Ervas-daninhas, não! Plantas indicadoras. A definitiva eliminação do paradigma da indústria dos venenos quanto a plantas serem daninhas e invasoras. É a redenção da ecologia.
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Costumamos chamar alguns vegetais de ervas-daninhas ou plantas invasoras. Muitas são comestíveis (nossas queridas Pancs), mas outras não. Todas, contudo, são vegetais extremamente importantes para a reparação de solos e, sobretudo, indicam qual a qualidade de um solo em determinado momento. Em vez de querer nos livrar delas, vamos aprender o que as “daninhas” têm a ensinar! E veja se você consegue identificar o que se passa com a terra a partir da leitura dessa matéria.
Trevo (Oxalis Oregana)
Por Guilherme Ranieri* / Blog Matos de Comer
Mais do que errado, o termo ervas daninhas é preconceituoso e baseado numa visão utilitarista. Repare, o termo daninhas já indica que elas são prejudiciais, perniciosas, que causam dano. Mas, elas causam mesmo? Na natureza não existe nada que cause dano. Felizmente só conseguimos falar de bem e mal, um discurso que envolve a moral, para questões humanas, e as plantas são vegetais. Nem bons, nem maus. Nunca daninhos, danosos. Só a partir desse raciocínio, o termo “erva daninha” já começa a parecer errado.
O termo ruderais é sinônimo de ervas-daninhas, mas sem esse juízo de valores em cima delas. Ruderal significa “planta que acompanha o homem”. Ou seja, onde o homem vai e desmata, queima, corta, lá vem as plantas ruderais para ocupar o solo. As plantas espontâneas, que nascem sozinhas.
Essas plantas têm a habilidade de deixar o ambiente sempre mais fértil, mais solto, mais úmido e mais rico em vida. Sempre. São aquelas que nascem onde nada mais nasce, e vão preparando terreno até que as plantas mais sensíveis possam nascer, seguidas de plantas maiores, até a reposição da vegetação. Dessa forma, raramente você verá as plantas ruderais, “daninhas”, numa floresta com solo rico e fértil. Ali, elas não tem mais trabalho a fazer. Aliás, há sementes que ficam décadas no solo esperando o solo ficar compactado, seco, pobre e raso para brotarem. É o plano de saúde do solo. A esse “plano de saúde” natural damos o nome de banco de semente do solo. Se a terra fica doente, essas sementinhas entram em ação. E não, não estou inventando nada disso. Ana Primavesi já escreveu sobre isso.
Aí está a mágica! Certas plantas têm essa função na natureza, a de equilibrar, reetabelecer. Por exemplo, se o solo está muito compacto, a tendência é que nasçam plantas de raízes longas e profundas. Elas naturalmente descompactam o solo e o deixam fofinho, permitindo a entrada de água. Espécies não comestíveis como a vassourinha de botão e a guanxuma são terríveis de arrancar porque a raiz vai fundo na terra. Quando a planta morre, essas raízes viram túneis onde a água e a fertilidade penetram. E a terra vai afofando, afofando.
Ou, ainda, se o solo é rico em nitrogênio e pobre em outros nutrientes, plantas que toleram esses altos teores crescem rapidamente. Isso explica, por exemplo, a presença de picão e guasca em locais que se joga água de reúso, beira de calçada e até perto de ralos – porque são ricos nesse nutriente, que será reciclado por essas plantas. Calçadas onde cachorro faz xixi (xixi é rico em nitrogênio), também são infestadas por essas plantinhas.
Assista a esse vídeo super explicativo sobre as condições de germinação do solo e as funcionalidades das daninhas.
https://vimeo.com/104879734
O texto acima foi editado. Veja a versão completa aqui. *Guilherme Ranieri é cozinheiro amador, gestor ambiental de formação e palpiteiro profissional. Conheça também a página de Facebook do Matos de Comer.
Espécies de vegetação espontânea consideradas “plantas indicadoras”
Amendoim bravo ou leiteira (Euphorbia heterophylla)
Desequilíbrio entre Nitrogênio e micronutrientes, sobretudo Molibdênio e Cobre.
