Pesquisas sobre os efeitos dos ftalatos sobre a libido feminina têm rendido algumas manchetes muito estranhas. Testemunha a matéria “Patinhos de borracha podem matar seu impulso sexual” do Daily Telegraph (“Rubber ducks can kill your sex drive”). Aparentemente, cortinas de chuveiro de plástico – o tema ‘banho’ é mera coincidência – também estão sendo consideradas culpadas. Estas, juntamente com inúmeros outros itens domésticos, contêm ftalatos (nt.: em inglês os phthalates são pronunciados como ‘THALates‘), um grupo de substâncias químicas normalmente inseridas nas resinas plásticas (nt.: tecnicamente são conhecidas como plastificantes), a fim de lhes aumentar sua flexibilidade.
http://www.theguardian.com/lifeandstyle/shortcuts/2014/oct/21/how-household-plastics-could-ruin-your-sex-life-phthalates
Ftalatos são encontrados em numerosos items em nossas casas e até em embalagens de alimentos. Assim há uma preocupação de que estejam conectados, entre outras coisas, ao decréscimo da libido em mulheres.
Estará nossa vida sexual sob ameaça em razão dos plásticos que estão ao nosso redor? Fotografia: composição do Guardian.
Paula Cocozza, 21 Outubro de 2014.
O problema da libido é melhor não ser dirigido ao ‘sex toy‘, mesmo que em muitos deles esteja assegurado de que contêm ftalatos também. Na verdade, os ftalatos – existem cerca de 25 deles – proliferam na vida diária dos dias de hoje, e de tal forma que estão presentes inclusive no revestimento entérico (nt.: técnica que impede que as cápsulas dos medicamentos se dissolvam no estômago) de alguns comprimidos. (No ano passado, a União Europeia – European Medicines Agency/EMA, publicou um guia de orientação [draft guideline/pdf] sobre os ftalatos em produtos médicos). (nt.: no documentário feito pela tevê canadense, CBC, no link – https://nossofuturoroubado.com.br/homens-em-extincao-documentario-legendado/ -, mostra a preocupação do uso de tubos e catéteres de PVC na UTI infantil, como nos filmes plásticos das embalagens, altamente contaminados por ftalatos).
O último estudo, liderado para Dra. Emily Barrett da Universidade de Rochester no estado de Nova York, foi apresentado em outubro deste ano em curso (nt.: 2014) junto à Conferência Anual da Sociedade Norte Americana de Medicina Reprodutiva ( American Society for Reproductive Medicine), em Honolulu. Barrett mediu os níveis de ftalatos na urina de 360 mulheres grávidas. Ela coletou evidências posteriores em entrevistas, inquirindo às mesmas mulheres o quanto havia de perda de interesse no sexo nos meses que antecediam às suas gravidezes. Solicitar que as pessoas expressem publicamente lembranças de seus sentimentos depois de vários meses talvez não seja um método de pesquisa muito eficaz. No entanto, cada uma das 360 mulheres mostraram traços de ftalatos em suas urinas. Aquelas que tinham maiores quantidades tinham duas e meia mais vezes possibilidades de ter menos libido do que aquelas como menos.
O trabalho de Barrett focou somente mulheres, embora pesquisa anterior feito pela mesma universidade (publicado em 2009) explorou a conexão entre os ftalatos e a “feminização” de meninos (“feminisation” of boys). Outros estudos têm mostrado possíveis conexões à baixa contagem de espermatozoides, início precoce da puberdade (que podem aumentar o risco de câncer de mama) e diabetes. Os pequenos e aqueles em formação são os grupos particularmente vulneráveis. Os ftalatos podem atravessar a placenta humana. No mês de setembro passado (nt.: 2014) (last month), pesquisadores da Universidade Columbia de Nova York publicaram um estudo – de novo de uma pequena amostra – que conecta asma a altos níveis de ftalatos no útero e na infância. Antes deste trabalho, uma pesquisa maior (larger study) detectou uma ligação entre os ftalatos e baixa pressão arterial. Alguns ftalatos geram disfunções hormonais.
