Especialistas sugerem medidas para produção alimentar sem aumentar as emissões e a destruição de florestas.

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O mundo se encontra diante de um gigantesco desafio: aumentar a produção de alimentos sem destruir a natureza nem piorar o . O problema, dizem os cientistas, é que a humanidade já chegou muito perto de seu limite seguro. O planeta abriga hoje 7 bilhões de pessoas, e a produção atual seria capaz de nutrir entre 8 bilhões, segundo estimativas mais conservadoras, e 10 bilhões, para os mais otimistas.

 

http://www.ecodebate.com.br/2012/01/23/especialistas-sugerem-medidas-para-producao-alimentar-sem-aumentar-as-emissoes-e-a-destruicao-de-florestas/
23/01/201
Técnica que mescla floresta, plantio e pecuária em fazenda da Embrapa: na Dinamarca, solução parecida reduziu em 28% as emissões de carbono (Carlos Silva/Esp. CB/D.A Press - 12/12/09)
Técnica que mescla floresta, plantio e pecuária em fazenda da Embrapa: na Dinamarca, solução parecida reduziu em 28% as emissões de carbono

O mundo se encontra diante de um gigantesco desafio: aumentar a produção de alimentos sem destruir a natureza nem piorar o aquecimento global. O problema, dizem os cientistas, é que a humanidade já chegou muito perto de seu limite seguro. O planeta abriga hoje 7 bilhões de pessoas, e a produção atual seria capaz de nutrir entre 8 bilhões, segundo estimativas mais conservadoras, e 10 bilhões, para os mais otimistas. Como a população não para de crescer, torna-se urgente a ampliação da capacidade agropecuária, caso contrário, em algumas décadas, a fome não será um problema apenas político e econômico, mas também numérico. Matéria de Max Milliano Melo, no Correio Braziliense.

Como incrementar a produção sem que isso signifique aumentar a emissão de gases do efeito estufa e sem destruir ainda mais para transformá-las em campo? É essa pergunta que especialistas governamentais de várias partes do mundo, incluindo o , buscam responder em um comentário publicado na edição de hoje da revista científica Science. O artigo aponta que o caminho para a conciliação entre e proteção ambiental é pavimentado em grande parte pela ciência. O desenvolvimento de ferramentas que intensifiquem de maneira sustentável a , segundo os gestores, seria a ferramenta mais eficiente para aproveitar melhor o solo e a água, sem que isso implicasse em danificar os ecossistemas.

Fila para receber comida no Quênia: hoje, a produção ainda é suficiente para  alimentar toda a população mundial  (Simon Maina/AFP - 8/8/11)

Fila para receber comida no Quênia: hoje, a produção ainda é suficiente para alimentar toda a população mundial

Além disso, as , em ritmo acelerado, também provocarão a necessidade de adaptação da forma como a agropecuária trabalha hoje. “Precisamos definir nosso foco em agricultura, estabelecendo como prioritárias as práticas que continuam a aumentar o rendimento e melhorar a sua eficiência”, explica ao Correio a norte-americana Molly Jahn, da Universidade do Wisconsin–Madison, nos Estados Unidos, uma das autoras do comentário.

Para o grupo de especialistas ouvidos, o primeiro passo para solucionar a questão é a tomada de consciência, por parte dos países, de que o combate às mudanças climáticas não passa apenas pela mudança do padrão energético, com a redução do uso de combustíveis fósseis. Uma produção agrícola menos agressiva também tem um papel importante nesse processo. “O investimento em pesquisa aumenta a produtividade e a estabilidade da produção, e também reduz o impacto ambiental da agricultura”, afirma Jahn (veja quadro com as recomendações). “Os governos devem reconhecer claramente o desafio da segurança alimentar, que é um problema crônico em alguns lugares no mundo em desenvolvimento, mas também é um problema nos países desenvolvidos, como o meu”, completa a norte-americana.

A agricultura precisa se tornar um eixo central da questão das mudanças climáticas<br /><br /><br /><br />
Carlos Nobre, secretário de Políticas e Programas de Pesquisa e Desenvolvimento do MCTI (Zuleika de Souza/CB/D.A Press - 22/2/11)

A agricultura precisa se tornar um eixo central da questão das mudanças climáticas Carlos Nobre, secretário de Políticas e Programas de Pesquisa e Desenvolvimento do MCTI


Bons exemplos

Na tentativa de fazer com que a ciência seja mais ouvida na tomada de decisões, os especialistas citam casos de sucesso em nações ricas e pobres. De acordo com o artigo, no Níger, a implantação de 5 milhões de hectares de agroflorestas, um sistema que integra agricultura e florestas para alcançar produtividade e ao mesmo tempo preservar o solo, beneficiou 1,25 milhão de domicílios, aumentou em 500 mil toneladas a produção de grãos, além de manter e ampliar o sequestro de carbono. A implantação de iniciativas mais verdes na Dinamarca vem reduzindo em 28% as emissões de gases de efeito estufa, com aumento de produtividade.