Azedinha ou Trevo-azedo (Oxalis articulata)
Terra argilosa, pH baixo, deficiência de Cálcio e de Molibdênio.
Barba-de-bode (Aristida pallens)
Solos de baixa fertilidade.
Beldroega (Portulaca oleracea)
Solo fértil, não prejudica as lavouras, protege o solo e é planta alimentícia (PANC) com elevado teor de proteína.
Cabelo-de-porco (Carex sp.)
Compactação e pouco Cálcio.
Capim-amargoso ou capim-açu (Digitaria insularis)
Aparece em lavouras abandonadas ou em pastagens úmidas, onde a água fica estagnada após as chuvas. Indica solos de baixa fertilidade.
Capim-caninha ou capim-colorado (Andropogon lateralis)
Solos temporariamente encharcados, periodicamente queimados e com deficiência de Fósforo.
Capim-carrapicho (Cenchrus echinatus)
Indica solos muito decaídos, erodidos e compactados. Desaparece com a recuperação do solo.
Capim-marmelada ou papuã (Brachiaria plantaginea)
Típico de solos constantemente arados, gradeados e com deficiência de Zinco; desaparece com o plantio de centeio, aveia preta e ervilhaca; diminui com a permanência da própria palhada sobre a superfície do solo; regride com a adubação corretiva de Fósforo e Cálcio e com a reestruturação do solo.
Capim rabo-de-burro (Andropogon sp.)
Típico de terras abandonadas e gastas – indica solos ácidos com baixo teor de Cálcio, impermeável entre 60 e 120 cm de profundidade.
Capim amoroso ou carrapicho (Cenchrus spp.)
Solo empobrecido e muito duro, deficiência de Cálcio.
Caraguatá (Erygium ciliatum)
Húmus ácido, desaparece com a calagem e rotação de culturas; freqüente em solos onde se praticam queimadas.
Carqueja (Bacharis articulata)
Pobreza do solo, compactação superficial, prefere solos com água estagnada na estação chuvosa. Planta medicinal.
Carrapicho-de-carneiro (Acanthospermum hispidum)
Deficiência de Cálcio.
Cavalinha (Equisetum sp.)
Indica solo com nível de acidez de médio a elevado.
Chirca (Eupatorium bunifolium)
Aparece nos solos ricos em Molibdênio.
Dente-de-leão (Taraxacum officinale)
Indica solo fértil.
Grama-seda (Cynodon dactylon)
Indica solo muito compactado.
Guanxuma (Sida sp.)
Solo compactado ou superficialmente erodido. Em solo fértil fica viçosa; em solo pobre fica pequena.
Língua-de-vaca (Rumex obtusifolius)
Solos compactados e úmidos. Ocorre freqüentemente após lavouras mecanizadas e em solos muito expostos ao pisoteio do gado.
Maria-mole (Senecio brasiliensis)
Solo adensado (40 a 120 cm). Regride com a aplicação de potássio e em áreas subsoladas.
Mio-mio (Baccharis coridifolia)
Ocorre em solos rasos e firmes, indica deficiência de Molibdênio. Planta tóxica para os animais.
Nabo (Raphanus raphanistrum)
Deficiência de Boro e Magnésio.
Picão preto (Bidens pilosa)
Solo com excesso de Nitrogênio e deficiente em micronutrientes, principalmente Cobre.
Samambaia (Pteridium aquilinium)
Alto teor de alumínio. Sua presença reduz com a calagem. As queimadas fazem voltar o alumínio ao solo e proporcionam em retorno vigoroso da samambaia.
Sapé (Imperata exaltata)
Indica solos ácidos, adensados e temporariamente encharcados. Ocorre também em solos deficientes em Magnésio.
Tansagem (Plantago maior)
Solos com pouca aeração, compactados ou adensados.
Tiririca (Cyperus rotundus)
Solos ácidos, adensados, anaeróbicos, com carência de Magnésio.
Urtiga (Urtica urens)
Excesso de Nitrogênio (matéria orgânica). Deficiência de Cobre.