado Alexandre Saraiva.

Na última cúpula do G-20, um relatório revelou que os crimes ambientais estão na lista dos que mais geram lucros. Os ganhos variam de 110 bilhões a 281 bilhões de dólares por ano no mundo, a maior parte na América do Sul e Central. 

No Brasil, somente com o aumento das áreas desmatadas na Amazônia de 2012 a 2015, os grileiros tiveram um retorno de aproximadamente 300 milhões de reais, como apontou o levantamento do Instituto do Homem e do Meio Ambiente da Amazônia (Imazon).

Camila da Silva
Repórter e Produtora de CartaCapital.