Embalagens de papel/papelão com “forever chemicals”

Embalagens de fibra ‘compostáveis’

https://newfoodeconomy.org/PFAS-forever-chemicals-sweetgreen-chipotle-compostable-biodegradable-bowls/

Testes feitos pela The New Food Economy revelam um segredo industrial: Todas as embalagens de fibra vegetal (nt.: usadas para alimentos para comer ou armazenagem) contêm moléculas de PFAS – uma classe perturbadora de substâncias químicas com uma meia-vida desconhecida -, mesmo quando elas têm certificação de serem inócuas e compostáveis, o que torna a situação muito mais dramática (nt.: o mesmo drama que vivemos no Brasil, com o estúpido embalamento dos produtos orgânicos com filme de pvc e bandeja de isopor/EPS).

August 5th, 2019
by Joe Fassler

A maior estrela da culinária nos últimos cinco anos não é um ‘chef de cuisine’ ou uma rede de restaurantes e até mesmo um autor de livro de receitas. Foi e é uma tigela, uma humilde peça para embalar alimentos ‘delivery‘ que, como uma tormenta, assolou o mundo comercial dos serviços de alimentos, aumentando tão rapidamente que muito poucos se deram conta do segredo perturbador que estava impregnando as tigelas.

Para os que moram numa cidade norte americana e jantam fora com alguma frequência, provavelmente já se defrontaram com alguma delas: um receptáculo bege, de aparência terrosa, mais grosso que papel e mais fino que papelão, com uma boca larga e uma base pequena o suficiente para se acomodar na palma da mão. Em poucos anos, este tipo de tigelas—conhecidas como tigela de “fibra moldada”, nos espaços de alimentação—tornaram-se, verdadeiramente, um fenômeno. Elas são o padrão de medida de alimentos pré-cozidos ou saladas, ambos embalados para pronto consumo, e projetadas para menus inteiros feitos exatamente para suas proporções. Elas são um item básico para os donos de restaurantes de luxo como do grupo Caviar, que as usam para darem um toque de classe aos pedidos ‘delivery‘. E elas são onipresentes nas salas de alimentação, que frequentemente não é usada nenhuma outra forma de embalagem alimentar.

Se as tigelas de fibra moldada se tornaram um tipo de símbolo de status no mundo dos restaurantes, conferindo a eles que as utilizam uma percepção difusa de responsabilidade corporativa, social e ambiental, provavelmente é porque elas foram apresentadas como um antídoto para os problemas alarmantes de lixos (waste problem) gerados pelos setores da indústria de embalagens para descarte após o transporte de alimentos ‘delivery‘ ou ‘para viagem’. Muitos são os tipos de embalagens apresentadas para os compradores de serviços de alimentação como compostáveis, sendo inclusive certificados por certificadores, como o Biodegradable Products Institute (BPI). Ao contrário das tigelas de isopor/EPS ou vasilhames para sopa revestidos com cera, os produtos de fibra parecem se tornar um mingau em uma pilha de folhas num composto. Eles parecem assim oferecer solução conveniente sem ser uma dívida cármica, como uma maneira de comer sem deixar vestígios agressivos.

Mas estes produtos, por razões que escaparam à percepção cidadã até recentemente, estão, em vez disso, contribuindo para uma crescente crise ambiental.

De acordo com especialistas consultados para esta matéria, todas as tigelas de fibra moldada contêm PFAS, ou substâncias per e polifluoroalquil, uma ampla classe de mais de 4.000 compostos fluorados que não se biodegradam naturalmente no ambiente. Isso significa que as tigelas usadas em restaurantes como Chipotle e Sweetgreen não são verdadeiramente compostáveis, como já foi afirmado. Em vez disso, eles provavelmente estão tornando o composto mais tóxico, aumentando a carga química do próprio solo e da água que deveriam ajudar a melhorar. E, em vez de se degradarem rapidamente, eles contêm ingredientes potencialmente perigosos que nunca se decompõem. Não em cinco anos, nem em 500. Na pressa, poucos perceberam que essas tigelas de fibra vinham com um lado nada saudável com consequências não imaginadas.

A organização The New Food Economy testou estas tigelas de fibra de 14 filiais de 8 restaurantes diferentes da cidade de Nova York, incluindo vários postos avançados da Chipotle, Dig Inn (que desde então mudou seu nome –changed its name– para Dig) e Sweetgreen. Todas as amostras testadas continham altos níveis de flúor, que segundo especialistas, incluindo o professor Graham Peaslee, da Universidade de Notre Dame, que conduziram o teste, indicaram ter um tratamento com compostos PFAS. Esses compostos poderosos são o que permite que essas tigelas retenham alimentos quentes, úmidos e gordurosos, o que as destruiriam rapidamente qualquer produto de papel não tratado. Os PFAS são aquilo que evita que o nosso almoço caia no nosso colo (nt.: destaque dado pela tradução).

As implicações para a deste achado ainda não estão bem claras. As piores substâncias químicas da família do PFAS estão conectadas a uma série de graves resultados para a saúde, desde colites e distúrbios da tireoide até câncer nos rins e testicular. Praticamente toda a família destas substância foi varrida dos EUA. O mais provável é que essas tigelas contenham então, variáveis mais recentes de substâncias da mesma família de químicos que são persistentes no ambiente, gerando grande preocupação para os cientistas. Mesmo que não tenham sido estudadas tão de perto quanto necessário para seus efeitos à saúde.

A descoberta de que as tigelas de fibra contêm PFAS, o que não havia sido até agora relatado, é especialmente surpreendente, uma vez que muitos restaurantes as comercializam explicitamente como compostáveis. A Sweetgreen, por exemplo, usa uma forma publicitária bem destacada para informar seus clientes de que suas tigelas “são à base de plantas, o que significa que elas são compostáveis, junto com qualquer resto de comida”. Recentemente tuitou (tweet), dizendo a um cliente curioso que todos seus recipientes são “100% compostáveis!”

Joe Fassler bio
Joe Fassler – é editor de projetos da The New Food Economy. Suas reportagem sobre segurança alimentar e saúde pública, foram finalistas, por duas vezes, do Prêmio de Jornalismo da Fundação James Beard/2011 e 2018 (James Beard Foundation Award in Journalism/2011 and 2018). Contato no Twitter at @joefassler ou por email [email protected].

Tradução livre de Luiz Jacques Saldanha, outubro de 2019.