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ClimaInfo
03 de abril de 2023.
O aumento da temperatura global, provocado pelas crescentes emissões de gases de efeito estufa, vem acelerando o derretimento do gelo marinho na Antártica – que em janeiro registrou sua menor extensão na história. Agora, uma pesquisa de cientistas australianos publicada na Nature mostra que esse gelo derretido poderá causar uma rápida desaceleração de correntes oceânicas profundas até 2050, alterando o clima do mundo por séculos e acelerando o aumento do nível do mar.
Se o derretimento antártico continuar nos níveis atuais, a circulação oceânica abissal, abaixo de 4.000 metros de profundidade, poderá diminuir em 40% em apenas três décadas, segundo o Guardian, gerando uma cascata de efeitos perversos. Além de aumentar o nível do mar, a desaceleração dessas correntes pode mudar os padrões climáticos globais e reduzir os nutrientes dos oceanos, impactando a vida marinha.
“Sabemos que os nutrientes exportados do oceano Antártico em outros sistemas atuais sustentam cerca de três quartos da produção global de fitoplâncton, a base da cadeia alimentar”, disse à CNN um dos autores da pesquisa, Steve Rintoul, da Commonwealth Scientific and Industrial Research Organization da Austrália e da Australian Antarctic Program Partnership.
Centenas de trilhões de toneladas de água salgada densa afundam no oceano no entorno da Antártica todos os anos. É uma água rica em nutrientes, graças à deterioração da matéria animal que afunda com ela. As correntes oceânicas profundas transportam esse material para os oceanos Atlântico, Pacífico e Índico. Esse processo, porém, está sendo alterado pela água derretida, explica a Cosmos.
Estudos anteriores analisaram o que poderia acontecer com circulação similar no Atlântico Norte (nota do website: conhecida como a ‘corrente do Golfo’ ou ‘gulf stream’, sendo o que aquece a Europa até a Noruega, diferente do outro lado do Atlântico com o Canadá e Groelândia) – o mecanismo por trás do cenário de “juízo final”, no qual a Europa sofreria com a mudança no transporte de calor no Ártico. Entretanto, pouco se sabia sobre a circulação em águas profundas da Antártica.
“São enormes volumes de água (…) e são pedaços do oceano que permaneceram estáveis por muito tempo”, disse à Reuters outro autor do estudo, Matthew England, oceanógrafo da Universidade de New South Wales, na Austrália. Assim, a água doce do gelo derretido da Antártica entra no oceano, reduz a salinidade e a densidade da água da superfície e diminui o fluxo descendente para o fundo do mar.
“No passado, essas circulações levaram mais de 1.000 anos para mudar, mas isso está acontecendo em apenas algumas décadas. É muito mais rápido do que pensávamos que essas circulações poderiam diminuir. Estamos falando sobre a possível extinção a longo prazo de uma massa de água icônica”, reforça England.