Para eles, a abordagem integrada de agricultura e mudanças climáticas deve se tornar um dos eixos centrais tanto na discussão de como alimentar a população de regiões de extrema pobreza quanto na solução dos problemas do . Contudo, ainda falta vontade política para que saiam do papel. “Muitas práticas agrícolas se mostram promissoras no que se refere a reduzir os riscos inerentes à produção de alimentos, cortar as emissões de gases de efeito estufa e, ao mesmo tempo, proteger as florestas e outros recursos naturais”, afirma, por meio de sua assessoria de imprensa, Tekalign Mamo, do Ministério da Agricultura da Etiópia. “No entanto, as políticas atuais não dão um estímulo suficiente para a adoção de abordagens sustentáveis nem estão preocupadas em preparar o setor agrícola mundial para as mudanças climáticas”, completou.

O secretário de Políticas e Programas de Pesquisa e Desenvolvimento do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), Carlos Nobre, concorda. Para ele, as negociações sobre o tema em nível internacional precisam ser agilizadas. “Na COP-17, não podemos dizer que não houve avanços, mas eles foram poucos e muito lentos”, lembra o secretário, referindo à conferência das Nações Unidas sobre mudanças climáticas realizada na África do Sul em dezembro passado. “A agricultura precisa se tornar um eixo central da questão das mudanças climáticas. Se somarmos o carbono liberado pela produção agrícola — de maneira direta e indireta, que inclui o que é desmatado para plantar —, veremos que o efeito é maior do que o da produção de , incluindo combustíveis fósseis”, aponta.

Para ele, o desafio central na questão é que tanto países ricos quanto pobres não veem na questão uma oportunidade de crescimento, e sim, uma forma de limitação da produção. “Os países pobres alegam que produzem pouco e não têm histórico de emissão. Dizem que a questão não é interessante para eles”, explica o secretário do MCTI. “Já os países ricos, que têm uma agricultura de ponta e altamente emissora, enxergam na mudança uma ameaça à produtividade.”

Menos carbono

No caso do Brasil, Carlos Nobre acredita que já existe uma larga gama de alternativas para produzir mais de maneira mais sustentável, já que o país seria um dos líderes em tecnologia agrícola e ambiental no mundo. “Já está implantado o programa de financiamento da agricultura de baixo carbono, existem várias práticas de integração de agricultura e que não diminuem a produtividade, melhoram a produção e produzem menos carbono. Sem falar em formas de fixação de nitrogênio no solo sem a necessidade de uso de fertilizantes, o que diminui a liberação de óxido nitroso, um dos gases do efeito estufa”, exemplifica. “O problema é que a procura pelos empréstimos, por exemplo, ainda é muito baixa. O setor agropecuário precisa responder se está disposto (a aderir a essas iniciativas)”, questiona.

Para ele, a participação dos produtores precisa ser melhor trabalhada, pois existe uma cultura que dificulta a inovação na área. “No Brasil, esse é um setor culturalmente muito conservador, tradicionalmente lento para incorporar novas tecnologias”, declara Carlos Nobre. “A mudança de paradigmas na produção agrícola é inevitável. Não vejo, daqui a 20 anos, uma agricultura igual à de hoje”, acrescenta.

Rodrigo Justus de Brito, assessor da Comissão Nacional de Meio Ambiente da Confederação Nacional da Agricultura (CNA), concorda com a posição dos especialistas de que a agricultura tem sido deixada de lado na discussão ambiental. “A produção agrícola vem sendo vista com um detalhe na questão do desmatamento, vem sendo empurrada com a barriga”, acredita. “A questão vem de encontro ao que pensamos em relação à política internacional. A ciência deve colaborar. Principalmente produzindo estudos que mensurem quanto emitimos em cada atividade para que as áreas mais problemáticas sejam melhoradas”, completa o representante.

Para ele, contudo, ao contrário do que afirma o secretário Carlos Nobre, o setor agrícola brasileiro está aberto à inovação. “A agricultura brasileira é de baixa emissão. A maior parte das emissões de carbono brasileiras estão ligadas ao desmatamento”, afirma o assessor da CNA. “A baixa adesão a alguns programas se deve muito mais à falta de regulamentação estatal e à dificuldade que o agricultor tem de acessar esses programas”, opina.

De acordo com Brito, nos próximos anos, o panorama deve melhorar. “As regulamentações dos programas de concessão de crédito para produção de baixo carbono saíram e provavelmente teremos um aumento da procura em 2012”, aposta. “Na verdade, teremos um problema maior. Foram R$ 2 bilhões para esse tipo de financiamento. Na medida em que todos procurarem, deve faltar dinheiro.”

Soluções
Veja as recomendações do grupo de especialistas para a mitigação das mudanças climáticas:

» Integrar a segurança alimentar e a agricultura sustentável nas políticas globais e nacionais, incluindo as de adaptação e mitigação de mudanças no clima

» Aumentar o investimento global em na agricultura e em sistemas de produção de alimentos

» Intensificar a produção agrícola de forma sustentável e, ao mesmo tempo, reduzir as suas emissões e outros impactos ambientais

» Criar programas-alvo e políticas de apoio às populações mais vulneráveis

» Remodelar o acesso e o consumo de alimentos e assegurar que as necessidades nutricionais
básicas sejam atendidas

» Reduzir a perda de resíduos alimentares e de toda a cadeia de abastecimento

» Criar sistemas de informação abrangentes sobre as dimensões humanas e ecológicas das mudanças climáticas e da fome

Fonte: Science.

 

 

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