Talvez os ftalatos sejam os novos parabenos (nt.: para se saber o que são estas substâncias, ver – https://nossofuturoroubado.com.br/jj-remove-alguns-quimicos-dos-produtos-infantis-e-outros-produtos/). Em agosto último, eles detectaram em algumas marcas de acessórios e braceletes jovens chamados de ‘loom band charms‘ (loom band charms), feitos de elásticos plásticos. E eles certamente se proliferam por outros lugares, encontrados durante a última década em massa de modelar, pisos de vinil, esmalte de unhas, produtos de limpeza doméstica, estojos estudantil de lápis e canetas, garrafas de plástico flexíveis, chinelos ‘clogs’, capas de chuva, bolsos para transfusão de sangue, poeiras e o ar dos interiores e, no caso de o ftalato DEHP em particular, a embalagens de alimentos. O grupo governamental norte americano sobre toxicidade concluiu que não há riscos para a saúde humana só pela exposição alimentar. No entanto, diz um porta-voz da Food Standards Authority (nt.: Autoridade de Padrões Alimentares): “há regras rígidas estabelecidas na legislação europeia em torno de como os ftalatos são usados em plásticos em contacto com alimentos, especialmente aqueles destinados ao uso para bebês e crianças pequenas. A rotulagem é também necessária para que os consumidores possam ser alertados quanto a restrições particulares, por exemplo: evitar utilização em alimentos gordurosos” (nt.: RESSALVA – todos os produtos brasileiros de consumo cotidiano, disponíveis em supermercados, como queijos, embutidos e outros gordurosos, são embalados com filmes de PVC riquíssimos em ftalatos).
Filme plástico … um fato de saúde pública ou não? Fotografia: Photocuisine / Alamy/Alamy
O emprego de ftalatos está sujeito a restrições na União Europeia, mas esta é uma área que tanto há mudanças nas pesquisas como nas regulamentações. Neste meio tempo, muito cuidado e muita calma com o ‘patinho de borracha’.
O patinho de plástico pode matar seu desejo sexual, descobre a pesquisa.
http://www.telegraph.co.uk/news/health/news/11174548/Rubber-ducks-can-kill-your-sex-drive-research-finds.html
Patinhos de plástico, cortinas de chuveiros e ‘fast food‘ podem estar impedindo as mulheres de se tornarem mães em razão destes produtos conterem químicos que danificam as relações sexuais, como sugere uma nova pesquisa.
As mulheres com altas concentrações de “ftalatos” em seus corpos – substâncias químicas usadas para tornar as resinas plásticas mais flexíveis – foram muito mais propensas a sofrerem de baixa libido, detectaram os pesquisadores. Aquelas com mais quantidade deste químico em seus sistemas orgânicos demonstravam que frequentemente perdiam o interesse pelo sexo, enquanto aquelas com menores níveis reportavam não ter problemas.
Os ftalatos geram disfunções hormonais e já são conhecidos afetar a função sexual em homens. Mas esta foi a primeira vez que se constata a conexão ter sido feita com mulheres. “Ftalatos são substâncias químicas presentes em resinas plásticas e que as tornam mais macias”, diz a Dra. Emily Barrett, da Escola de Medicina da Universidade de Rochester, em New York.
“Aprendemos que os ftalatos são disruptores endócrinos, ou seja, interferem com a normalidade hormonal dos organismos – a testosterona e agem também como se fossem estrogênios, homônio feminino.”
“E sabemos que tanto a testosterona como o estrogênio são realmente importantes para muitas atividades orgânicas, incluindo a libido. Por isso, estávamos interessados em observar mulheres que tinham altos níveis destes químicos em seus organismos e que tenham a perda de interesse em sexo”.
Os ftalatos não ficam quimicamente integrados às moléculas dos plásticos (nt.: como plastificantes), ficam aderidos somente. Por isso, continuam com as condições de estarem continuamente lixiviando do produtos e, desta forma, liberando-se para o ar, o alimento ou mesmo para o líquido com o qual mantêm contato. Plásticos flexíveis tendem a endurecer e tornarem-se quebradiços com o passar do tempo porque os ftalatos acabam sendo todos lixiviados.
A Dra. Barrett mediu os níveis de ftalatos na urina de 360 mulheres grávidas entre seus 20s e 30s anos e perguntou-lhes quantas vezes elas haviam se desinteressado de fazer sexo nos meses que antecederam suas gravidezes.
Aquelas com maiores quantidades de ftalatos foram duas e meia vezes àquelas que tiveram menor libido do que as que tinham menos. Ela recomendou que as mulheres que estivessem tentando ficar grávidas deveriam evitar alimentos processados além do ‘fast food‘, já que quanto mais processados são os alimentos mais chances que eles tenham entrado em contato com estes químicos.
Alimentos orgânicos e sem embalagens (nt.: dramaticamente, os alimentos orgânicos no Brasil são fortemente embalados com bandeja isopor e filme de PVC!!) também apresentam possibilidades de conterem menos ftalatos.
“É interessante porque estes são químicos que estamos sendo expostos todos os dias”, acrescenta a Dra. Barrett.
“Eles estão por todo o nosso ambiente e cada pessoa estudada mostra ter quantidades mensuráveis deles. Assim, mesmo nos níveis detectados no ambiente a cada momento, vemos uma associação com o interesse sexual. Baixa libido pode cobrar seu preço tanto nos relacionamentos como no bem estar pessoal. Para um bom número de mulheres com baixa da libido não havendo razões óbvias do porquê sendo muito importante saber quais destes químicos podem interferir neste processo”.
A Dra. Barrett disse que ela tentou evitar ‘fast food‘ quando estava grávida devido a sua preocupação de que as substâncias químicas presente nele pudessem prejudicar seu bebê em gestação e por isso disse: “A fonte mais importante de alguns ftalatos é o alimento. Avaliamos de que quanto mais processado o alimento é, mais possibilidades de ter estes químicos presentes. Uma das recomendações que se pode fazer para ter potencialmente menores contaminações é comer alimentos menos processados bem como alimentos frescos sem embalamentos. Os alimentos orgânicos são provavelmente melhores (nt.: desde que não seja no mercado do Brasil!) em razão de se empregar também os ftalatos algumas vezes na formulação de certos agrotóxicos. No entanto, nunca poderemos estar complemente fora da eliminação dos ftalatos de nossa vida a não ser que se mude as políticas da regulamentação destas substâncias químicas”.
Um porta voz da ‘Chemical Industries Association‘ (nt.: Associação das Indústrias Químicas), a organização que lidera os negócios das indústrias químicas no Reino Unido, diz que não se contata evidências de que os ftalatos possam prejudicar o desejo sexual.
“Não estamos a par de nenhuma análise globalmente aceita que já possa medir os efeitos da exposição química que tenham sobre a libido, mas este é um interessante campo de trabalho”, acrescentam eles.
Neste meio tempo, especialistas dizem que as indústrias poderiam parar de utilizar estes químicos.
A Dra. Rebecca Sokol, presidente da ‘American Society for Reproductive Medicine‘ (nt.: Sociedade Norte Americana de Medicina Reprodutiva) disse: “a contaminação aos químicos disruptores endócrinos é difícil de se evitar em nossa sociedade. Quanto mais aprendemos sobre os efeitos que eles têm sobre a saúde humana e o processo reprodutivo, mais nós nos damos conta de que necessitamos encontrar meios para nos protegermos deles bem como encontrarmos alternativas para seus usos”. A pesquisa foi apresentada na conferência anual da ‘American Society for Reproductive Medicine‘.
Tradução livre de Luiz Jacques Saldanha, maio de 2015.